segunda-feira

Os inimigos da ciência são aqueles que pensam que a verdade só tem um lado..

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us
  • Quando vejo alguém, mesmo que sejam cientistas oriundos das ciência duras - como o prof. N. Crato, dizer que as coisas políticas podem ser estudadas mas nunca assumir o estatuto de ciência, dá vontade de rir. Primeiro, o homem leva-se demasiado a sério, e isso é logo a 1ª atitude filosófica que se deve questionar (e evitar), mesmo em ciência - pura ou aplicada. Depois, este seguidor da telescola e discipulo de A. M. Baptista (que ofende mais do que esclarece) - vai para as páginas do Expesso ofender os fundadores da filosofia, da ciência política e da sociologia - e até da história -. No fundo, acaba - mesmo que ingenuamente e sem nunca ter lido um tratado de Política - doutro modo não afirmava as "bacuradas" de que foi autor, - por ofender o próprio director do jornal, o arqº José António Saraiva - que faz análise política há anos. Mesmo que se trate de opinião, para as lentes do génio Crato este tipo de opiniões - como não são medidos pelo seu peklise - não pode configurar ciência.
  • Mas o que aqui desejaria sublinhar - na esperança de abrir uma faixa escondida do cérebro do cientista Crato - é o seguinte: toda a ciência se desenvolve no quadro duma episteme, ié, de um quadro de pensamento que está em ligação com muitas outras ciências que lhe são contemporâneas.
  • A arte e a técnica está em saber alojar as elaborações do homem como objecto de conhecimento. E isso tanto pode ser a descoberta de um novo medicamento para a memória (do génio Crato), como a invenção de uma teoria política que permite abrir um campo de acção cujas vantagens para as populações são verdadeiras imagináveis. A queda do Muro de Berlim, por ex.
  • Nunca pensei ter de comentar estas coisas óbvias para um notório divulgador do conhecimento científico. É nesta redistribuição global da episteme que as Ciências Humanas encontram o seu local de nascimento. Mas devido a esta proximidade, elas perdem qualquer possibilidade de ascenderem a um verdadeiro status científico. Mas é ao mesmo tempo essa relação de vizinhança relativamente à Política, à Biologia, à Física ou à Filosfia e ao Direito - que são projecções - que as torna possíveis. Imagine-se o sr. Crato a falar de estruras de pontes - da resistência dos materiais, da velocidade dos ventos - tudo num mundo só habitado por ferro e aço!?
  • Seria, certamente, ridículo! Ridículo e pesado. No entanto, é aquela relação de vizinhança que mina a confiança entre aquelas ciências - duras e sociais. É essa proximidade que as obrigou a pretenderem-se científicas, um raciocínio que se adensou através da lente suja do supra-referido génio lusitano. Não confundir com uma outra espécie - também mui lusitana de Alter do Chão - essa sim, uma verdadeira ciência da genética nacional, que não deixa de ser arte.
  • Por isso, creio que a pior atitude cultural que se pode ter nesta matéria está em eleger uma ciência que seja uma supra-ciência, depois reservar-lhe um lugar à parte, como se fosse uma meretriz de luxo, a mais cara da festa guardada para o príncipe mais rico que a vai disfrutar dum quarto de hotel de 68 estrelas. A estrela que falta será para um qualquer cientista perdido na contagem de tanta estrela... E assim atribuir-lhe um lugar privilegiado de contra-ciência, tomando as outras pela mão, ou então empurrando-as ribanceira abaixo - porque a sua vocação é mesmo estamparem-se por falta de positividade.
  • Em face do exposto, será que alguém é capaz de explicar ao prof. Crato que a arqueologia do nosso mundo contemporâneo supõe uma configuração subterrânea, desenhando uma grelha do saber que torna impossível e ridículo o pseudo-discurso científico daquele divulgador de electricidade em pó...
  • Confesso, que a atenção que prestava ao referido cientista desvaneceu-se, no pó. E agora a produção de enunciados - de qualquer ramo do conhecimento - por não ser científico nem se deixar medir pelos instrumentos de precisão do Sr. Crato - fica sujeita a uma qualquer betoneira da Engil ou da Teixeira Duarte que, com os cálculos feitos no laboratório, dá ordem para que se produza conhecimento na área das ciência sociais e humanas.
  • Ironia à parte, deve-se sublinhar o seguinte: a abordagem puramente política da ciência (na vida doméstica e internacional) vai-se colocar de forma simétrica à das outras ciências e ramos do saber. E porquê? Porque - em ambos os casos (quer se trate de ciências duras (do sr. Crato), quer se trate de ciências políticas - fundadas em Aristóteles e Maquiavel) , coloca-se sempre o sentido de oportunidade (e, patológicamente, do oportunismo).
  • Mas cabe à abordagem política posicionar-se de forma criativa e até caótica, desordenada, na medida em que influi na evolução da vida internacional ou a ela deve adaptar-se. Proporcionando, por exemplo, um quadro de estabilidade política, económica, social e, especialmente, de mentalidades que permita ao Sr. Crato poder estar sentado num estúdio de TV falando para milhares de pessoas que o vêm dizer umas coisas interessantes sobre ciência e tecnologia, mas também o ouvem dizer umas bacuradas "translumbrantes" que não lembra o careca. Confesso aqui que não estou certo da existência correcta daquela palavra aspeada... O que prenuncia já um efeito degenerativo daquelas ditas bacur...
  • Mas não é por ser político que a abordagem deixa de ser teórica, na medida em que permite organizar os factos da vida internacional e em que vá servir de guia para a acção da globalidade. Essas duas possibilidades - organização do campo de reflexão e elaboração da norma-condutora da acção política (praxis), definem a importância do enfoque teórico para o exame das grandes questões internacionais do nosso tempo.
  • A sofisticação das teorias sobre a realidade internacional deve ser medida pelo grau de realização dessas possibilidades, e não pelo mero aparato formal. É óbvio que isto para o sr. Crato será uma bagatela pseudo-científica, para mim representa um quadro epistemológico que abre caminho à ciência (e à praxis) política.
  • Talvez ainda não tenha percebido: mas para o caro cientista, que revelou enfermar de algumas sérias limitações epistemológicas, só poder estar na tela da TV a mostrar painéis solares que servem para aquecer água tépida a muita gente que lava o rabo e faz as sopas , porque antes houve uma revolução, seguida duma pacificação, dum consenso, de mudança social, de alteração de comportamentos etc e tal. Sãoas categorias polítias e sociais que precedem tudo o resto. Não é o ferro e o aço, nem as leis da física que conduzem as dinâmicas sociais...
  • Tudo conceitos que lhe são estranhos, mas sem os quais não poderia aceder ao veículo de massas que é a televisão para transmitir algum conhecimento útil à população portuguesa, estimulando-a à investigação e à experimentação científicas, porque nem tudo o que diz remete para a quinta das bacuradas.
  • Tamanhas elas são que poderá aqui fazer o seu auto-teste... Desde que esteja preparado para assumir o sentido do que disse. E o que disse, por outras palavras, é que só as (suas) ciências duras é que podem ter o estatuto de princesas da coisa científica. Ou seja, ser a rainha das meretrizes, remetendo todas as outras para bares e alternes de 5ª categoria e, portanto, com uma clientela de baixo nível.
  • O que é um absurdo. O mesmo é dizer que, talvez ingenuamente, o homem deve fazer a guerra só para testar as armas... Mesmo que no final o resultado desse estúpido teste conduza a milhares de mortos...
  • Em política, meu caro, não se pode fazer os testes que você faz no laboratório, sob pena de..