O Março de 2006 - por analogia ao Maio de "68"
França, por causa duma lei laboral injusta mas inevitável, está a empurrar para a rua o mesmo número de manifestantes quantos Portugal tem em desempregados: meio milhão. Amanhã, segundo a informação da caixa negra reportando de - "Paris de France" - a coisa dispara para um milhão de jovens em fúria. É muita energia. Sobretudo se atentarmos nas motivações psicológicas e nas psulsões de destruição daquela gente em fúria. Na realidade, 1 vale por 3, logo serão cerca de 3 milhões de almas a vociferar e pedir melhores condições de vida. De vida condigna, que não existe hoje em França. Parece que em Portugal também não. Só que nós por cá ainda somos muito saloios, e as nossas manifestações não passa de um desfile de moda de punks, por entre charros, brincos e vómitos. Desse milhão, ou melhor (3 - simbólicamente), 20 mil são capaz de se fazer ouvir, os restantes 800 mil muito provavelmente converter-se-ão em manifestantes anti-qualquer coisa, pode ser antiglobalização (que é o que está a dar) e partir umas milhares de montras, milhares de narizes, braços, pernas, carros, ambulâncias, velhas e velhos (assim são menos uns que recebem pensões e reformas e libertam recursos...) - tudo o que apanharem pela frente - leva - em nome da luta justicialista anti-globalizadora. Pois aqui é a força da multidão que faz a lei (da selva). Pior: a coisa pode atravessar a fronteira, assumir Espanha e desta contagiar-se aqui ao burgo e até irromper mar adentro, seguindo para o Cabo Espichel em direcção ao Brasil, ou talvez não!!! Já que a multidão pode resolver ficar especada em S. Bento contemplando os vitrais e os jardins do outro lado do muro. Assim está a Europa: sitiada e a política parece existir para cumpprir uma única finalidade: cortar-nos as cabeças e transformá-las em batatas, como vemos supra, naquela starmix)))
- É claro que a tal lei laboral - precária, infame e anti-pessoas - que é regra na Europa e faz carreira em Portugal com uns recibos com de ranho, foi mais um pretexto, a ponta do iceberg - que fez depoletar a cavilha humana que ora irrompe pelas ruas de Paris em fúria, pior do que uma manada de elefantes, pois sabe-se que estes por onde passam f.... tudo.
- Será que é o esprit do romantismo do Maio de 68 que ainda alimenta esta guerra social? Será que o paralelismo é lícito? Será que hoje, em Março de 2006, haverá algum ponto de contacto com o que se passou há 38 anos - em que uma rebelião popular em França - com milhares de estudantes à ilharga - ultrapassando todas as divisões religiosas, culturais, étnicas e de classe - irrompeu contra as forças da autoridade exigindo a concretização tal utopia que pugnava pela Imaginação ao Poder? Será que hoje - à semelhança do que se passara outrora - os estudantes e os sindicalistas e os trabalhadores em geral - tinham exactamente as mesmas motivações e a mesma força?
- Hoje, como dantes, a chamada classe média-baixa - estava tesa, desempregada, falida e sem projecto de vida num País e numa Europa sem rumo. Hoje talvez mais. Hoje, contudo, a lei do número, a globalização que perturba tudo e não obedece aos comandos estatais - afigura-se mais perigosa. Hoje também há menos romantismo e mais sacanagem e criminalidade, até porque tivémos uma experiência de décadas que deu para ver bem a dimensão da fraude que foi o socialismo de rosto humano onde o projecto foi implementado. Restam ainda um ou dois bastiões dessa fraude: Cuba, Coreia do Norte e mais uma mão cheia de corruptos na África Negra. Também temos a experiência do que é a fraude do capitalismo, apesar da Liberdade. Mas para que servirá a Liberdade se os homens tem os bolsos vazios? Velha questão que as 3 grandes revluções políticas modernas ainda não conseguiram responder: a revolução francesa, norte-americana e soviética. Todas, contudo, tiveram uma coisa em comum: fizeram jorrar muito sangue.
- Confesso que me sensibilei quando vi pela Tv aquele vendendor de jornais - que mais parecia um doutor em véspera de exame, dizendo ao mundo que em França reina o caos, não há lei e vinga a selva. Para ele a França é, neste momento, o "desespero total". Mas fiquei ainda mais preocupado quando o mesmo senhor referiu que tencionava emigrar, como escape daquele seu desespero total. Foi aí que pensei: mas emigrar para onde? Então, ele não sabe que o desespero total é vivido por toda a Europa?!!!
- Oxalá, pudessemos regressar ao velhinho Maio de 68 e fumar mais uns charros, papar umas colegas em fim de curso, conhecer outras amigas delas menos estragadas e papá-las na cama dos pais delas com os avós em casa a fazer croché e já muito surdos (apesar dos sonotones...), festejar a ilusão da utopia que atirava o slogan da Ivaginação ao Poder, bater nos reitores que não alinhassem, cuspir na cara dos catedráticos que se mostrassem hostis ou fossem traidores à causa da juventude rebelde etc e tal... Oxalá a história pudese andar às arrecuas... Hoje, por incrível que pareça, vivemos uma ditadura estranha, chafurdamos no meio dos milhões da banca, das fusões e aquisições, OPAs e contra-OPAs e as pessoas, que são o mais importante como dizia o Guterres (por isso se pôs a milhas) - não passam de elos dentados duma cramalheira que nos tritura diáriamente, como C. Chaplin ilustrou majestosamente há quase um século... Em nome de quÊ? Das OPAs, dos lucros duma banca pouco solidária. Aqui seremos todos "comunas", não para seguir Marx, nem Engels muito menos Cunhal - que também foi outro ditador de esquerda - apesar do peso da utopia de que também foi portador, mas para seguir a verdadeira doutrina comunista, talvez a única na Terra: a doutrina de Jesus Cristo. A mundialização a isso obriga.
- Via o senhor que vendia jornais pela TV dizer que França se tinha transformado no caos, na anarquia - amanhã poderá ser a pilhagem total - e enquanto o via e ouvia - com aquele charme que só os franceses conseguem ter, mesmo em situações desesperantes, pensava para os meus botões: que merda de mundo estamos nós a criar, que vómito de sítio é este em que caímos, que mais parecemos estar todos abocanhados nesse mundo virtual que é apresentado como sendo a verdadeira realidade: o hiper-real.
- Enquanto via aquele amigo de França dizer o que pensava até me apeteceu fazer como o Salvador Dalí quando ía a Paris só para partir montras para logo depois ter o prazer de entrar na loja e passar o cheque. Aparte o excêntrico da coisa, dado que o Dalí também era louco - como o Chirac - fiquei com uma vontade enorme de passar cheques para aquela gente toda. Mas o problema é duplo: além de não os ter teria, primeiro, de poder passar os ditos cheques cá dentro, e exterminar de vez os recibos cor de ranho que o bcp da nossa vida nos apresentam. Já agora sugiro aqui que não façam depósitos num banco cuja filosofia - coo denotou o o sr. Teixeira Pito - é a despedir uma catrafada de quadros que passaram a estar a mais vindo do BPI. Vao para o Bilbau & Viscaia, vão para o Totta - mas não no banco do bcp - um misto de opus day, muita ganância lucrosa e pouca ou nehuma atenção à gestão personalizada dos recursos humanos. Comigo bcp - jamais. Apesar de no passado termos tido um patrocínio macaco dessa proveniência, o pior de todos - diga-se de passagem.
- Vejo aquela gente em fúria nas ruas de Paris e fico apreensivo. Impotente, frustrado. Penso que poderia ser eu um deles. E se fosse talvez dissesse a mesma coisa ao louco do sr. Chirac e ao atávico do sr. De Villepin: um miseravél não vê o mundo como um sociólogo ou como um político ou até como um profssor catedrático que tem o seu ao fim do mÊs porque fez um contrato para todo o sempre com o Estado que o ampara ad eterno: o miserável está na sua miséria, vive-a por dentro, dia-a-dia, hora-a-hora, minuto-a-minuto, segundo-a-segundo. Ele vê consumada essa penetração pela sua espinha acima, como se fosse a morte a chegar num comboio de Alta Velocidade - como aquele que Sócrates quer meter em Portugal mas cujas linhas de suporte não aguentam tanta velocidade e depois o Medina Carreira diz que de nada serve poupar mais 20 min. Lisboa-Porto - tempo esse que o terá de perder no café esperando por alguém, já que ninguém chega a horas em Portugal. O miserável, o milhão que amanhã sairá à rua em França e fará, por certo algumas tragédias humanas, sente a morte infiltrar a sua vida - em toda a sua vida. Por isso compreendo bem a raiva e a fúria daquela gente desnorteada. E mais compreendo também as motivações do homem que vende jornais e deseja emigar. Resta saber para onde? Em África a coisa também continua preta...
- Vejo o homem que vende jornais e fiquei com a sensação de que ficámos todos capturados nas profundezas daquele lodo, numa armadilha sem saída.
- Oxalá vivéssemos ainda no Maio de 68... Que grandes farras. Ao menos, nesse tempo, as colegas ainda eram... Ou melhor: deviam ser como na década de 80 - ao tempo do reaganismo. Um tempo em que, ao menos, andávamos todos sob o efeito do viagra económico e social. Isto é tanto mais curioso, senão paradoxal, quanto nesse tempo nem sequer existia viagra, e a economia estimulava-se por si, apesar dos recibos verdes...
Estória da cegada
La mauvaise foi fait partie des moeurs démocra-tiques : aussi zélateurs et contempteurs d'une décision politique se distribuent-ils d'ordinaire entre majorité et opposition, selon une répartition traditionnelle des rôles. Le cas semble différent sur le CPE : on perçoit dans cette mesure une décision plus culturelle que politique, plus sociale qu'économique. Sur TF 1, le premier ministre était convaincant. Il fut même méritant sur un sujet : la forme juridique d'un contrat de travail qui n'est guère flamboyant et qui, dans un rôle de composition, le faisait presque parler à contre-emploi, si l'on peut dire. Ce doit être un exercice difficile d'enfermer son discours dans l'apologétique d'une telle décision, quand on s'écrit et se construit sur l'exaltation de la grandeur. Son discours était cohérent, logique, argumenté, mais plus rationnel que raisonnable.
La contestation du CPE porte évidemment sur cette période de deux ans pendant laquelle un salarié peut être licencié sans explicitation des motifs. Tout le reste est commentaire, glose et arguties. Le projet du CPE ne provient pas d'une idéologie libérale, soutient le premier ministre. Je le crois volontiers. Hélas ! C'est pire. Il repose sur un ensemble de préjugés ou de prénotions qui sont difficilement admis par le corps social, mais très bien ancrés dans un microcosme autiste et fier de l'être.
Ainsi assiste-t-on à des raccourcis logiques plus expressifs que n'importe quelle argumentation idéologique : comme cette implication surréaliste qui fit déduire d'une flambée de banlieues exotiques un âge réduit de la scolarité. Le processus de décision enveloppe le contenu même de la décision. Quand la logique et l'histoire perdent leurs droits face au plaisir solitaire de décisions péremptoires, nous sommes sans doute face à ce qui semble une complexion de caractère, voire une complexion de caractère social. Il faut donc revenir à ce que les sportifs nomment les fondamentaux, notamment au sens et à la signification du droit du travail, qui ne sont ni de gauche, ni de droite, mais d'essence républicaine.
Toute l'histoire du droit du travail s'est fondée sur un principe explicite et une évidence incontestée : les rapports de travail sont des rapports de force ; le droit a pour mission de les réguler. Le célèbre adage de Lacordaire, «Entre le fort et le faible, c'est la loi qui protège et la liberté qui opprime», prend tout son sens dans une construction juridique qu'il conviendrait plutôt de simplifier que de compliquer. Essayons de dénombrer les préjugés qui fondent le CPE. Rarement, dans notre histoire récente, l'occasion s'est offerte d'évoquer les préjugés de classe. Ce lexique, d'apparence archaïque, retrouve une nouvelle vigueur.
Premier préjugé quasiment explicite dans le discours officiel : les patrons sont tous des hommes bienveillants et justes, ce qui n'est pas le cas des salariés. Dominique de Villepin exprime ainsi ce truisme : en quoi le CPE serait-il dangereux pour le salarié ? pourquoi un patron satisfait d'un salarié le licencierait-il sans motif valable ? Si le salarié est utile à l'entreprise, efficace et rentable, pourquoi ne franchirait-il pas allégrement cette période probatoire de deux ans ? Autrement dit, le CPE se situe dans un monde où les patrons seraient parfaits et les salariés imparfaits. Les uns jugent les autres, sans besoin de justifier leur jugement. Penser l'inverse – les patrons seraient mauvais et les salariés, vertueux – serait aussi niais. Mais le droit du travail est précisément là pour éviter l'un et l'autre postulat. Comment peut-on en même temps dénoncer la pratique abusive des stages – qui en décide, sinon ceux-là mêmes qui utiliseront le CPE ? – et en conclure que le CPE, comme habile substitution, sera l'objet d'un usage vertueux ?
Quand j'avais effectué une enquête, avec un ethnologue, sur cinquante patrons de PME, du garagiste au traiteur en passant par le plombier, nous n'avions relevé qu'un point commun à toutes les histoires de vie : chacun avait créé son entreprise par haine d'un patron. Dans son histoire, il avait connu une subordination insupportable et s'était dit : «Plus jamais ça.» Les patrons sont donc plus convaincus de leur diversité que le premier ministre lui-même. Ils sont divers, comme les salariés.
Deuxième préjugé plus implicite : la question de l'emploi se résout uniquement par le droit du travail. La décision du CPE est unidimensionnelle. L'emploi est une priorité, c'est une évidence. Qui ne se réjouirait d'une mesure qui l'améliore ? Mais qui peut soutenir que la vie des entreprises et de notre société peut être abordée au sens de l'abordage pour Villepin par un angle d'attaque aussi univoque ? Ni le droit, ni l'absence de droits n'ont jamais engendré la croissance. De plus, le CPE va entraîner des effets collatéraux qui ne correspondent ni aux intérêts de notre société, ni à ses exigences de modernisation. Un seul exemple : la société et même l'économie française souffrent d'un affaiblissement progressif du fait syndical. La démocratie en pâtit. Or le CPE tue les syndicats : il faudrait être inconscient, suicidaire ou dément pour se syndiquer pendant les deux années concernées.
Troisième préjugé encore plus implicite : avec le CPE, il s'agit de donner envie d'embaucher et non de donner envie de travailler. L'envie d'avoir envie est un problème fondamental de notre société et de notre économie ; de partout fusent les plaintes : les Français ne veulent plus travailler. Les en convaincra-t-on en leur proposant une situation précaire et en les soumettant à l'arbitraire ?
Concrètement, comment un salarié peut-il avoir confiance en un homme qui le recrute sur un principe de défiance ? Il nous faut combattre tout ce qui va dans le sens d'une société de défiance : la confiance ne peut être que réciproque, sinon elle n'est pas. Le CPE repose sur une idée simple : l'employeur n'engage que s'il est certain de pouvoir dégager sans aucune contrainte. Nul besoin de s'expliquer. Nous confirmons ainsi une des tares de notre société française : l'échec y est toujours condamné, sans appel. La moindre des choses, pour un salarié qui a échoué selon l'avis de son employeur, c'est de comprendre son échec pour repartir sur de nouvelles bases.
Les entreprises ont besoin de souplesse et les salariés de sécurité. Les premières doivent s'adapter aux contraintes du marché, les seconds doivent présenter des garanties pour leur logement, leurs crédits, leur vie de famille. Les premiers cherchent des clients, les seconds un emploi. Au centre, entre l'employeur et l'employé, se joue la question du travail. C'est une question d'engagement. L'engagement doit concerner aussi bien l'engagé que l'engageant. Le CPE suggère aux patrons d'engager sans s'engager. On pourrait presque faire un pari : les meilleurs d'entre eux refuseront le CPE, pour collaborer sur de saines bases avec leurs salariés ; mais les pires d'entre eux choisiront sans doute le CPE.
Ces préjugés et prénotions sont puissants, peut-être indéracinables, chez celui qui décide le CPE. Le CPE est un ovni (objet villepiniste non identifié). Je ne peux pas croire que des ministres avisés, compétents en droit du travail et en perception sociale, comme Gérard Larcher ou Jean-Louis Borloo, supportent dans tous les sens du terme très longtemps une telle décision.
Certes, il faut ne pas céder toujours face à la rue. Un gouvernement peut tenir comme Raffarin sur les retraites, quand les manifestations sont prévisibles et intégrées dans la décision elle-même. La mollesse des oppositions au CNE m'avait surpris. Elle fut à la mesure de notre faiblesse syndicale. Elle a engendré des illusions à Matignon.
* Philosophe, ancien commissaire au Plan.
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