quarta-feira

Três máquinas, três tempos, uma indefinição

Image Hosted by ImageShack.us O que nos poderão dizer estas três máquinas. As horas? Olhando para eles à mesma hora e no mesmo local - será que podemos falar em simultaneidade perante a distância de cêntimetros que os separa? E se os quisermos acertar com toda a precisão - será que os podíamos sincronizar, ou o tempo que tomava a acertar um não bastava para a contagem do tempo de acerto do outro? Isto das horas é muito complicado. Lembro-me dum amigo que não usava nenhum relógio, olhava para as estrelas à noite e para o Sol de dia e nunca falhava na marcação do tempo.
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  • Estas máquinas podem ser boas máquinas, mas será que elas nos dizem o tempo que queremos ver e ouvir? Será que elas nos dizem que tempo económico faz amanhã? e que tempo político temos para a próxima semana? E qual é a data para a próxima guerra? Ou o nascimento do 1º filho? E qual é a hora de vermos Sócrates pelas costas - até que possamos dizer exactamente o mesmo do próximo cronómetro a chegar a S. Bento... Parece que o tempo é uma ditadura.
  • Estes relógios são uma m..... Sim, são uma valente m...., porque não nos dizem coisa nenhuma. São uma solidão perfeita, são caixas metálicas com ponteiros lá dentro, inventando um tempo para si próprios que não tem ligação ao tempo social de cada um de nós. Um bom relógio seria um relógio que soubesse equacionar filosofia, produzir interrogações pertinentes sobre o destino e orientação do nosso mundo no nosso tempo. Ora estes relógios só sabem andar à roda, e, por isso, ficam tontos, e com eles o tempo também parveia num tempo que é, ele próprio, um ABSURDO. Por isso, não podemos acreditar nos relógios, e já comecei há muito a chegar atrasado a todo o lado..., só para não ser defraudado por eles, os relógios.
    Nenhum relógio até hoje me deu uma combinação estável. Posso gostar do design, da estética e o mais - mas nenhum relógico foi ainda uma máquina inteligente. Apenas anotam resultados matemáticos sem nenhuma correspondência com a realidade. Chego a pensar que os relógios são um puro efeito estético para não deixar o pulso tão leve. Uma vez que o Tempo não existe. O tempo resulta duma convenção entre os homens, de um acordo entre pessoas que se estimam e se toleram, é um pacto escolhido para comodidade humana. Nada mais.
  • Nós não podemos medir o tempo com um relógio. Nem com uma fita métrica. A medição do tempo só se faz quando estamos velhos e cansados e, de preferência, com parkinson. É aí, segundo me dizem, que o tempo se mede não se medindo, porque ele é uma convenção. Todos nós já exerimentámos viver as 2ª feiras de manhã em férias e em trabalho. O tempo, nesses dois tempos, altera-se radicalmente... Tudo é psicológico e depende da vontade e disposição do homem. Em férias não há tempo nem relógio; em trabalho há um tempo que é cronometrado por alguém em quem nós não confiamos.
  • Se perguntar ao relógio que horas são agora ele dá-me uma resposta simples. Não me dá uma resposta articulada com todos os outros tempos sociais que eu preciso para minha orientação. Por isso, os relógios são puras simplificações duma realidade temporal que desconhecemos, de um futuro que é, objectivamente, inapreensível.
  • O tempo é uma verdade que nos é inalcansável. Aquilo que tocamos do tempo é só uma margem, e decorre da tal convenção entre os homens. Por isso, agora gostaria de declarar que estamos em 1966 - em que não havia tempo, pelo menos para mim...