Cavaco Silva: a Ciência e a Arte
- Cavaco Silva - Alferes em 1965.
Depois de ver Cavaco Silva reafirmar aquilo que já era óbvio na sociedade portuguesa, cheguei à conclusão que a sua segurança mental só pode conduzir a bons resultados práticos para a Nação, caso venha a ser eleito PR, como espero.
Cavaco é tudo menos uma pessoa desprevenida. Prepara-se, estuda, trabalha tempos a fio. É a face oposta de Soares, que improvisa, especula, disserta, generaliza sobre o vacuu da sociedade aberta na companhia do seu amigo - e hoje director do DN - António J. Teixeira.
Mas regressemos a Cavaco, razão de ser deste blog: ele é a encarnação de uma actividade meditada, desenvolvida com o tempo do relojoeiro para a conquista e manutenção do Poder - segundo certos ideais que pretende realizar em sociedade.
Hoje, quando vi Cavaco pelas televisões - com uma excelente forma física e mental - lembrei-me que talvez concentrasse as qualidades mais necessárias que a Política encerra: a Ciência mas também a Arte. Será mais um cientista da política do que um artista? A mesma questão feita a Soares tinha resposta óbvia. Mas com Cavaco a formulação fia mais fino.
A Ciência é, afinal, um sistema de conhecimentos, e o seu objecto é possuir a realidade. A Arte consiste num conjunto de regras práticas que facilitam a acção. Com uma pretende-se Saber; com a outra Agir. Foi essa, aliás, a ambivalência política (positiva) que Cavaco me transmitiu ao anunciar hoje - no CCB - a sua candidatura a Belém.
Isto significa que Cavaco se me afigura como alguém capaz da arte de governar; alguém em quem o País deve aproveitar os conhecimentos científicos e experiência política acumulada, e não - como decorre do perfil de M. Soares - uma mera gestão corrente da técnica do poder e da capacidade camaleónica para ganhar eleições ao longo dos tempos.
É certo que estes homens especiais não nascem debaixo das pedras, como diria Platão. Eles são o resultado das circunstâncias dos respectivos países, são o resultado das situações mais inesperadas, como sucedeu a Cavaco quando foi à Figueira da Foz fazer a rodagem ao seu carrinho há 20 anos.
Nessa linha, o político tem de actuar em certos casos concretos como um verdadeiro artista, ou seja, um pequeno génio criador, embora recorrendo à experiência, à imaginação e à intuição. Qualidades relevantes para quem está na Política. Cavaco já demonstrou no passado que tem todas elas. E mais: tem uma juventude e uma energia e lucidez que faz inveja. Tem também uma outra qualidade essencial em política: o pragmatismo - a modular a sua conduta, porque em Política - na governação das coisas do Estado - o que interessa é sempre o resultado. Às vezes os princípios, raramente a ética...
A acção política acaba por ser, afinal, um resultado que decorre de todas aquelas qualidades anteriores. Acumuladas com o tempo e maturadas com o conhecimento e a sabedoria. E que podem, doravante, estar em consonância, em harmonia umas com a outras - juntando Cavaco ao país real, e unindo este a Cavaco numa simbiose perfeita.
Portanto, a Ciência Política de Cavaco naquela sua 1ª apresentação pública no CCB - à qual se seguirá uma outra no Porto (para sistematizar as "suas ambições" para o país), permitiu-nos registar e estudar, antecipadamente, as razões do seu êxito.
Daqui decorre uma conclusão maior: a Política depende sempre muito das qualidades dos actores políticos, da sua personalidade e da forma como lidam com as condições históricas do momento, ou seja, da forma como interpretam a conjuntura e depois agem sobre ela, modelando-a. Uns fazem-no com improviso, com especulação; outros, como Cavaco, fazem-no com Ciência e com Arte - na sequência do que dissémos acima.
De facto, Cavaco destaca-se de qualquer outro candidato a Belém. Talvez aquele que melhor o pode confrontar, do ponto de vista político, intelectual e científico é, sem dúvida, Francisco Louçã. Precisamente por ter uma sólida formação económica e dominar a incerteza dos grandes números - que ajudam a explicar muitos dos problemas e dos desafios sociais, políticos e económicos que Portugal - e a Europa - têm pela frente. Louçã, neste capítulo, e por ser "demasiado igual" a Cavaco, representa uma ameaça intelectual, científica e dialéctica que se projectará, certamente, no contexto eleitoral que se avizinhará. Aliás, Louçã já começou a corrigir Cavaco relativamente aos números do desemprego em Portugal...
Mas para Cavaco ganhar Belém não lhe bastam só aquelas características que enumerei. Para ganhar folgadamente Cavaco tem de ser um pouco Soares, ou seja, tem de soltar-se e fazer com que as suas qualidades e conhecimentos científicos na área da economia e finanças possam potenciar-se com o talento criador de soluções mais amplas. Tudo em nome do bem comum que Aristóteles nos ensinou.
Mas para que tal suceda urge a tal formulação de regras da arte política que tem sido feita ao longo da História - e de que O Princípe de Nicolau Maquiavel - é, ainda, a matriz inspiradora, embora possa vir a ser temperado com o sentido de missão que a política deve servir - e que teve em Erasmo de Roterdão uma outra referência.
Cavaco é já um valor em si. Basta-se a si próprio, diria Kant. Depende muito pouco de outros. Só depende do eleitorado. Foi inteligente em não se rodear da chamada "tralha cavaquista", de que o sr. Loureiro Dias foi um expoente; assim como também existe igual tralha na área socialista, representada pelo sr. dr. Coelho.
Cavaco percebeu que a colagem desses caciques à sua pessoa só desprestigiam a política e, por tabela, minguavam a importância da sua candidatura. Espera-se, doravante, que esses mesmos caciques não venham a integrar a candidatura pela chamada "porta do cavalo". Se assim fôr perderão milhares de votos, o meu incluído. É que a política jamais poderá consistir em meros conselhos práticos, uma espécie de elixir que alguns demagogos dão ao Princípe.
A Política é a tal Ciência e Arte que só alguns possuem. Desconfio que no íntimo da suas novas cátedras, quer Guterres quer Vitorino, só para citar dois homens superiormente inteligentes que são da área socialista, irão votar Cavaco. Sabemos onde estão os seus corações, mas como homens inteligentes que são sabem, desta vez, que quer a razão, quer as circunstâncias históricas - e até o País real no seu conjunto - estão com Cavaco Silva.
- PENA A ESCREVER. REFLEXÃO PSEUDO-FILOSÓFICA
Este homem está em movimento há algum tempo. Dirige-se para algum lado com um objectivo. Nós sabemos qual é esse objectivo e qual o destino para que se encaminha. Sabemos tudo isso. Você também. Só não sabemos o que irá fazer em Belém e como irá utilizar o seu majistério em ordem a ajudar o governo a governar bem. Parece que o governo socialista também sabe isso. Só não sabe é o que vai ser o futuro. Nem o futuro sabe o que será dele próprio. Para incertezas basta-nos o presente. E para traumas chega-nos o passado. Em suma: Cavaco assume-se, doravante, como o homem tridimensional. O homem que veio do passado para o presente e, agora, convence-nos de que é o Homem do Futuro e com Futuro. Oxalá haja futuro. Que orgulho, a partir do Algarve, deverá ter o seu Pai - a olhar para um filho daqueles. É como se o passado saltasse o muro do presente para espreitar o futuro. Afinal, o que é o tempo??!! senão a consideração momentânea e fugaz da equação de todas aquelas memórias do espaço e, já agora, do tempo... O problema é quando morremos, e depois alguém começa a pensar isto por nós... Até que o ciclo se repita na roda dos tempos.
Como somos solidários com os respeitodos 80 anos de Mário Soares deixamos qui um link com votos de uma boa campanha. Desta vez, Mário Soares já não pode acusar Cavaco de conotações com o ancien regime - colando-o ao salazarismo, que era o expediente utilizado por Soares para ganhar eleições contra os candidatos do centro-direita. Foi assim, com agitação desse espantalho em 1986, contra Freitas do Amaral. E mesmo aí Soares só ganhou as presidenciais por uma unha negra. Esperemos, desta vez, que o respeitoso octogenário não recorra a truques baixos dessa natureza contra Cavaco. É que além de já não pegarem, a juventude que vota também já nem tem memória disso. Por isso, fica aqui a advertência tolerante para com o "super mário". Que é até uma ideia gira. Quando tiver quase um século de vida também gostaria de ser prendado com tamanha afectuosidade, mesmo que virtual. Uma vez que hoje tudo o que é real tem de o ser préviamente na esfera virtual. Logo, o virtual é o real. Às vezes enganamo-nos... E quando isso sucede arranjamos uma depressão.
Há, contudo, pessoas estimáveis e intelectualmente muito respeitadas que, como o escritor Baptista Bastos, pense diferentemente. I.é, seja estruturalmente contra Cavaco e critique veementemente qualquer cavaquista, mesmo os da estirpe do eminentíssimo José Cutileiro - mui proximo de Durão Barroso e que há anos tem residência fixa na Moradia do Expresso.
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