quinta-feira

BISCATES – A Direita Vendida – por Carlos de Matos Gomes

Nota prévia: Vale a pena ler este pedaço de prosa que caracteriza lapidarmente a direita velha, doente, corporativa, interesseira e reaccionária (hoje disfarçada de pós-modernaça) tributária de Paulinho Portas, passos coelho, Cristas e demais quinquilharia dos restos que ficaram duma evolução doutrinária do Estado novo até aos nossos dias. Duma direita videira e videirinha que não hesita nunca em colocar os interesses particulares dos seus agentes e dos interesses empresariais que defendem e promovem contra o bem comum, ainda que o façam sob pretexto de que estão a defender a pátria e o interesse nacional com a bandeirinha nacional na lapela e o lugarinho reservado no Conselho de Administração da empresa para a qual, enquanto governantes, venderam ao preço da uva mijona as principais empresas portuguesas (TAP, PT, EDP, etc). É assim a direita dos interesses e interesseira em Portugal eficientemente resumida pelo Cor. carlos Matos Gomes.  


BISCATES – A Direita Vendida – por Carlos de Matos Gomes


O Estado Novo, ou o salazarismo, era um regime nacionalista. Por ser uma ditadura, conservador, anti-comunista e anti-liberal e, acima de tudo, por ter durado muito, o salazarismo foi confundido com a Direita portuguesa. Passou a ser entendido como a essência da direita portuguesa. Para os seus adeptos e opositores, durante quarenta e alguns anos a Direita era o salazarismo e era nacionalista.

A realidade não era essa, mas a imagem projectada pela propaganda de António Ferro foi a de uma direita que tinha as glórias de Quinhentos e os Lusíadas como padrão da identidade nacional. Um grande povo de uma pequena nação. Portugal contra o Adamastor. Portugal contra o Mundo. O mapa de Henrique Galvão para a Exposição Colonial, com as colónias portuguesas a cobrirem a Europa e a legenda: Portugal não é um país pequeno, representa o pensamento da direita nacionalista portuguesa.

Essa direita foi apenas um hiato na história política da direita portuguesa, pelo menos desde o Tratado de Methuen.  A velha direita, a direita da História, a direita de sempre, a da venda e do servilismo, é a que recebe hoje os funcionários da Troika com entusiasmo e fervor.

É a velha direita de carcereiros da dignidade que temos a bater em tachos e panelas a propósito das discussões sobre o orçamento e das negociações com a Troika.

É a velha direita a que se expressa através dos comentadores que assaltaram os meios de comunicação contra o atual governo, acusando-o de não cumprir as ordens de Bruxelas quanto ao défice e aos cortes sociais.

É a velha direita a de Assunção Cristas, quando a candidata a substituir o velho Paulo Portas exclama: ai Jesus, Deus nos salve!, que porque “O PS está a fazer escolha de alto risco e muito perigosa” (JN de 31 de janeiro) apenas porque o governo não obedece sem pestanejar – pronta e completamente – às ordens da Troika.

É a velha direita a de Paulo Rangel, que range fanhosamente para denunciar – sim para denunciar – à Comissão Europeia que os “esforços da população portuguesa” podem ser postos em causa devido ao “acordo de forças da extrema-esquerda com o PS”, só porque, mais uma vez, o governo ousa negociar e contrapor argumentos às determinações e assobios da troika a propósito do orçamento.

É a histórica direita da hipocrisia, a que apoiou e louvou a subserviência do anterior governo para liquidar o BANIF e o entregar ao Santander, escolhido pela Comissão Europeia.

O que vemos nos ecrãs e lemos nas colunas dos jornais é a velha direita dos senhoritos e cortesãos, que vendem o que é público a troco de rendas e comissões.

É a velha direita organizada como corja parasitária, de acesso restrito, que acentua diferenças e desigualdades, que não tem um projecto de sociedade, nem de comunidade. A direita do enriquecimento rápido, sem consciência social.

É a velha direita, a do compromisso Portugal e do Observador, a dos Mexia e dos Catroga da EDP, da PT, do BPN, do BES, das PPP, que vendeu os aeroportos, as pontes, a TAP, os transportes públicos, as águas, o vento e até os lixos.

É a velha direita a que exulta com as exigências da Troika de cortes nos rendimentos e prestações sociais dos mais desfavorecidos. A que negoceia a venda ao estrangeiro de bens públicos estratégicos e recebe a paga da traição com lugares nos conselhos de administração.

É uma velha direita vendida, sempre prostituta, que hoje envia os seus peões e lacaios para os estúdios de televisão, para os jornais, para as redes sociais alegrar-se porque o governo português está a levar pancada de Bruxelas!

São os esbirros dessa velha direita que acusam o governo de não capitular e de não facilitar os negócios, à custa de baixos salários, de liberalizar ainda mais os despedimentos e acentuar a  precariedade; à custa de cortes na saúde e na educação pública. É uma direita de import- export, de videirinhos, que tem os seu intelectuais, os seus historiadores os seus vendedores, os seus delegados de propaganda avençados e disseminados para impingirem até à náusea a ideia de que não há alternativa à cobardia e à traição.

Esta direita é, como foi sempre, um vespeiro furioso.


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