sábado

Evocação de Vergílio Ferreira

Narrativas do Tempo



De tempos a tempos regresso a Vergílio Ferreira como quem regressa a algo que se gostou, gosta ou se vai continuar a gostar. Algo que coze a estrutura ternária do Tempo (passado-presente-futuro) fundindo-o num Tempo só, mesmo sabendo tratar-se dum exercício impossível.

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Vive o Dia de Hoje!

Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver outro. 

Vergílio Ferreira, in "Escrever"

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