sexta-feira

A mediação e os bons ofícios do Governo no caso da greve dos motoristas de combustíveis perigosos

PAIRA DE NOVO A AMEAÇA DE PARALISAÇÃO DO PAÍS MEDIANTE O AVISO DE GREVE DOS MOTORISTAS DE COMBUSTÍVEIS PERIGOSOS. VIVEMOS, DORAVANTE, SOB UM REGIME DE CHANTAGEM TRIMESTRAL POR PARTE DE DOIS GRUPOS PRIVADOS QUE TEIMAM EM NÃO SE ENTENDER ENTRE SI. 

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Doravante, o Governo já não pode evocar o argumento que não está preparado com esta nova ameaça de greve dos motoristas de combustíveis perigosos. Desde o início do mês de Abril, pelo menos, que o Governo sabe dessa intenção dos sindicatos e do sector patronal dos transportes que, de novo, ameaçam paralisar a circulação rodoviária e a aviação, bem como interromper o fornecimento de bens e serviços à população, interromper o transporte de doentes e, no limite, criar o caldo de cultura colectiva para instabilizar a ordem pública que incumbe ao Governo garantir, ou prevenir. 
O que aqui é mais inaceitável é a forma como o Governo não se preparou para a crise anunciada, e desde Abril também nada tem feito para criar uma alternativa credível aquela greve que, em rigor, deixa o país em suspenso e refém daqueles dois grupos privados, sindicatos e entidade patronal do sector dos transportes, cujo número de trabalhadores nem sequer ascende ao milhar, ainda que sejam justas as suas pretensões socio-laborais. 

O governo apresenta-se como mediador entre as partes, ou seja, o elemento facilitador que procura integrar a acção conjunta daqueles dois contendores. Contudo, a natureza delicada daquele sector estratégico para o país, porque interfere directa e imediatamente com a economia e os comportamentos dos seus agentes (e a ordem pública e a paz social!!!), faz com que incumba ao Governo assumir a responsabilidade imediata daqueles efeitos nefastos na economia acaso ocorra uma nova greve no sector.

Aquela interrogação conduz à seguinte (re)formulação: será que ao Governo apenas incumbe a mediação dos interesses entre as partes em nome da justiça para ambos (os trabalhadores e a componente empresarial), ou exige uma atitude mais musculada a fim de evitar que o Governo do país, ou seja, os 10 milhões de portugueses fiquem, de novo, reféns dessa situação por parte dos "amigos do costume"?!

 O Governo, por saber que se abriu um grave precedente em Abril que paralisa completamente todo o país, com custos avultados para a economia nacional e a imagem externa do país, não deveria criar uma verdadeira alternativa de "postos de abastecimento públicos independentes" capazes de esvaziar aquele efeito da greve por parte dos motoristas de materiais perigosos!?

Momentos há em que os Governos dos Estados não devem apenas ser mediadores de complexos processos negociais ou cultores dos bons ofícios, mas ser os verdadeiros guardiões do interesse público, nem que para o efeito tivesse de intervencionar o sector (ou parte dele) a fim de garantir que esse tipo de ameaças e chantagens não sobrevoasse mais a economia nacional e a ordem pública.

Ao fim e ao cabo, este tipo de ameaça não deixa de configurar uma nova modalidade de terrorismo pós-moderno das sociedades contemporâneas, em que por via de acção ou omissão de um ou dois grupos de representantes de classes sociais, bloqueia-se completamente o país.

E isso é inaceitável num estado de direito.


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