segunda-feira

O vírus da democracia. "Eu roubo mas faço..."

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Ruisinho:
  • Impossível não ter deparado este fim de semana, em todos os meios de comunicação social, com comentários relacionados com o Isaltino Morais, a propósito da sua candidatura à Câmara de Oeiras. O candidato integra-se naquele grupo de políticos que ganharam o título de caciques ou seja, pessoas que têm tendência para se perpetuarem no poder, confundindo-se com ele, impondo a sua personalidade, estabelecendo redes de interesse e influência à sua volta nas quais se apoiam, para alem de discursos mais ou menos demagógicos em que cabem promessas, ameaças, explicações simplistas e enganosas da realidade, acompanhada de gestos de grande magnanimidade tais como: passeios de helicóptero, distribuição de electrodomésticos ou explicações surpreendentes, como a de que ser constituído arguido é um passo em frente na direcção do arquivamento do processo. Luís XIV dizia que “eu sou o Estado”, este não vai tão longe mas vai insinuando que a justiça é ele. Pondo o “nome nos bois”, como se costuma se costuma dizer: o Isaltino vai à frente nas sondagens para a Câmara de Oeiras, o Valentim esmaga em Gondomar, Ferreira Torres tem Amarante no papo e a Felgueiras só não reconquista a sua porque receia ser detida se regressar.
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  • Ouvi analistas referir que estes casos constituem uma espécie de vírus da democracia e que não são de hoje nem daqui. Já existiam na Grécia antiga, no tempo de Péricles e continuam a existir um pouco por todo o lado embora mais nuns que noutros, acrescento eu, não só em função do grau de cultura e civismo das pessoas como igualmente da tendência que tenham para reagir e comportarem-se em termos mais ou menos emocionais. Naturalmente, estes casos, numa sociedade altamente mediatizada, constituem prato forte dos meios de comunicação social, com comentadores e analistas que na tentativa de os denunciarem acabam por funcionar como caixas de ressonância dando visibilidade e projecção a quem não a mereceria ter.
  • Daqui, meu querido sobrinho, a perplexidade perante a intervenção de certa imprensa que, intervindo num determinado sentido poder estar a marcar golos na sua própria baliza. Mas eu digo-te o que penso:
- A Democracia é um processo que nos envolve e responsabiliza a todos por igual porque o voto do analfabeto vale o mesmo que o do doutor. Todos sabemos isto mas por vezes não o levamos em linha de conta naquilo que são as suas implicações. Costuma dizer-se que um país tem os governantes que merece mas esta afirmação, quanto a mim, joga a favor da democracia porque com ela é possível aprender com os nossos próprios erros. Votar é optar, escolher e ao fazê-lo as pessoas definem-se em função de posições pensadas, construídas com base em princípios, valores, objectivos de médio ou longo prazo e de preocupação com a qualidade de vida dos nossos filhos e dos nossos netos, ou então pensamos nos nossos interesses imediatos, ou que julgamos ser, e pouco mais e decidimos em conformidade. De qualquer forma o futuro é um processo de aprendizagem que a democracia viabilizou. Se a decisão tomada foi diferente daquela que verdadeiramente queríamos, porque condicionada ou influenciada ou se ela era mesmo aquilo que nós queríamos, pois bem o futuro lá está para nos emendar a mão da próxima vez, ou não. Há políticos que exploram de maneira hábil as muitas facetas da natureza humana e tiram partido disso para ganhar o poder. Nada a fazer, apenas continuar a lutar pela democracia que garante a liberdade de aprender, de desenvolver massa crítica de fazer amanhã diferente de hoje. Não concordo, portanto, que sejam vírus da democracia. Pelo contrário, se eles não existissem existiria outra coisa que não daria pelo nome de democracia.
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Quererá isto dizer que vamos ter que viver com os caciques empoleirados no poder desafiando a racionalidade do futuro das nossas vidas colectivas? Para já, a lei foi alterada, ou vai ser, o que representa um sinal de aprendizagem importante especialmente porque se tratou de uma reacção da maioria do povo português representado na Assembleia. Depois, vamos acreditar na capacidade de evolução da massa crítica dos portugueses. Quanto à intervenção da imprensa, no caso do Isaltino, distinguindo o que é informação do que é opinião, direi que a primeira tem a ver com a verdade, a segunda com os princípios mesmo que a marcar golos na própria baliza ou seja, há que denunciar se, em nome dos princípios, for de denunciar.
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E por agora é tudo. Não sei se o texto representa fielmente tudo o que penso mas o mais importante aí está. Xau. Boa tarde Tio Quim