A GRANDE MENTIRA...
Parece ser a regra da arena política, maxime em período eleitoral(eiro). Vejamos como e porquê: desde o 25 de Abril que os nossos actores políticos prometeram políticas de desenvolvimento para responder aos anseios dos ricos e às necessidades dos pobres, que um dia seriam ricos também. Essas mesmas elites políticas dirigentes prometeram que, produzindo automóveis, os pobres teriam um sistema de transportes público eficiente; que, construindo habitações para os ricos, teriam as suas casas; construindo estradas, teriam bons acessos, água e saneamento básico; fazendo universidades para os filhos dos ricos, teriam escola para os seus próprios filhos.
Depois prometeram que o crescimento económico, como o milagre da multiplicação dos pães, geraria um rendimento que se globalizaria por toda a sociedade, via emprego. Passaram 30 anos, verifica-se que o desemprego é galopante fragmentando as sociedades, desarticulando laços familiares, destruindo projectos e sonhos pessoais. Os salários, são os mais baixos da Europa – que não cresce - , os pobres continuam na mesma morada: simplesmente pobres.
Apesar de tudo, o dito desenvolvimento construiu uma sociedade moderna, sofisticada, assente no satélite, na fibra óptica e na Internet. Eis a nova infra-estrutura do aparelho produtivo global do novo tempo, neste novo mundo, que já não reconhece Marx. Só que há um pequeno problema: as coisas boas que aquela infra-estrutura produz apenas são consumidas por uma minoria. Por isso, é que aquelas promessas de desenvolvimento, não obstante os progressos materiais e espirituais dos povos, foram, na sua extensão, uma grande mentira inventada pelos aristocratas do risco que as multidões compraram.
Afinal, os pobres ficaram sem os tais hospitais, as tais estradas, as tais escolas e uma miríade de bens e serviços que hoje só muito limitadamente estão ao alcance de todos.
A razão desta reflexão é a de fazer pensar antes de votar a 20 de Fevereiro. O critério deve ser tentar perceber quem, de entre todos, mente menos. Que propostas são as menos más. E que agentes políticos oferecem um patamar de credibilidade próximo do aceitável? Tendo em conta também os "bons costumes", claro... Assim, o eleitor não faz o gesto do Bordalo Pinheiro, cujo centenário agora se assinalou. O eleitor é, agora, mais avisado, prudente e sábio. O maguito, agora, é mais fino e refinado.
Assim, evitará cair de novo na esparrela da grande mentira, traduzida no fracasso social das políticas económicas, nos desequilíbrios orçamentais, no esgotamento do sistema financeiro acelerado pelo mercado global e na ineficiência do aparelho produtivo nacional, que é dos mais atrasados da Europa.
Hoje, a classe dirigente que temos disponível no mercado político, já ajustou o seu discurso às novas circunstâncias, para poder continuar a enganar em nome da obsessão do poder pelo poder. Só que hoje os eleitorados estão melhor preparados, mais informados, são mais qualificados e já não acreditam que se possa plantar ananases na Lua quando, na realidade, nem sequer se comem tomates na Terra.
De tudo resulta que o povo português, que tem arcado com o peso do “pedrulho de Sísifo” já não (queira) acreditar que o discurso do modelo de desenvolvimento e dos choques – “tecnológico” e de “gestão” – (que são complementares, excepto na cabeça pobre daqueles figurantes da política – que representam um guião escrito por terceiros) incorpore toda a população. Mesmo que, desta vez, seja verdade, já ninguém acredita, tamanha é a descrença destes últimos meses... Por isso, os portugueses, presos no meio da ponte velha e com os crocodilos esfomeados a assistir, já não acreditam no paraíso da globalização reflexo daquela grande mentira.
Que fazer, então? Substituir uma mentira por uma ainda maior. Lembram-se do poema de Fernando Pessoa…"só sente a dor...
Por isso – portugueses – caros concidadãos – não acreditem na nova mentira do neoliberalismo do Consenso de Washington, geradora deste colete (negro) de forças em que estamos metidos, prometendo a tal riqueza para todos, mesmo que já ninguém acredite que os ananases não crescem na Lua..
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