Justiça que tarda não…por Eurico Heitor Consciência
Francamente, não gosto de ordens, de comandos, sejam
de generais ou polícias ou das leis. O Marcello Caetano citava não sei quem,
que já citara quem se não sabe, que reproduzira dito anónimo, para dizer que as leis são como as virgens. Fizeram-se
para ser violadas.
Viram?
Não obstante – ou por isso mesmo – os nossos
democratas copiaram das democracias mais antigas, entre muitas outras, copiaram
duas coisas: o Provedor de Justiça – que ainda se não percebeu o que é que faz
e para que é que faz o que faz, já que os que ele quer que façam nunca fazem o
que ele diz -, o Provedor de Justiça e o Tribunal Constitucional. Duas coisas
carotas.
O Tribunal Constitucional tem juízes que já foram
Juízes e juízes que nunca foram, nem são, nem serão Juízes – mas que gozam de
vencimentos e mordomias ou conesias e comedorias que os Juízes nunca tiveram
nem nunca terão.
Reputados democratas defendem o T. Constitucional e
os juízes dele que não são nem foram Juízes. Que se trata dum Tribunal político
– dizem os seus defensores -, pelo que convém que alguns dos juízes representem
as sensibilidades políticas do país, bla – bla, bla – bla, bla – bla.
E os juízes do T. Constitucional, além de taludos vencimentos,
têm ajudas de custo, subsídios de refeição, passaporte diplomático e
interessante pensão de reforma ao fim de dez breves anos de mandato.
No que se refere a automóveis, o presidente e o
Vice-Presidente andam muito bem montados: o Presidente num BMW 740D (um topo de
gama que deve custar mais de 100.000) e o vice-presidente tem um BMW 530 D. Os
outros onze juízes andam de BMW 320D.
Levantou-se recentemente acesa e forte guerra porque se descobriu que
legalmente só o Presidente e o Vice têm direito ao automóvel. Os outros não têm
esse direito. Mas têm o automóvel – do que se deduz que são cá dos meus: também
não gostam das leis, não gostam de cumpri-las.
E alguns não resistem à tentação de os censurar por
isso, proclamando que seriam eles que deveriam dar o exemplo no cumprimento das
leis, porque são eles que fiscalizam o cumprimento das leis pelos restantes
cidadãos, porque lhes compete impedir que as leis desrespeitem a Constituição,
mãe de todas as leis, porque todas lhe devem obedecer.
Mas não têm razão. Esses críticos perdem de vista que um dos vectores mais relevantes da Justiça
é a sua celeridade, pelo que quanto mais bem montados andarem os juízes do
Constitucional mais depressa se podem reunir e fazer Justiça: aceleram os BM’s
e pronto, porque eles não ignoram que Justiça que tarda não é Justiça...
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