sábado

Vergílio Ferreira - entre a casa e o comboio nos flash-backs ao futuro -

Nota prévia: O homem vive num constante tandem, que parece obedecer ao freudiano princípio do prazer e da realidade. Desejamos uma coisa e sai-nos outra; queremos percorrer um caminho e somos condicionados a trilhar outro; por vezes, ficamos entalados entre a casa - que já não é nossa - e o comboio que não sabemos se o podemos apanhar e vegetamos nas escadas do sonho e do desejo. Talvez o melhor mesmo seja andar a pé e, pelo caminho que ainda há a percorrer, aproveitar cada passo que se pode dar observando cuidadosamente a paisagem, a qual não nos devolve o passado sonhado, mas pode aliviar um futuro incerto e programado dentro de certas balizas. Só assim se poderá redescobrir a vida nos seus elementos mais simples, como refere o escritor. 
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No final de uma vida, entrando no seu epílogo, um homem já sem destino para cumprir medita sobre o seu passado e o seu futuro, no regresso a uma casa vazia onde passou parte da sua infância, povoada de fantasmas que evocam os momentos chave da sua existência. Recheado de flash-backs para o passado e para o futuro (!), a antevisão, real e com todos os detalhes, da degradação da sua velhice e do seu funeral urge em Paulo a derradeira tentativa de procura da explicação de um sentido para a vida, alimentada por muitos sonhos e esperanças no tempo em que tal era devido, cheia de frustrações e desilusões posteriores frutos de um destino azarado e de uma fatalidade previsível, condições propícias para um redescobrir da vida nos elementos mais simples que anteriormente passavam despercebidos na azáfama do cumprimento do quotidiano e de toda uma vida alicerçada nos seus valores supostamente mais altos. [...]
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