quarta-feira

A revolução tecnotrónica by Jumento - dimensão mítica da política

  • No real como no cinema ouvimos estórias que já não há, mas são entregues como se se tratassem de realidades históricas. É isso que me faz lembrar S. Lopes: ele teima em existir apesar de já saber que está politicamente morto, e enterrado várias vezes. Hoje, não há Junta de Freguesia que se preze que quisesse contar com ele para assistente ou tesoureiro. Trata-se duma neofiguração clássica - há quem diga surrealista - do real. Essa neofiguração é uma evocação do passado glorioso e incendiários dos congressos do PsD, em que ele sonhava ser PM e Durão chegou primeiro, para depois soletrar e o conectar ao misto de Zandinga e do Gabriel Alves... Enfim, bruxedos de maoista que, bem ou mal, funcionaram. Quando S. Lopes aparece no espaço público a dizer qualquer coisa ele não faz mais do que ser apanhado num flagrante: o do seu próprio desaparecimento associado à diluição da sua própria representação. Por isso, dizemos: o homem não está bem, ele não existe, ele é hiper-real.
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O Jumento já não nos surpreende porque já todos sabemos que de lá vem muita coisa boa, ié, bem feita, bem arrancada da realidade que depois é virtualizada desta forma. É caso para dizer : tiramos o chapéu neste capítulo da fotomontagem, quer dizer - tiramos (ou tentamos) tirar a mala da cabeça. Dito isto, temos um problema: o Santana ainda anda por aí, mesmo que tenha só um único propósito na vida: humilhar-se. Ele é ou representa o seu próprio inimigo interno e estratégico. Por isso lhe sugerimos um afastamento mais ou menos perpétuo da vida pública, pois cada vez que fala toda a gente o confunde, e uns até já lhe chamam o Vasco Santana. Mas esta fotomontagem do Jumento - exemplar, como tantas outras, lembra-me ainda outra coisa que remete para uma ideia nuclear no Ocidente: o esgotamento da política, uma fase em que os seus actores se tornam apenas bonecos com ânsia de poder mais parecidos com os manequins da rua Augusta. Só que a dada altura, esses bonecos partem os dedos, depois partem os braços e depois partem o pescoço e ficam com a cabeça completamente descomandada, parecem robertos desatinados ao vento. É assim Santana, não soube aproveitar a pequena quota de credibilidade que ainda tinha (ao tempo da F. da Foz - em que mandou plantar umas Palmeiras e uns holofotes) e, hoje, aparece a "morder" em Cavaco tentando, assim, resgatar essa tara de "assassínio" simulado a que a política já o votou. So que hoje, porém, Santana já não pode simular mais, já não tem simulcaro que lhe dê rede. No fundo, eu percebo-o: há qualquer coisa nele de decadência em andamento que ele ainda tomou consciência, algo que lembra os presidentes Johnson e Ford (nos EUA) em que foram alvos de atentados falhados, os quais foram encenados. Ao invés, os Kennedy morriam de facto porque encarnavam algo: o político, a substância da política - enquanto que os novos presidentes não são mais que a caricatura e a película fantoche daquela substância política. É claro que a morte nunca é um critério absoluto: Kennedy não morreu; James Dean também não e o mesmo se diga de Marlin Monroe e do clã Kennedy em geral. Isto sucedia com esta gente porque tinham uma dimensão mítica que implica que mesmo depois de mortos eles não morressem. Nem tanto pelo romantismo que anda sempre associado à política, mas mais pelo princípio da reversão e de troca: revemo-nos neles de alguma maneira. Mas eu perceno o Santana. Ele desejaria ser uma espécie de Aristóteles Onassis da política à portuguesa, só além de ser um teso da política também já não goza da juventude de que esses mitos eram efectivamente portadores. Quando hoje vejo Sanrana Lopes em frente ao televisor a imagem que me suscita ainda é pior do que aquele ali de cima fotomontada eficientemente pelo Jumento. Doravante, Santana inauguou um novo estilo de fazer política em Portugal: o do assassínio por simulação, o de uma estética geral da simulação; a personificação da tentativa de ressureição alegórica da morte que ainda não morreu - e que só existe para beliscar a futura instituição do poder, a sua razão para viver, afinal a sua "substância" conjugada com a sua realidade. Tudo dá culmina numa fórmula de pólvora seca que já não faz mais fumaça: Santana. Vejo aquela imagem de SL e, confesso, não consigo imaginar o que um homem daqueles pode sentir quando tenta, mesmo antes das eleições presidenciais, relativamente a alguém que fez dele um secretário de Estado, aoriundo da sua família política, tentar assassinar o estatuto de alguém, goste-se ou não de Cavaco, denunciando todo o fel nesse exercício, debitando a máxima potência da sua negatividade. Tento encontrar paralelos na história política recente e não consigo encontrar um exemplo tão mau que aqui sirva de termo de comparação. Eis o que aquela imagem me suscita agradecendo, desde já, ao seu autor, pois sem aquela fotomontagem também não tinha "alibi" para montar este texto que, espero, não seja outro simulacro. A diferença com P. Portas é que este soube-se preservar, soube remeter-se ao silêncio. Mas um é profissional, o outro amador.