sábado

Filo-terrorismo & Segurança & defesa: o quarteto da guerra e paz: bárbaros, fanáticos, piratas e profetas

  • Passou um ano sobre o ataque terrorista a Madrid. Estas simples palavras são em homenagem às suas vítimas e seus familiares. Bem como às vítimas de terrorismo em todo o mundo - dado tratar-se de um cancro global que exige uma luta mundial.
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  • O meu maior sonho é explodir-me, segundo as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa. Tal remete para a recente implosão em Leganés, periferia de Madrid, e recoloca o integrismo islâmico no centro da análise fazendo de Espanha o paiol da Europa. Cercados pela polícia, os terroristas não hesitaram em auto-imolar-se numa vivenda de 4 andares.
  • Porquê? agressividade grupal pela ocupação do Médio Oriente pelos EUA?; ausência de modernização?; anti-judaísmo? pobreza e dependência generalizada? Tudo conduz ao ressentimento dos muçulmanos e do mundo árabe que utilizam a vingança para resgatar a honra. Um árabe prefere morrer em dignidade a viver na humilhação e vergonha. E o que se passa neste momento é que nunca a vergonha foi tão grande, como sistematiza o valioso livro sobre O Martírio no Islão de Helder Santos Costa (ISCSP).
  • As crianças não querem ser médicos ou professores, querem ser mártires e matar os israelitas (e o Ocidente). Numa parede em Gaza lê-se: “Se eles têm a bomba atómica, nós temos a bomba humana”. Será que haverá uma filosofia do martírio por amor ao Céu e ao Paraíso (sem noiva)? Ou será que este filo-terrorismo espelha o niilismo de quem quer ser o coveiro do Ocidente? Dum lado estão séculos de razão, de cristianismo, de Platão, Kant e Hegel; do outro estão os sentidos que nunca mentem e mostram o real, o ser e a mudança. Logo, a mentira, segundo os integristas, está na razão e nas suas abstracções com que distorcem o real.
  • Daí o recurso ao niilismo como combate à miséria intelectual do Ocidente rico, negando os seus valores. A chantagem da subsidiária terrorista para a Europa traduz uma nova leitura dos valores da existência entre duas civilizações: o Cristo e o Anti-Cristo. Desconheço se a Al Qaeda (AQ) leu Nietzsche, mas o ódio e a violência praticados são tentativas de remeter o Ocidente para a noção de pecado e culpa por uma degenerescência psíquica e fisiológica ligadas ao cristianismo.
  • Cada acto de martírio é uma Vontade de Poder dos fracos na luta contra a prepotência do Ocidente: infligindo dor sobre o prazer, caminhando do niilismo passivo (espectáculo ignóbil do mundo) para o niilismo activo (revolta destruidora) dos que não se resignam à assistir às ruínas dos seus antigos ideais: o califado universal.
  • Daí a conversão do mundo numa favela incendiária pelo festim terrorista, sua última chance de matarem o (outro) Deus. Arafat preferia meter uma bala na cabeça a entregar-se. E o lema é: eu mato, logo existo. Fórmula que a AQ globalizou, talvez inspirado por Zaratustra. Pobre do Omar Bakri ante Nietzche.
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  • Segurança & defesa: o quarteto da guerra e paz: bárbaros, fanáticos, piratas e profetas
  • EUA, Espanha, Iraque, Arábia Saudita, Turquia, Quénia, Índia, Indonésia são nações que sofrem os efeitos do terrorismo. Carecem duma inteligência capaz de conceber estratégias nacionais para diagnosticar as condições sob as quais o séc. XXI deve ser abordado, designadamente em matéria de segurança e competitividade: quer para identificar ameaças, quer para reflectir sobre a natureza da guerra e paz entre as nações, como diria Aron.
  • Nesta viagem analítica convidamos o leitor a identificar 4 espécies de personagens: os bárbaros tecnólogos, os fanáticos, os piratas tecnólogos e os profetas. A enquadrar este “quarteto” que inferniza o mundo “civilizado”, sobretudo desde o 11 de Setembro, estão outros 4 factores indispensáveis à formação da potência, dentro e fora das nações: riqueza/conhecimento/ideologia/violência. Todos estes vectores interagem entre si, mesmo que ocultamente.
  • Percorramos, pois, a génese desses cavaleiros do apocalipse: os bárbaros tecnólogos representam uma ameaça terrível, organizada e profissional. Reduzem o mundo a peças de lego, seleccionando os alvos a abater, cartografando-os em mapas de pequena escala consumando a sua destruição com adequados meios financeiros, logísticos e militares. Este modus operandi é potenciado pelas tecnologias da globalização “feliz”, apesar da infelicidade dos resultados. O objectivo é deixar o Ocidente (rico, cristão e arrogante) de rastos, motivado por uma agressividade dinamizada por agentes anónimos, clans, mafias entre outros átomos terroristas made in Terceiro Mundo para quem a vontade de matar tem uma precisão de tiro estonteante. O 11 de Setembro revelou essa hiper-realidade, numa aceleração dos sistemas de aniquilamento, pondo fim (à morte) como acidente.
  • Os fanáticos são da mesma família, mas não têm “skills” estratégicos nem capacidade tecnológica, só dispõem da vontade de matar. Se não conseguirem produzir danos de monta ao tal “Ocidente” globalizador, já é “gratificante” saberem que podem cimentar alianças, traficar equipamento e sistemas da morte úteis aos operacionais do terrorismo global.
  • Os piratas tecnólogos são o 3º personagem na tabela das ameaças contemporâneas à nossa civilização. Operam como os antigos piratas privados, especialmente no domínio da guerra económica cujos estragos disfuncionam os sistemas de comunicação e transporte, serviços, distribuição e redes indispensáveis ao funcionamento do “cérebro” das sociedades. Trata-se duma nova classe de guerreiros que dispensa o mar (necessário aos holandeses de quinhentos), mas que conduz a guerra por outros meios (Clausewitz), ameaçando a defesa nacional na idade da informação. Com a gravidade inquietante de muitas autoridades civis ignorarem esta nova ameaça oculta. Tornando-se mesmo incapazes de mobilizar os recursos e o sistema de resposta (não militar) para evitar eventuais ataques anónimos dirigidos contra alvos civis essenciais.
  • Os profetas primitivos, alicerçados por uma ideologia prosélita ancorada na loucura das massas, são o 4º personagem deste diagnóstico dos sistemas da morte. Uma espécie de concílio de fanáticos, ideólogos, refugiados do Terceiro Mundo e da ex-Europa de leste (dissolvida com a implosão do império soviético), que a Intelligence ocidental não consegue domesticar. Com uma contingência extra, uma vez que tais elementos culturais não deixam antecipar qualquer capacidade de resposta do Ocidente, como tragicamente mostrou o massacre de Beslan.
  • A crise do Atlântico, induzida por diferentes perspectivas sobre o modo mais eficaz de enfrentar a ameaça do terrorismo islâmico, revela que é o sistema cultural que determina o que pode ser pensado e comunicado em cada sociedade e região.
  • É na teoria da cultura (mais do que no “choque das civilizações”) que está a chave integradora da crise vulcânica que tem gerado o choque de placas tectónicas nas relações internacionais do séc. XXI. Hoje, a assinatura da evolução da guerra e pax (segurança interna/externa, a curto/longo prazos) depende dos sinais desse teatro estratégico, tragicamente nas mãos do quarteto personificado na Al Qaeda: bárbaros, fanáticos, piratas e profetas. É para erradicar essa barbárie que devemos evocar o 11 de Setembro.
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