Três reflexões sobre o 10 de Junho e o Dia de Portugal e das Comunidades
Luís Vaz de Camões - ca.1524 / 10 Junho 1580
Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo, caridade,
Amam somente mandos e riqueza,
Simulando justiça e integridade.
Da feia tirania e de aspereza
Fazem direito e vã severidade,
Leis em favor do Rei se estabelecem;
As em favor do povo só perecem.
Os Lusíadas, IX, 28.
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Uma reflexão de Camões
Que espelha o zeitgeist
A "qualidade" e motivação da classe política
O espírito das leis (Montesquieu...)
E a corrupção política e moral do nosso tempo.
Vive-se para dar lustro ao capital simbólico, esqueceu-se a definição da lógica desenvolvimentista das cidades do interior, de que Portalegre, por ex., é o exemplo mais acabado.
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Como se desenvolve o interior de Portugal?
- Gastando 5 ou 7 Milhões de €uros a deslocar todo o equipamento militar (de todos os ramos das FAs) para uma cidade do interior e fazer pequenas demonstrações parcelares do que cada ramo é capaz; ou organizar conferências temáticas, com chamada de investidores nacionais e estrangeiros, acompanhada dum pacote de redução substancial de impostos e de apoios às PMEs - veiculado pelo Governo e pela autarquia respectiva?
Como se deve gastar os recursos dos portugueses em tempos de crise?
Apostar mais no capital simbólico, como se fez nas Comemorações do 10 de Junho (que também é importante); ou apostar mais numa via desenvolvimentista, orientada para a captação imediata de investimento estratégico capaz de atrair e fixar recursos nas áreas da Saúde, da Educação, do Ambiente, das Novas Tecnologias, da Logística, etc... Que poderia ser determinante.
Naturalmente, tudo isto só seria possível se Portugal fizesse duma descentralização a sério, transferindo competências e recursos hoje centralizados em Lisboa para delegações regionais que, com maior proximidade das populações, conseguiriam identificar as prioridades estratégicas para cada uma dessas regiões deste nosso querido Portugal que ainda está muito atrasado comparativamente aos seus parceiros europeus.
Seguramente, não se desenvolve um território por decreto, mas é da articulação do desenvolvimento de ferramentas de gestão do território, em particular o seu Plano Director Municipal, planos de urbanização, planos de pormenor, áreas de reabilitação urbana assim como cuidar dos chamado plano estratégico de desenvolvimento - que reflictam todas aquelas estratégias parcelares - é que se encontra a condição essencial para o aumento da qualidade de vida dum território e dum concelho.
É disto que, por ex., o concelho de Portalegre carece, mas urge que os actores vivos da sociedade civil participem e discutam essas vias para o desenvolvimento, e desenhem as políticas públicas que lhes possam dar resposta rapidamente, sempre preservando as identidades locais e regionais e potenciando a elevação da qualidade de vida para todos.
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Parabéns a João Miguel TAVARES
e como natural da terra teve a coragem de denunciar a corrupção que ainda graça na nossa classe política, o afastamento das pessoas do interior da capital, das assimetrias regionais, das cunhas institucionalizadas na nossa cultura nacional, da dificuldade em vencer na vida apenas pelo mérito, da relevância da arraia miúda na construção do Portugal contemporâneo, etc...
Foi um discurso lapidar com grande sentido e racionalidade para o futuro. E com uma grande mensagem de esperança para todos e de combate à interioridade, de que Portalegre tem sido alvo ao longo das décadas.
E disse tudo perante um PR algo sorridente e um PM com ar sisudo e grave.
A. Costa tem de perceber, tal como sublinhou JMT, que temos de compreender que precisamos de saber para que somos precisos além de pagar impostos.
Ainda que a sua mensagem não fosse dirigida para nenhum em particular, cada qual parece ter assumido, sintomáticamente, as suas dores.
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