sexta-feira

Formas disformes que reformatam o pensamento

  • A relação do artista com a realidade da vida decorre de uma incapacidade em controlar os seus impulsos e tolerar o lugar que lhe está destinado na sociedade ou na natureza. Ambientes que podem ser confusos ou até tortuosos. Mas quando nos afastamos da realidade o que pretendemos fazer senão descobrir um mundo irreal que não é nenhuma doença!? Nem sequer é frustração. Mas uma pré-condição para a arte. D. Quixote, por exemplo, é o símbolo clássico, imortal do artista em desacordo com a realidade. E nós, que podemos pensar quando vemos um rato, um morango, uma banana, um galo, uma cobra, uma barata, uma ovelha, um sapo e um cão com esta textura sui generis?
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  • Aqui poderei ver um Kiwi disfarçado de rato.
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  • Aqui uma cobra a comer um morango.
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  • Aqui uma cobra que queria ser banana - porque detesta caroços..
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  • Aqui Alberto João Jardim - depois daquelas festas na região - regado já com muito tinto que o faz sair de si e dizer aquelas enormidades acerca dele próprio.
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  • Aqui uma limonada fragmentada em busca de recomposição para voltar a matar antílopes
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  • Aqui uma barata que precisa de fortalecer as unhas e as antenas
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  • Aqui alguém que mata uma cabra para fazer uma bela sopa de legumes em vista a baixar os valores de "castrol" e dos triglicéridos.
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  • Aqui novamente Alberto João Jardim - mas visto por trás
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  • E o cão - Le chien do Primeiro-Ministro - que se ocupa da segurança e das ameaças internas e externas à soberania do Portugal dos pequeninos.. Tudo desilusões, portanto!!
  • E porquê? Julgo que a desilusão do artista leva-o à caricatura. A um mundo imaginário que ele próprio cria, por vezes auto-ilusão, um modo de ajustar o mundo às suas preces e ilusões. Enfim, a vontade d'alguém que não tolera a realidade tal qual ela é e a quer conformar a um sistema de ideias imaginárias pré-formatado.
  • Julgamos, assim, que o caminho destas fantasias podem conduzir a uma verdadeira obra d'arte. Por enquanto são só forminhas engraçadas, estimuladoras da imaginação, choques para os sentidos. É disto que nós precisamos para avaliar a nossa vidinha quotidiana, feita de orçamentos mal paridos, de incompetentes na Política, de invejosos na Academia, de medíocres do Parlamento, de gente sem carácter um pouco por todo o lado que se arma aos cucos mundo fora. E ainda há quem acredite nesses trapos da razão. Iludidos com a própria ilusão..
  • Ora é essa perda da realidade - que acima vemos aparentemente invertida - que que funciona como pré-condição inevitável para a criação de obras de arte - que passam, por seu turno, a ter ligações com outras realidades, outras ilusões, outras neuroses, outras perturbações sem receita nem terapia.
  • Vivemos num tempo tão incerto quanto doloso. As pessoas tudo fazem por dinheiro. Estão consumidas pela má fé. Passam 110% do seu a mentir e a simular. Os 10% a mais vão buscá-los ao tempo em que julgam dormir. Uns míseros cobres. Vendem a mãe por um punhado de fama. Isto é válido em todos os quadrantes da nossa vidinha nacional. Neste Portugal dos pequeninos. Por isso, é sem dificuldade que ali vemos toda a sociedade política, económica, financeira, cultural representadas. Estão lá todos. Estão é disfarçados - sob a capa dos seus vested interest -: todos querem ser quem não são. E assim criámos uma sociedade trocada: os analistas querem ser políticos e ter poder e influência; os directores de jornais - frustrados e com poucos estudos que têm - querem ser escritores à força; alguns convidam-se para a TV; os escritores - como Zaramago - nem carpinteiros poderiam ser - de tão medianos que são a trabalhar com as mãos; depois atingem o estatuto de nobilizados e ficam neuróticos - que nunca deixaram de ser; os que deveriam ser nobilizados morrem angustiados com tamanha injustiça. Lembro-me de Virgílo Ferreira que consegue dizer mais numa nota de pé-de-página do que Zaramago em 150 pág...
  • Eis o que se me afigura na leitura destas formas meio humanas meio animais. É aqui que a arte se funde na realidade, e ambas se casam com a ilusão - que agora emerge como compensação para o espírito. O espírito perdido do nosso tempo. A arte - mesmo esta que aqui simulamos - decorre de um sentimento de insegurança e de ansiedade numa luta infindável pela existência material, de algum sucesso enquanto medida de reconhecimento, esse thymos que buscamos nos melhores, que nem sempre são os que mandam ou têm visibilidade pública. Estas formas são, afinal, um estímulo parco da imaginação mas também não podem deixar de ser um sintoma do nosso tempo. Uma neurose que se arrasta em nós retratando a trajectória da nossa época.
  • Um tempo feito de simulações e de dissimulações, espelhos, reflexos, contra-espelhos e muitas sombras nubeladas que antecedem a chuva. Olho para aquelas formas, e vejo a nossa sociedade e chego à conclusão que perdemos todos. Quem hoje se assume com autenticidade? Quem hoje assume o que é na verdade? Ora - é essa ideia de convertibilidade de energias e de atitudes que podemos aproveitar para dar forma às formas. Impedindo, desse modo, que a sociedade fique cega perantes as más formas e potencie as boas formas. Também isto é uma luta da razão contra a desilusão, um combate da dignidade contra a simulação múltipla em que a esfera da política, da economia e da finança se tornaram. Uma luta da Liberdade contra a iniquidade e a mediocridade.
  • A arte deverá ser sempre um meio de compensação que nos permita ter essa consciência da complexidade e, assim, ter prazer em ver formas que, à priori, nos repugnam, mas que podemos - a prazo - vir a apreciar.
  • Afinal, que mal tem um rato ser um kiwi; uma cobra virar banana; uma barata emigrar para a forma de noz; uma ovelha ser legume; e Alberto João Jardim ser um galo rosado com a crista de banda - ou em debandada???
  • Não tem mal nenhum.. se pensarmos que a arte é uma grande conciliadora. De tal maneira que até pode conciliar todas aquelas formas disformes e libertar-nos de tamanha crueldade que o Homem tem feito aos animais e à natureza.
  • Ou, em última instância, amalgamar tudo aquilo e meter num panelão e fazer um batido com uma máquina industrial e convidar depois uns quantos que andam a destruir Portugal a beber a mestela. Eu, à cabeça tenho já uma lista de uns 20 artistas para beber o tal batido.
  • E você já tem lista?!
  • Dedico esta reflexão ao meu Tio Quim - que é um homem com uma inteligência superior e que até foi capaz de me transformar num ser que agora anda viciado no ténis. Só ainda não percebi do que é que gosto mais: se das raquetes se das bolas... Que poderíam muito bem assumir formas disformes - como aquelas que vemos acima.. Mas isso já seria uma outra leitura da narrativa. Como quem diz: uma camada de mel sobreposta a outra de chocolate...
  • Nota: agradacemos amavelmente ao PF a bondade que teve em partilhar estas formas connosco.
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