segunda-feira

Memórias do futuro sob inspiração do Douro

Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Ruisinho:
  • Temos a nossa juventude ligada ao Tejo. Grandes pescarias, no tempo da saboga, sável e lampreia que periodicamente subiam o rio para a desova, para alem dos sempre presentes barbos, enguias e carpas que faziam as nossas delícias quando assistíamos ao nascer do sol, já de cana na mão, olhos fixos na bóia, respirando aqueles odores familiares que as águas do rio impregnavam nas margens. No tempo da saboga, os trabalhadores do campo viravam pescadores. Iam, então, buscar ao palheiro aquela interminável cana-da-índia, com mais de cinco metros de comprimento, que ali repousara sossegadinha à espera do momento ansiosamente aguardado que acontecia, por alturas das férias da Páscoa, quando as sabogas, aos milhares subiam o Tejo ávidas de tudo quanto mexesse ou brilhasse. Até o t’zé Menaia, que já não conheceste, foi maqueiro na guerra de 1914/18, figura de velhote muito simpático, um bocado taralhouco, que à sueca baralhava-se e puxava da bisca para apanhar o ás para desespero do parceiro e gozo dos adversários. Depois, atarantado, num gesto típico, levantava o boné entre o indicador e o polegar e coçava a cabeça com os restantes dedos enquanto ia remoendo para dentro a asneira que tinha feito. Pois até ele, que nunca ia ao Tejo em todo o resto do ano, chegado o tempo da saboga, lá ia, ainda de noite, com aquele grande varapau às costas, sujeito a cair, que ele, dada a idade avançada, já era trôpego e tinha a perna curta porque era para o baixinho. Mas era fatal, quando o sol nascia já os ia encontrar a todos nos seus postos, canas no ar, apontadas à outra margem, como se estivesse em preparação uma barragem de artilharia, e até meio da manhã, quando, do outro lado do Tejo, passava o comboio das 11 horas e a pescaria começava a falhar, só se viam era sabogas a brilhar pelos ares e a algazarra de contentamento dos pescadores de ocasião que não continham a alegria do que era, na verdade, uma verdadeira festa, que não era partilhada pelos pescadores de todo o ano porque, realmente, pesca e algazarra não ligam muito bem, mas não com as sabogas, que se estavam a marimbar para o barulho, elas também queriam era festa.
  • Tejo… férias… ar livre… banhos… piqueniques… pescarias… Tejo, que és uma caricatura do que foste...Tejo da minha juventude… da minha saudade… dos meus amores!.
  • E agora sim, estou disponível para te dizer que o rio Douro é o maior rio de Portugal, bem vistas as coisas, talvez, até seja o único verdadeiramente digno desse nome. A sua capacidade de navegabilidade é impressionante, mesmo num ano em que, pelas marcas deixadas nas margens, o nível está a um metro, metro e meio a baixo, mesmo assim, até Castelo de Paiva, porque já não subimos mais, o tráfego é enorme e mais que fosse lá cabia. Barcos de turismo dos mais variados tamanhos, barcos de transporte de areias e de pedra de granito, este último impressionante pelo tamanho e aspecto impecável, e com o qual nos cruzámos( mandar-te-ei fotografias) e que ia já de caminho para a Holanda, só espero que a pedra vá pronta a ser aplicada no fim a que se destina por causa das mais valias, “ ó p’ra cá” como dizia o teu pai.
  • Mas não só, barcos de recreio com motores fora de bordo e motas de àgua, uns e outros a acelerarem desesperadamente como se fossem nessa nobre missão de apagar fogos. Mas não iam, o fogo era outro…o da vaidade, novo riquismo, piroseira, incapazes de ver no rio outra coisa para alem de uma pista de corridas. Fracas recordações vão guardar nas suas memórias para quando forem velhinhos, se é que, com aquele barulho incrível, alguma coisa lá consegue ficar gravado.
  • Para aumentar a confusão daquele tráfego de fim-de-semana tínhamos, ainda, os barcos da polícia marítima que regulavam as amaragens dos aviões e dos helicópteros que desciam sobre o rio para recolher a água com que tentavam apagar os fogos, esse outro espectáculo indecoroso que os portugueses proporcionam a si próprios todos os Verões… logo a seguir… mas é que logo a seguir… às festas tradicionais dos santos populares, para gáudio das televisões que com eles enchem diariamente os telejornais. Sinceramente, eu não devia dizer isto, mas desde que não haja vítimas, já me estou nas tintas.
  • Voltarei ao rio Douro, quero conhecê-lo a partir da Régua, onde estão as vinhas em socalcos e as encostas descem mais abruptamente sobre o rio e no qual, acredito, há menos burgessos a acelerarem. Vou convidar-vos para virem connosco. É um fim de semana, com tudo incluído, 60 euros. Vêm ter a Santarém de onde partiremos. OK?. Fica a aguardar ordes…
  • Ainda bem que és meu sobrinho. Assim, esta troca de mails constitui uma dívida que sempre fica em família. Realmente, não estaria tão atento se não os escrevesse. E isto vem a propósito da Ota.
  • Eu, que sempre fui uma pessoa bem governada, isto é, sempre gastei dentro do meu orçamento sou, por isso, incapaz de desenvolver raciocínios gastadores, perdulários ( diz-me se conheces a anedota do perdulário para te a contar ) quando se trata de gerir dinheiros mesmo que não sejam meus, mas entendo, no entanto, que não se deve hipotecar o futuro se ele tem a ver com uma despesa que deve ser feita hoje. Sempre pensei e julgo que te disse, que esta decisão da OTA, sendo política, devia obedecer a pressupostos técnicos o que, de resto, parece intuitivo. Ora bem, se no futuro, o aeroporto de Lisboa for incapaz de dar vazão a um tráfego em crescendo e não havendo outras soluções, parece-me óbvio que quanto mais cedo iniciarmos a sua construção mais lucraremos com isso.
  • No entanto, o que ouvi este fim-de-semana deixou-me preocupado. Afinal, não há nenhuma incompatibilidade no aproveitamento complementar da pista de Alverca, porque ao contrário do que disse o sr. Primeiro-ministro, dada a orientação da referida pista, quase paralela à da Portela, os mesmos corredores aéreos serviriam, na perfeição uma e outra. Se assim for, e a informação é dada por especialistas, entre eles os próprios controladores aéreos do aeroporto da Portela que regulam o transito nesses mesmos corredores, estamos então a laborar em grande e dispendioso erro. De resto, é significativo, que sobre este assunto, a insuspeita Elisa Ferreira, pessoa de quem tenho muito boa impressão, tenha dito não ter informação suficiente, ou melhor, haver um défice de informação. Isto é grave…por que razão, relativamente a estruturas tão importantes ou pelo menos de tão grande impacto a nível nacional, as coisas não nos são ditas com precisão, pormenor e sem contradições? Ah...este inefável país e estes irredutíveis portugueses…, não há volta a dar-lhes!…
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Xau . Hoje não vou jogar Ténis... Tio Quim Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us
  • Que pomada... Se calhar o Fernando Pessoa, que está aqui em baixo a absorver um traçadinho no Martinho da Arcada, também fez esse passeio ao Douro. E de lá trouxe o vício de consumir o sumo da uva. Há quem o beba sólido, mas é mais doloroso a engulir..