Vergílio Ferreira, memórias...
Introito:
Andava sempre mal-disposto, Av. de Roma acima, av. de Ro.. abaixo. Por vezes acho que até tropeçava com a estátua do Sto António em Alavalade, acho que ela ainda lá está.... Fizesse sol, chuva e lá vinha o bom o VF, mãos nos bolsos e com os olhos colados ao chão, sempre com o semblante carregado.. Um dia apostámos acerca das razões que levavam a essa sua neurose facial permanente. VF parecia estar sempre a viver o ciclo menstrual de um escritor que não se universalizava. Todos apostámos e todos perdemos, ou seja, ninguém acertára. Afinal, a razão daquela rigidez facial traduzia-se em $$$. Explico.
- Os "mafiosos" da Bertrand nunca lhe pagavam a tempo os direitos de autor e o desgraçado do Vergílio ficava f....... da vida. Como não podia mandar a vida ir-se f.... assumia toda aquela f... na cara. Eis a razão porque a cara do Vergílio era um f... constante. E isso, paradoxalmente, não lhe dava prazer nenhum. E foi por causa dessa f... facial que o homem não se nobilizou, como devia. Em seu lugar saíu-nos na rifa um carpinteiro das bandas da Golegã que nem escrever sabe, ou melhor, o Zaramago - (é com "Z" porque o artista vive em Espanha, apesar de dizer que ainda é português, embora ninguém acredite), e foi este artista, amigo de Fidel Castro e saneador de colegas seus (jornalistas no DN) no Verão quente que perante um júri do prémio Alfred Nobel completamente embriagado, recebeu o desejado título traduzido em 150 mil cts. Ora o que é que um carpinteiro sabe fazer com tanto dinheiro??? Compra tábuas, monta uma serralheria e depois corta as tábuas. Mas não!!! O que o Z. nos diz é que é escritor, o mesmo é dizer que o Fidel Castro é um grande democrata ou ainda que foi o Anacleto Louçã que ganhou as eleições e que Soares ficou em 2º lugar e recebeu a medalha de prata. Ninguém acredita nisto, excepto os próprios...
E pronto, eis a estória "fabulosa" da rigidez facial do bom do VF. Como temos duas notas de roda-pé sobre ele e sabemos que uma "amiga fabulosa" também o aprecia - nós achámos que este link lhe agradaria. A elas e aos blogers amigos que participam. Com esta palha toda tentamos tirar alguma daquela rigidez à face sábia do Vergílio. Uma vez que quanto à sua vida já não lhe a conseguimos devolver, senão pela lembrança e constância que a qualidade dos seus livros ainda hoje exercem em todos nós.
CONTA-CORRENTE
De Vergílio Ferreira, que ainda conheci na Bertrand da Avenida de Roma, com aquele ar carrancudo branco-amarelo, recordo as lamúrias que há em todo o homem. Esse olhar para dentro, esse medo da morte compensado com palavras. Dele guardo a ideia de que um bom escritor terá também de ser um bom pensador. Sem ser um filósofo puro, nem um historiador, Vergílio que não era nada disso – era isso tudo. Seleccionava tudo e servia-nos depois a receita. Com mais ou menos pessimismo e cor, ali estávamos nós a contemplar o auto-retrato diante do espelho. Bem haja pelo reflexo Vergílio…
PENSAR
Foi outro livro da minha vida. Lê-lo foi como tecer uma teia boa, para não matar ninguém. Articulava filosofia com história e cultura universal, e o mais que consolidava o sistema de pensamento. Tocado pelos Pensamentos de Pascal, também Vergílio Ferreira conseguiu, em português, fazer coincidir o indizível com o dizível através da luminosidade do enigma. Foi um livro de alargamento de horizonte que fez subir o meu zénite. Fiquei diferente após o Pensar, passou a haver menos fora dentro de mim. Integrando mais, fiquei também mais rico e menos desautorizado na trajectória perigosa da vida.
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