sexta-feira

Armadilha

Continuamos absorvidos por algo que nos atormenta, algo que nos bloqueia, algo que nos impede de... Olha-se para a vida da sociedade e da economia e o que se vÊ? Alguns estímulos, de facto. A atracção de investimentos externo parece ter começado a afluir ao burgo; a bolsa já mexe - apesar das nossas bolsas nada valerem. Vê-se alguma confiança ante o mar de desconfiança dos micro-agentes sociais e económicos, que são a maior parte do tecido conjuntivo da sociedade.
Será isto mais uma bolha especulativa, a avaliar pelos sinais do mercado financeiro, feito de máscaras de OPAs e de grandes a querem engolir pequenos; pequenos a não se resignarem e a quererem, por seu turno, comerem os grandes/BPI/BCP; terá isto alguma correspondência com a chamada economia real, aquela que comanda o destino diário da classe média?
Olho para a política e vejo desnorte, descomando, falta de visão para o país - assinalada com a já clássica definição badalada com a falta de convergência com a UE - ela própria em divergência entre si e com o mundo; olho para os partidos políticos e pouco mais se vê senão vaidades pessoas, tricas e intrigas, pessoas sem valor nenhum a "baterem com a porta" fingindo que o mundo cairá com as suas pequenas fugas partidárias. Alguns até querem ser mais notados pelos media através desse expediente: "bater com a porta" e dizer: não acredito neste líder, a "liderança do PSD é frágil", já que as pessoas só acreditam nelas próprias e nos seus interesses a curto prazo. Gestão de carreiras, leia-se.

Há assim um processo geral de bloqueamento na sociedade portuguesa que, qualquer que seja a intensidade do estímulo, do investimento, da confiança - tal impede o desenvolvimento duma reacção. É o que aqui designamos por efeito-armadilha. Não podendo descer mais do que já descemos, pergunta-se como se faz crescer a economia e os níveis de confiança na política? Justamente porque, de todos os meios disponíveis e aplicações de investimento possíveis, os agentes económicos preferem conservar os seus activos em formas líquidas enquanto os políticos, por seu turno, preferem brincar aos congressos vazios de conteúdo que ainda contribuem mais para armadilhar aquele já grave efeito-armadilha - que nos impede de reagir, não obstante os pequenos estímulos.

Por isso, continuamos todos expectantes, como aqueles rastejantes ali de cima. Por um lado, não desejamos cair no buraco e ser decepado por aquele ansioso corta-tesouras de tenazes afiadas; por outro, também não sabemos renascer e mostrar à Europa e ao mundo que estamos vivos.

E como não sabemos fazer isso o Portugal-partidário brinca aos congressos e aos estatutos, nem que seja para saber que se o dr. Filipe Meneses tem mais 3 cm de altura do que o dr. M. Mendes. Convinha lembrar aqui ao dr. Lopes e seus testas-de-ferro que nestes momentos aparecem sempre a parasitar o PSD, que Sá Carneiro também era baixote... Mas ele anda por aí mais preocupado com o Audi do que com Portugal. O filme repete-se, agora com novos personagens e novas máscaras.