A lógica dos congressos partidários e o síndrome da autodestruição
Os momentos prévios aos congressos são sempre animados por muita cor, som, música e espectáculo. Por vezes há farturas e a turba pensa que se trata de mais um circo na vila para animar o povo, iludir as crianças e dar ópio a todos - segundo a ideia de que o país vai singrar pelos trilhos da idade da razão, da modernização e do desenvolvimento sustentável, numa aproximação acelerada à Europa - donde tem estado progressivamente arredado. Mas nem sempre essa parafernália de luz & som termina bem. Há carnavais que terminam mal. Não quero com isto dizer que termine com cenas de pugilato, como nos parlamentos asiáticos em que à falta de melhor argumento se recorre ao soco marcial.
- Vem isto a propósito da importância crucial do Congresso do PSD que se avizinha, embora o que aqui se diga seja, grosso modo, transponível para os demais partidos e grupelhos, como é o caso do CDS-PP - teleguiado pelo sr. dr. P. Portas através do seu Sis privativo na AR - que lhe lhe faz o telereporte diário do que de mais parlamentar se passa - enfraquecendo, assim, ainda mais a já débil liderança de Ribeiro de Castro - que tem uma bancada parlamentar hostil e, agora, segundo parece, os caciques locais começam a soltar as suas ienas até ao desgaste final. Daí ao ataque em alcateia será um passo. Cremos que Ribeiro e Castro está a começar a ficar cercado, mas como o partido do táxi é pequeno - será fácil identificar quem vai à frente, quem fica no meio e quem marca a cauda nesta perseguição ao "padrasto" do actual cds-PP.
- Mas vejamos por que razão este próximo congresso do PSD - do qual simpatizo - é também importante para o País. De facto, o actual ambiente estatutário do PSD ao concentrar nos Presidentes das Distritais os poderes de designar e de negociar os candidatos a deputados, aos órgãos autárquicos e demais órgãos, pelouros e tachos na Administração Pública - seja em Empresas municipais ou em Institutos públicos - depósito de cunhas, biscates e biscoitos, é maus sinal. Visto que limita significativamente a vida e autonomia do Partido - que se diz querer abrir as suas estruturas à sociedade civil. Serão isto tretas... Veremos como decorre o congresso e quais as suas conclusões. Até lá impera o realismo cepticista.
- Mas esta é uma guerra antiga, embora cada líder (L.M.Mendes) ou oposição interna (L.F.Meneses - que não passa dum líder de facção nortista com a mania das grandezas) passa, em 1º lugar, pelo chamado controlo das Secções, que mais não são do que um viveiro de gente completamente incompetente porque iletrada - embora demasiado ambiciosa que não faz mais nada do que não seja tudo fazer para se promover, nem que para isso tenha de "matar o pai" - para ganhar um lugar ao sol como vereador duma câmaraou nela encaixado como assessor de qualquer coisa ou de coisa nenhuma. No caso das mulheres esta lógica de ascenção torna-se mais acessível e rápida. Compreende-se porquê... Nas grndes autarquias c'est la même chose, só que de forma mais ampliada. Desse modo, a vida de um partido político, e, portanto, do PsD, do qual me afastei desde que o sr. Barroso começou a tocar stradivarius aos cidadãos que nele confiaram, passa por esta contagem de feijões, com pequenas corruptelas pelo meio e muitas, muitas pastas: umas pretas, outras amarelas, outras liláses outras assim-assim e outras ainda cor-de-burro quando fogem. Por vezes o caldo entorna-se, e eles fogem - ou deveriam fugir - mas é para a cadeia de Campolide. Infelizmente, o pessoal político na hora H acobarda-se, encobre-se e a culpa, para variar, morre solteira. A culpa é do sistema. O sistema é que representa a grande meretriz onde todos foram enfiar as cabeças, por isso todos comungam dos mesmos vícios, hábitos e gostos. O esprit é o de manada, e quem pensa autónomamente e não pôs a cabeça no tal buraco onde todos chafurdaram, é logo visto como um elemento perigoso e pernicioso a abater pelo tal espírito de manada partidária que vê ali um fora de lei.
- É assim que vejo a dinâmica de funcionamento dos partidos políticos em Portugal. A regra é: apoiar A se A apoiar B; depois B - faz o mesmo - e vão assim até ao fim do alfabeto político. Quando este terminar - dão a volta ao bilhar grande, vira o disco e toca o mesmo. Por isso, se eu fosse responsável por uma qualquer dessas estruturas não deveria lá parar mais de duas horas, sob pena de sair a vomitar diante todo aquele lodo humano que por alí vegeta, se submete, se corrompe e tenta corromper outras almas mais ingénuas que só depois descobrem estar a ser instrumentalizadas. É isto a politquice dos partidos que a véspera dos congressos multiplica e agrava.
- Depois vêem as manobras de bastidor que visam impedir o caminho a uns, facilitá-lo a outros e neutralizar uma 3ª frente. Mas como é que isto se resolve, ou melhor, como é que este caldo é caldeado? Chama-se o presidente duma distrital grande e famosa, de preferência liderada por alguém que não tenha nenhuma questão com a justiça ou esteja acusado de corrupção sob várias formas, o que infelizmente não é caso nos últimos tempos dentro do PsD, e pede-se ao sujeito de serviço, que regra geral demorou 8 anos para fazer um curso de direito, a organizar umas jantaradas, inscrever uns militantes, pagar umas quotas, fazer umas promessas de emprego, enfim, prometer o paraíso na terra a fim de que uns quantos lorpas acreditem naquela droga ventilada pelo cacique de serviço. Creio que esta tem sido a prática em Lisboa, apesar de conhecer mal os actores em funcionamento que - em rigor - já não deveriam estar em funções.
- Pois aqui aplica-se a máxima A César o que é de César - e sempre que há qualquer suspeita, mais ou menos fundada, o Presidente do partido deve actuar em conformidade. Neste particular, o actual presidente Luís Marques Mendes deveria levar até ao fim as regras que aplicou em Oeiras e no Norte com o capitão Valentim Loureiro. Mesmo que para o efeito tivesse de "comprar" uma guerra com manuela Ferreira Leite - que tem pela na Distrital de Lx os seus protegidos. Salvo se M. Mendes considerar que uma Distrital nada vale diante uma autarquia - ou vale menos!!!??? Mas julgo que o que aqui está em questão é o princípio e a ética na política que no caso da distrital de Lisboa anda pelas ruas da amargura. E é nestas pequenas coi(sitas) que L. M. Mendes perde coerência, verticalidade e até projecto de continuidade política.
- Provavelmente, um dia algum assessor com formação jurídica, sociológica ou até politológica - ou até um quase-ignorante como eu - lhe terá de dizer um dia: ó dr. Luís olhe que a política tem uma regra(sita) que não deve ser menospreza, faz estragos não a seguir. E essa regra qual é!!! - ... Pergunta o dr. Luís; - e aqui teremos de lhe responder: essa regra diz que a credibilidade é como a virgindade, uma vez perdida nunca mais se obtem. É uma regra que vem nos manuais diplomáticos que entretanto já se desactualizaram.
- Interrogo-me por que razão aqui o Presidente do partido descontinuou a aplicação daquele princípio que dizia seguir para todo o lado. De facto, um partido que se quer responsável e com vocação de poder deve exigir mais, muito mais do que um mestre de cerimónias que organiza jantaradas, promete tachos para "eles" e "elas" a troco da tal política do feijão: ora dás tu, ora dou-te eu - nesta endogamia pretiana e mui shakespeareana que infectou a política partidária portguesa. E como todos os virús também este se afigura nocivo, não porque a cabeça do mal não esteja identificada, mas pelo simples facto de que os clones em curso estão fazendo a sua caminhada, trilhando a sua trajectória, tentando colonizar mais e mais território nesta corrupção de almas que alastrou à sociedade portuguesa. Perante esta realidade decadente e virulógica - Luís Marques Mendes terá de pôr um imediato travão a estas corruptelas politico-partidárias que vivem desta sabujice organizativa e jantaróide permanente - condimentada com milhares de telefonemas às pessoas para irem a jantares pagos e muitas promessas dolosas que transformam a política numa actividade meramente corruptiva em que se transaciona cheques, favores entre outros trade-ofs que fazem o quotidiano da vida partidária em Portugal.
- Ora isto, infelizmente, também faz parte da bandalheira geral em que se transformou a lógica aparelhística e partidária no país.
- Mas mudar estas regras estatutárias, mudar estes brandos costumes é estar a mexer na cabeça da serpente, por isso tudo fica(rá) como dantes quartel-geral em Abrantes. Assim, pode-se continuar a usufruir das vantagens da política, dominar regras e benefícios por se estar à frente da vida dos partidos, escolher os deputados, os autarcas, os tais tachos e biscates na Ad. Pública e Institutos púbicos e o mais.
- É por isso, como disse, que a política partidária em Portugal me causa vómitos, enoja de per si, e em vez de atrair pessoas com algum saber, qualificações e capacidade só repele os melhores que jamais se sujeitarão a tamanho lodo que hoje emana dessas secções de voto, puros antros de maledicência politiqueira que amplificam e se reproduzem como ninhos de cobras. Confesso que me aflige ver miúdos de 19/20 anos já com os tiques dos homens da pasta; aflige-me ver gente pouco mais do que adolescentes com tiques de parkinson político, tamanho é o mal que a política partidária faz às pessoas que pretendem a todo o custo singrar por essa via da ascenção social através do corrimão partidário. E são às centenas, aos milhares... Depois é o país real que vai ser o depósito dessa lixeira política. Os resultados da nossa produtividade e competitividade estão à vista. Os nossos indicadores de desenvolvimento humano - comparativamente aos indicadores similares da Europa onde supostamente deveríamos estar a convergir, também estão à vista.
- Julgo que a política não é isto. Qualquer líder partidário, se quiser ter o meu voto, terá de dar sinais inequívocos que jamais cumpliciará com estas pretices da política-partidária à portuguesa. Que em última, instância também beneficiam o chefe, uma vez que este também é eleito através destas jogadas mais ou menos obscuras.
- E assim marcha o partido. O partido que quer ser poder em Portugal daqui por três anos. Refiro-me ao PSD, com a agravante de que sobre os ombros deste putativo líder da oposição - e futuro PM - vá também aquela cambada de lorpas que estiveram a parasitar o partido por aqueles mesmos métodos e técnicas que todos nós mais ou menos conhecemos.
- São os famosos boys. Neste caso, trata-se de boys de pé-de-escalço - que ambicionam muito mas nada sabem fazer, e alguns nem falar sabem. Ora é esta gente, gentinha que contribui decisivamente para descredibilizar a vida dos partidos e a vida política em geral em Portugal. É isto que cabe ao actual líder do partido impedir. Sob pena de afastar cada vez mais dos partidos aqueles que podem dar uma ajuda decisiva ao partido e ao país.
- Para esse efeito, será necessário a tão desejada mudança de estatutos do Partido. Sem ela a mudança destes velhos e doentes hábitos não se opera nem se expurgam as suas corruptelas. E assim serão de novo os velhos caciques - corruptos que gozando da cumplicidade aparelhística da máquina partidária igualmente corrupta - a proteger os desvios, a promover a banditagem partidária que vem tomando de assalto as estruturas politico-partidárias no país.
- Será que é assim que se melhora a qualidade da política e dos políticos em Portugal?
- Será assim que se abre o partido ao exterior?
- Será assim que se concebem as melhores linhas políticas e soluções para o país?
- Será assim que se responsabiliza publicamente o candidato a uma área/círculo eleitoral?
- Cremos que não.
- Não inverter nada neste congresso é manter tudo como está. Excusado será dizer que nada será pior do que manter o satus quo - para continuar a alimentar as clientelas corruptoras do costume.
- Confesso que neste caso não sei se valerá ter esperança para voltar a ter esperança. É que depois de já termos visto tantos bácaros a andar de bicicleta já acredito em tudo. Infelizmente a teoria geral que aqui denunciámos num partido está generalizada nos demais partidos que integram o sistema político português. Talvez no PCP a coisa só se saiba volvidos uns meses, dado o ainda método do segredo soviético que campeia no meio daquela pseudo-democracia dos sovietes já desmascarada pela história e penalisada pela economia.
- Tudo visto e somado diria o seguinte: Marques Mendes tem um duplo desafio neste congresso: por um lado, terá de credibilizar-se internamente, o que supõe limitar o espaço de alguns opositores domésticos, como L.F. Meneses - que não tem dimensão nacional não passando, por isso, de um chefe de banda com audição na Sic que lhe dá a ilusão que ele é um líder nacional. Não é. Por outro lado, Marques Mendes terá de ser mais criativo a gerar alternativas, designadamente em matéria de desenho de políticas públicas a fim de mostrar ao país real que ali está um pequeno grande Napoeão à portuguesa em quem os portugueses poderão confiar. Tanto mais agora com o seu amigo Aníbal a dar cartas em Belém.
- Mas para isso o que terá de fazer Marques Mendes neste congresso? Terá, certamente, de por fim às corruptelas que existem dentro do partido por essas distritais, secções fora que têm manchado a credibilidade do partido ao nível das bases, e que faz com que o cidadão comum olhe para os políticos, para os políticos, todos os políticos - como os homens da mala lilás que em lugar de levar ideias, documentos e políticas públicas para beneficiar o país - modernizando-o e desenvolvendo-o - apenas transporta luvas cinzentas, cheques, promessas, cadernos de encargo para-políticos entre muitas outras notas de corrupção que deveriam ser imediatamente saneadas da nossa vida político- partidária e da vida pública que, na linha do discurso de investidura de Cavaco, será o maior dos contributos nessa luta anti-corrupção que mina a vida dos partidos e a saúde da sociedade e da economia em geral.
- Com um apoio deste calibre, não sei, de facto, do que M. Mendes está à espera? Das duas uma: ou revela força, coragem e determinação para rachar o madeiro da corrupção que está minando o partido afastando-o progressivamente da sociedade; ou fica de novo refém dele, auto-destruíndo-se pelo efeito desse síndrome complexo que campeia na sociedade portugues. É aí, novamente, que se abre caminho para a lógica aparelhística e corruptora das jantaradas - manter o seu status e funções assustando até, porventura, aquelas almas mais ocultas e esotéricas que, por erro e ingenuidade, caíram naquelas águas turvas ou turvas águas.
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