O retrato de Sampaio: as minhas 10 razões...
O Expresso coloca o retrato de Sampaio, e a enfeitar a moldura, tentando remediar o mal matricial do pecado original que remonta a 1996, abriu a antena de molde a que umas pessoas mui garbosas da nossa praça comentassem aquele pedaço de arte de Paula Rego, de quem não sou admirador. Aqui sigo a grande escritora Agustina Bessa Luís - que já deveria ter sido nobilizada há decadas, em vez daquele senhor Zaramago que passa a vida a prostituir a gramática com argumentos e narrativas copiados das regurgitações anglo-saxónicas da década de 70 e 80.
- Aliás, eu sou um "grunho" em matéria de arte. Por outras palavras, em matéria de A-R-T-E eu só sei soletrar a palavra, e o mais nada sei, salvo que falo com eles.
- Ainda assim, e como o risco é baixo, deixo aqui um conjunto de baboseiras sobre a baboseira-mor, ié, a ideia que um dia teve o dr. Sampaio de vir a ser PR deste país. E conseguiu. É mais um milagre para colar aos muitos que hoje Fátima colecciona, e daí se fazem muitos negócios com estátuas, estatuetas e outros icones que reportam à simbologia cristão ou crística.
- Assim, para entrada elegemos aqui o comentário com que mais nos identificamos, o de Agustina. Ora vejam... Segue a azul como a sua mente imaginativa e hiper-criativa.
Eu não sou grande admiradora da Paula Rego. Acho que os sapatos estão muito bem pintados. No entanto, julgo que não captou a expressão do Presidente, porque ele tem uma expressão que é uma constante nele - um certo sorriso entre o tímido e o irónico. E não está de todo. Está um homem carrancudo que ele não é. O retrato exige tudo isso, não são só as feições, não é só o talento do próprio artista que conta. Pintar obedece a regras, de retratar o que é a pessoa. E nisso falhou.
- Mas eu que sou um "labrego", pior, diria mesmo um "saloio" - em matéria de arte e de comentário dela - também deixamos aqui uma opinião, por mais modesta que seja. Pois se temos expendido aqui tantas sobre a figura a que a moldura diz respeito, - também, por maioria de razão, deveremos nutrir alguns resíduos sobre este fragmento artístico que enquadra o conteúdo da forma, se é que existe alguma dessas coisas naquela arte.
Ainda assim, direi o que penso em 10 notas:
- 1) Tentando valorizar o esforço artístico da senhora Paula Rego (PR) digo que quando vemos muita pintura abstracta que anda por aí, devemos supor que afinal as coisas não estão tão mal como as pintam. De facto, e em homenagem à VERDADE dos factos, a pintura está muito melhor do que a natureza do mandato político a que aquela se reporta;
- 2) Uma segunda apreciação de Paula Rego - remete-me para a Vénus de Milo para dizer o seguinte: ela não era uma mulher para cruzar os braços, e quando os descruzava tendia a cair do cavalete e a fazer uma borrada ainda maior;
- 3) Já Picasso, diga-se en passent, quando pintou o famoso Guernica não o fez durante as horas de trabalho, mas sim durante um biscate. Há mesmo quem diga que foi no intervalo duma conversa mais horizontal que tinha a sua amante. Não o sabemos. Os gatos também não falam...
- 4) Olhando para a obra de PR uma outra deriva me assalta o espírito: será que ela teve semelhante inspiração à de Miguel Ângelo - quando este pintava a Capela Sistina??? É que há quem diga que o fez pensando que estava a pintar o quarto da mãe, que vivia ali ao lado;
- 5) Em quinto lugar - ao ver esta obra de PR sobre as formas de Sampaio - que ficaram objectiva e artisticamente penalizadas - apesar de o original também não ajudar muito, lembrei-me também do grande mestre que foi Van Gogh que, a dada altura, deixou de dar ouvidos a toda a gente. É sabido que lhe cortaram um deles, mas tinha um de sobra. Aqui, no caso vertente da srª P.Rego - chego mesmo a pensar que ela pintou não apenas de ouvidos tapados, mas também de olhos fechados;
- 6) Em sexto lugar gostaria de dizer que, nitidamente, desgosto desta pintura. E isto não se prende com o facto de ter achado que o mandato de Sampaio foi profundamente negativo, apesar de toda aquela emoção. Desgosto da pintura pelo facto de saber, apesar de, como disse, ser um "saloio" nestas lides artísticas - que um desenho pode ser feito em tamanho natural, já um mapa não deverá valer a pena. Creio mesmo que nem Portugal é tão grande. E agora, ao longos destes últimos 10 anos - ainda ficou pior, ié, mais pequeno, minorca, microscópico...
- 7) Julgo que qualquer estagiário da António Arroio com umas bujecas no bucho e umas passas na tola faria muito melhor, a PR que me perdoe a franqueza;
- 8) Em oitavo lugar, sempre aprendi - pelo menos em socialogia da arte - que qualquer Obra se deve saber explicar a si própria. E esta, confesso, só baralha. A tal ponto de um amigo meu que sabe desta arte, me ter ligado e feito o seguinte comentário: "olha pá, aquilo é tão-mau tão mau, que eu chego a pensar que foi o Sampaio que se pintou a ele próprio; ou então foi ele que pintou a Paula Rego, e, agora, quem irrompe na tela não é nem u nem outro, mas a mulher dele, a srª dona Rita...
- 9) Espero que - daqui por uns anos - quando fizerem as obras de ampliação - não se lembrem de ampliar o feito, senão temos de invadir Espanha só para albergar o retrato, eu ía-lhe chamar o mausuléu de Campolide...
- 10) Por último, direi o seguinte - que vale tanto para a autora como para o visado: os pintores indecisos são aqueles que pior dominam o claro e o escuro, mas - na linha do comentário de Agustina, confesso que apreciei os sapatos.
- Como se vê sou pouco sensível a este retrato. E a verdade é que certos pintores praticam a técnica da miniatura, que julguei bem mais apropriada neste caso, mas a P. Rego - como tem a mania das grandezas lembrou-se de exagerar, e o resultado está à vista.
- Quero aqui agradecer ao amigo Carlos Francisco que teve a gentileza de me alertar para o link, que, por acaso, já havia recebido ontem de um amigo que é escultor-pintor e, nas horas livres, farmaceutico. Mas também é mecânico aos fins-de-semana e arranca dentes aos feriados de carnaval. Ninguém leva a mal... Acho que é também assim que deveremos olhar para esta representação hiper-realista de P.Rego.
- Tudo visto e somado: não gostei. Acho que a P.Rego tratou deveras mal o PR de Portugal. Por isso, acho que a senhora deveria reformular a boneco, tentar utilizar outras cores, sombras e sombreados. Talvez, meter mais tons-pastel (ou mesmo os pastéis de nata)... Mas admito que nestes casos os artistas sejam uma outra espécie de espelhos.
- PS: agradecemos ao Expresso ter metido aqui esta peça. É preciso ter coragem. Muita coragem...
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