Timor-Leste: onde está a verdade? - Pedro bacelar Vascponcelos
Todos deploramos que "magistrados portugueses", sob esta única "denominação" veiculada pela Comunicação Social, tenham sido coletivamente qualificados, ainda que no âmbito de considerações laterais, como carecidos de experiência e adequada preparação em certos domínios técnicos, pelas autoridades timorenses. Por isso compreendemos, apesar de não as subscrever, afirmações de índole sindical ou corporativa sobre este "incidente" internacional. É de louvar a posição do Governo português, em comunicados do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Justiça, cuja moderação se aprecia, porque o Governo está obrigado a prestar contas aos cidadãos nacionais sobre os "incidentes" da cooperação internacional. E também porque a política da língua decorre de uma estratégia cuja continuidade tem sido assegurada por governos sucessivos, maioria e oposição. Não é portanto matéria que se possa levianamente comprometer em confrontos de fações partidárias. Pelo contrário, muitos comentadores de serviço revelaram crassa ignorância e flagrantes preconceitos chauvinistas nas declarações que prestaram sobre este "incidente", fazendo crer que tudo se resumiria ao "filme habitual" da tentativa de encobrimento da corrupção política que bem conhecem de outras latitudes. De novo, "os magistrados portugueses" estariam envolvidos numa verdadeira operação "mãos limpas", há 3 anos, e seria esta a razão do seu inesperado "despedimento". Se fosse assim, como se entenderia que esperassem 3 anos para se "desembaraçarem" deles? Porque permitiram a condenação e o cumprimento da pena de prisão da antiga ministra da Justiça? Por que atendeu o Parlamento Nacional, quase sempre, os pedidos de levantamento da imunidade de membros do Governo, para que respondessem perante os tribunais? Só por indigência e imperdoável malícia se explica tal insinuação!
As sentenças dos tribunais de Timor-Leste são públicas e assinadas pelos seus autores, tal como em Portugal. Recomenda-se que as consultem! O Conselho Superior da Magistratura timorense rege-se por normas análogas ao Conselho Superior da Magistratura de Portugal. Por isso não é o Governo de Timor quem nomeia os juízes nem lhes distribui ou retira os processos. Por isso, pode crescer a promiscuidade entre juízes timorenses e funcionários internacionais artificialmente equiparados aos primeiros, para o exercício soberano do poder de julgar e decidir processos judiciais, em nome da República de Timor-Leste. Ao mesmo tempo que se permitia que funcionários internacionais representassem o Estado e promovessem a ação penal, em paridade com os magistrados do Ministério Público timorenses. Uma história, enfim, que não podia ter um final feliz!
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Por outro lado, quando um Governo é fraco, como é manifestamente o caso do Estado timorense, que ainda nem água potável e electricidade tem nas habitações da maioria dos timorenses, o que revela que falhou a construção do saneamento básico nesta década perdida (após a independência, em 2002), e não dispõe de serviços de Saúde, Educação, uma Administração pública isenta e funcional -, desconhece a verdadeira separação de poderes e não tem sindicatos e uma imprensa livre e com massa crítica para denunciar os problemas e abusos de poder!!!
Quando tudo isso falta numa Nação - ainda à procura do Estado (uma alma em busca dum corpo) - seria crucial que Timor e os timorenses - que mandam no país, solicitassem uma intensificação das áreas de cooperação com Portugal e, se possível, um alargamento dos sectores onde ela seria mais urgente, dado que falta fazer quase tudo naquele incipiente e desorganizado território, que ainda é um imenso caminho de cabras.
Quando o nível de dependência logística e organizacional de um Estado é elevado - solicita-se cooperação aos países amigos e irmãos, como é o caso de Portugal, não se expulsam os seus quadros.
Por isso, não colhem as tentativas de explicação de Xanana, que manifestamente estava com receio do levantamento da imunidade política dos seus ministros, acusados de corrupção e de participação económica em negócio (como no sector da Saúde), - ainda que houvesse um excesso de voluntarismo por parte dos magistrados portugueses.
Um erro nunca se corrige com um erro ainda maior. E o constitucionalista, autor deste artigo, poderia ter feito ouvir a sua (influente) voz junto de quem tomou as decisões de expulsão (Parlamento e Governo timorenses), mas nada fez no momento, mas escreve agora artigos de opinião a procurar justificar uma lamentável decisão de expulsão de altos funcionários judiciários portugueses, ainda que enquadrados pela ONU, cujas consequências são, ou podem ser, a implosão de toda a cooperação bilateral de Portugal com aquele país irmão que se libertou do jugo indonésio, em grande medida, pelo apoio político-diplomático dado por Portugal e EUA - e também pela ONU - que enquadrou e acompanhou todo o processo de independência.
A história não deixa de ser essa velha rameira em que alguns personagens menores, porque sem dimensão de estadistas - como é manifestamente o caso de Xanana Gusmão (que nunca passou dum guerrilheiro que depois se civilizou) - se afirmam e se antagonizam com as suas próprias posições, perdendo toda a credibilidade - doméstica e na frente externa - onde Timor tem inúmeros problemas por resolver.
O acesso ao seu mar territorial e ao petróleo poderá ser um deles, mas também por essa razão é que todos os cooperantes portugueses que se encontravam a ajudar Timor a ser uma nação com um Estado sólido, deveriam ser acarinhados e não expulsos, como acabaram por ser.
A Austrália deve estar tremendamente feliz, e o pobre Timor de Xanana (e seus ministros, alguns dos quais corruptos) - tornou-se hoje num pequeno barco corrupto e à deriva pronto a ser engolido pelos tubarões regionais.
É bem feito, especialmente quando os pequenos personagens da política tomam decisões que denotam soberba e arrogância.
Xanana, pelas decisões que tomou, revela hoje ao mundo que nem sequer soube assumir o verdadeiro papel e missão de um verdadeiro GUERRILHEIRO!!!
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