quarta-feira

A carta "assassina" de Vicente a Augusto, o ministro dos Assuntos

Carta aberta ao ministro dos Assuntos Parlamentares Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Vicente Jorge Silva Jornalista Caro Augusto Santos Silva, Começo por lembrar o apreço intelectual que tenho por ti e a cumplicidade e amizade que criámos durante o breve tempo em que partilhei contigo o estatuto de deputado. Surpreendeste-me, aliás, na legislatura anterior, como o mais sagaz e combativo dos deputados socialistas. Mas exactamente por isso não ficaria bem comigo mesmo se não te exprimisse agora a minha decepção e o meu desencanto, não por estar em desacordo com algumas das tuas recentes posições - o que seria, de resto, natural e altamente saudável - mas porque não revejo nelas a pessoa que conheci e me habituei a estimar. Gostaria, sinceramente, de não me ter enganado a teu respeito, mas quando te oiço ou leio a dar laboriosas explicações sobre os excelentes e inocentíssimos propósitos da nova entidade reguladora dos media, a ERC, pergunto-me qual de nós se terá equivocado: se eu, por excesso de candura, se tu, por excesso de cinismo político. O mais provável, vendo bem as coisas, é que nos equivocámos os dois, mas esse equívoco tem um preço amargo e com custos para a nossa amizade. É certo que nunca conseguiste esconder a atracção que o exercício do poder exercia sobre ti, a ponto de levar-te a adoptar atitudes de conveniência e manobrismo político que não traduzem o fundo daquilo em que acreditas. Mas, precisamente, nunca te mostraste convincente, credível e eficaz nesse papel, em especial quando foste ministro da Cultura do último Governo de Guterres e, nessa qualidade, te sujeitaste a ser instrumento da vocação manipuladora do teu colega José Sócrates relativamente à RTP. Mais tarde, tiveste a oportunidade de dar a mão à palmatória, reconduzindo a administração da RTP escolhida pelo Governo de Durão Barroso e que pusera em causa opções e resultados dos quais foste um dos responsáveis. Isso só te dignificou - e permitiu, aliás, encarar as relações do poder político com os media de uma forma menos crispada, menos partidarizada e mais adulta. Pois é exactamente isso que agora volta a estar em xeque. Falei das laboriosas explicações a que tens recorrido a propósito da ERC. Ora, o excesso de explicações é sempre suspeito, sobretudo em matérias onde deveriam prevalecer a clareza e a transparência, como são aquelas que se referem ao exercício das liberdades. Não está decerto em causa a necessidade de regulação dos media, perante a sua demonstrada incapacidade de se auto-regularem, designadamente os media audiovisuais tão permeáveis à lei da selva. Mas uma coisa é a actividade reguladora desempenhada por uma entidade acima de toda a suspeita e outra coisa bem diferente é criar uma ERC com competências dúbias e obscuras, formada num ambiente politicamente opaco e com base em critérios de escolha (não apenas do seu presidente como também dos restantes membros) que nos remetem para as piores práticas do arranjismo e clientelismo político-partidário, ainda por cima escudadas no álibi hipócrita da legitimidade parlamentar. Se juntarmos a isto as nebulosas prescrições do Código Penal sobre o "crime de perigo" ou as cláusulas ínvias sobre o "sigilo das fontes", é lícito perguntar se o poder político não está a utilizar a reconhecida necessidade de regulação dos media como um pretexto grosseiro para a sua domesticação. É curioso que um Governo tão refractário aos chamados "pactos de regime", mesmo em áreas onde eles seriam porventura desejáveis, tenha chegado com tanta facilidade a um "pacto de regime" secreto (embora despudorado) com o maior partido de oposição sobre a "regulação" (ou o controlo?) da comunicação social. Embora deteste invocar o meu passado de jornalista como argumento de autoridade, creio que rigorosamente ninguém me poderá acusar de complacência corporativa com a degradação dos padrões éticos e deontológicos da profissão. O que se passa, porém, é que, em vez de contribuir para combater essa deriva, o Governo de que fazes parte - e onde tens uma decisiva responsabilidade política nesta matéria - está precisamente a criar uma caixa de pandora que só favorece a promiscuidade crescente entre o poder político e os media. Recordar-te-ás que, quando estive contigo no parlamento, tentei promover sem sucesso um amplo debate no PS sobre as relações entre o poder político e o poder mediático. A incompreensão e o cinismo acabaram por prevalecer, confortando as velhas convicções de que os "bons jornalistas" são aqueles que são politicamente dóceis para nós e agressivos para os demais. Será que tu, caro Augusto, também te rendeste definitivamente a estas socráticas evidências?
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  • Confesso que esta questão da Liberdade de imprensa e conexos - que levou os novos "pides" à redacção dum tablóide confiscando o seu equipamento informático - não lembra o careca. Se a marosca fosse no Expresso já o juíz que deu a injunção estaria do Alto de S. João da majistratura portuguesa. Trata-se duma questão deveria ser amplamente discutida em Portugal. Depois clarificadas as regras do jogo da tal Autoridade presidida por uma jurista que está "acima de qualquer suspeita", mas que discorda do estatuto que suposta deve fazer observar. Este argumento é duma beleza igualmente suspeita, até porque o homem (em abstracto) - qualquer que ele seja, é um grande filho da p..., como há dias foi recordado por um escritor espanhol que agora anda nas bocas do mundo. Ele mais a suas reportagens de guerra, é claro!!! Pelo caminho faz mais uns negócios e vende mais uns livritos. Eu disse o homem in abstracto
  • Mas o ponto que quero salientar, até porque estes detalhes são filigranas que me escapam e são opacos por natureza, e do debate do Prós & Contras de há dias o prof. Azeredo Lopes meteu os pés pelas mãos, e não era um "jurista banal" - fora se fosse... Malgré tout, só conseguiu demonstrar uma coisa: que aceitou presidir a uma autoridade de regulação cujo de estatuto discorda. Brilhante. É o que faz as pessoas quererem ser especialistas em tudo. E depois irrompem por aí uns blogs com centenas de links, e por isso se acham portadores do efeito pulido valente com escapes duplos e cabeça rebaixada, verberando o seguinte: mas o sr. prof. Azeredo é um "jurista acima de qualquer suspeita", ele está acima de qqr suspeita, ele está acima.... Bom, a minha avó também, só que não era jurista e já morreu.
  • Mas o que desejaria dizer a esses cromos do efémero, que têm a mania e fazem da pretensão intelectual e da soberba a sua lei(sita) de vida, é uma simples evocação do aristocrata e igualmente cagão - que foi o Eça de Queiróz no seu Fradique Mendes. E se o recordo aqui é, únicamente, por causa desta carta tão intelignetemente escrita quanto assassina, dirigida pelo jornalista Vicente Jorge Silva ao actual ministros dos Assuntos Parlamentares Augusto Santos Silva.
  • Cá vai o Fradique, na esquecida carta a Bento de S., já no seu tempo finamente observava até que ponto as discussões jornalísticas redundavam em escolas de intolerância:
  • "Desde que penetras na batalha nunca poderás admitir que a Razão ou a Justiça ou a Utilidade se encontrem do lado daqueles contra quem descarregas pela manhã a tua metralha silvante de adjectivos e verbos... Tens de sustentar que eles são maléficos, desarrasoados velhacos e vastamente merecem o chumbo com que os trespassas...
  • Diria, como leigo, mas também acima de qualquer suspeita, pois nunca roubei nada, senão rebuçados e chocolates em puto, que esta discussão exige mais sentido de responsabilidade de quem o trava e a maturidade cívica do público que o segue e julga. Ainda que o público nem sempre esteja "acima de qualquer suspeita", como o prof. Azeredo Lopes - alvo daquele míssil vicentiano.
  • Será que o ministro vai ripostar convidando o amigo Jorge para um jantar no hotel Altis.., paga o Vicente!!! Com amigos destes não vale a pena ter inimigos.