E se, de súbito, falássemos (todos) Verdade
Ontem quando Cavaco Silva colar(ava) o pescoço de Sampaio com mais uma representação simbólica própria da democracia, lembrei-me filosóficamente de perguntar: e se, de súbito, os portugueses, as pessoas em geral, na política, na sociedade, em casa, na dispensa, no WC, na cama - wherever - começassem por falar verdade umas com as outras? O que poderia acontecer?
- Desde logo, aquele colar talvez não servisse para ornar, mas para asfixiar. Mas aqui a doutrina divide-se, e o propósito deste post não é pôr 2% dos tugas a chorar, que são os amigos e familiares de Sampaio. O objectivo é determinar por que razão as pessoas abusam da faculdade de omitir a verdade umas às outras. Marcelo na RTP é o paradigma negativo dessa ocultação, deveria ser multado com a pena máxima da verdade, e durante um ano deveria só falar verdade. Doutro modo, deveria automáticamente começar a crescer-lhe o nariz, como o Pinóquio.
- Se é a busca da verdade que dá um sentido e uma essência às nossas vidas porque razão, mormente na política - onde o pico das representações dispara, passamos a vida a contorná-la, gabando-nos em privado dessa perícia saloia? E não me refiro aqui em fugir ao fisco do Estado, o maior dos caloteiros. Refiro-me à nossa própria conduta para com o nosso semelhante. Por vezes, até para nós prórpios.
- E se Cavaco - a dada altura daquela mise em scéne colaral - pudesse dizer o que lhe ia na alma sem ser punido por isso(??); o que diria naquele momento a Sampaio? Levei centenas e centenas de segundos ocupado nessa marmelada metafísica, uma variante de filosofia barata pré-fim-de-semana. Atingi mesmo os milhares deles. E depois de tanto segundo conclui o seguinte: se Cavaco pudesse dizer aquilo que exactamente pensava de Sampaio, quando o colar(ava), juntamente com uns valentes milhões de tugas à ilharga, diria, provavelmente, o seguinte:
- ao contrário de muitos funcionários do seu tempo, a Gioconda, quer dizer, o senhor Jorge - entrou mesmo para o quadro!!!
- PS: por razoabilidade vocabular omitimos aqui a verdade de Soares sobre Cavaco, a verdade de Cavaco sobre Soares e as múltiplas linhas cruzadas que poderíamos tecer para acabar nos conflitos que existem entre o motorista e o jardineiro. Imagine-se o que Cavaco diria de Santana.. Este já não diz nada, como sabemos. E quando abre a boca é pra dizer: cuidado comigo, olhem que eu ando por aí... Segurem-me, senão mato-me!!! Claro que ninguém o quer segurar, sabendo-se o resultado dessa liberdade.
- PS1: Seria interessante que os assessores de Belém - passados, presentes e futuros - (alguns já integram o Museu do Museu) também viessem a público dizer das suas verdades, sem lamechas, sem truqes, sem facadas na história nem na realidade. Sem medo. Com verdade. Será que têm coragem? OU também vêm dizer que a coisa primeiro tem de vegetar 40 anos na Torre do Tombo até que os homens morram, e depois os assessores também morrem e o povo, labrego, saloio e cego, fica a navegar nas verdades oficiais que nos venderam... Eu não compro.
E se, de súbito, falássemos verdade todos uns com os outros? Como seria Portugal daqui a um, cinco, dez anos de VERDADE... Como seria? Eu não acredito que a Verdade mate. No meu caso - tenho até desmascarado muito vígaro encartado, que depois se arrepende por ter escapado ao pacto com a verdade. Ao pacto com a vida, o único digno de seguir e de recomendar. Sobretudo, num mundo em que - como diz o outro - o Homem é um grande filho de bela mãe...
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