segunda-feira

O poder de Cavaco...

Image Hosted by ImageShack.usSempre achei Cavaco um profissional da política, discreto, mas profissional. E aqui pode residir boa medida da razão da actual vitória, além do capital político acumulado ao longo desta década de pousio político em que a semente germinava. Em virtude desta noção, julgo que o homem interiorizou essa percepção do poder: descrição e humildade. Como anda sempre hirto, ri pouco, parlamentava ainda menos, mais parecia um Salazar dos novos tempos com ar austero e especialista em economia & finanças (precisamente, quando Portugal atravessa a pior crise do pós-25 de Abril). Cavaco ficou cunhado como um homem de muitas certezas e pouco dado à reflexão. Ora, desta contradição feita de - descrição e rigidez - é que está o "truque" - que consiste em usar o menos possível o poder para criar a maior mudança provável. Nessa linha, uma pessoa com este perfil pode aplicar o poder selectivamente, como um laser, e cuidadosamente, quase sem que se dê por isso, de maneira a não nos sentirmos dominados. Sentirmo-nos sim motivados. Foi precisamente esta relação que ocorreu naquela entrevista em que M. Soares se desgrunhava para o golpear Cavaco, para o farpear, para o "matar" politicamente alí - em directo. E tudo isso foi caricato, tudo isso teve um efeito de boomerang e atingiu frontalmente a face do velho leão, já muito diminuído e prisioneiro duma mera "birra de idoso" - a que não conseguiu escapar a tempo. E assim ficará mais limitado senão mesmo ferida a sua prestação na história política do Portugal contemporâneo. Os historiadores que avaliem..., mas temo que a diagnóstico tenha sofrido um rombo de monta.