quinta-feira

Este neo-capitalismo advertido pela OCDE...



Na sua proposta de Orçamento de Estado para 2012, o governo projecta cuma ontração económica de 2,8%, e mais recentemente, o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar admitiu que a recessão é provável que seja pior que o esperado, deverá situar-se nos 3%. Na prática, isto significa mais desemprego, mais falências, menos consumo, menos colecta de impostos numa espiral sem precedentes em Portugal. Isto apesar do crescimento das nossas exportações, o que é um sinal positivo, mas não resolve o essencial: a urgência do crescimento.

No plano político também sucede uma coisa surreal, que remete para o facto de Gaspar, o contabilista das finanças, ter de rever sistemáticamente as suas previsões em ordem a alinhá-las com a realidade micro e macro-económica do País que somos, e não com as estatísticas que ele desejaria que fossem. Esta falta de seriedade  - simultaneamente - técnica, intelectual e política - provoca estragos na economia real, destruindo a vida a empresas, às famílias e às pessoas. É lamentável que o Estado se engane sempre na realização destas contas e/ou estimativas. Ou então gaspar tem a mania das grandezas...

E tem sido esta espécie de nova estruturação do capitalismo made in Goldman sachs importado para o Gov de Coelho, que tem limitado a eficácia da abrangência das políticas anti-cíclicas, o que cria sérios problemas de mercado e de emprego.

Em relação a este último, a situação já assumiu contornos dramáticos, com o aumento do desemprego parcial e o regresso do desemprego estrutural. No plano mundial isto é assustador, dado que representa um aumento exponencial de marginalizados do consumo e do emprego. Naturalmente, isto coloca problemas de segurança e de criminalidade associados. Ainda que não exista uma causalidade directa e automática, esses fenómenos potenciam-se.

O desemprego estrutural, resultante dos mecanismos de exclusão típicos desse novo capitalismo, curiosamente, acaba até por reforçar a presença nas bolsas de pobreza no interior dos países ricos. Ao mesmo tempo que se agrava mais a desigualdade nos países pobres, como Portugal, aumentando aí as bolsas de riqueza.

É neste contexto que a distinção entre países ricos e países pobres, fica comprometida, já que os índices daqueles passam a conviver nos países mais pobres, ainda que as condições de partida nos países mais pobres limitem mais os portugueses a atingir níveis de desenvolvimento razoáveis nos próximos anos. Esta limitação - que é de crescimento, modernização e de desenvolvimento, é ainda agravada pela qualidade do escol dirigente, actualmente mau, o que penaliza ainda mais o ritmo daquele crescimento, impedindo países como Portugal de darem um salto desenvolvimentista que nos faça queimar etapas de crescimento e, desse modo, escaparmos à vaga de miséria a que esmagadora maioria da população portuguesa está votada.

Noutros tempos, a fragilidade dos Estados nacionais neste contexto de globalização da sociedade capitalista, tinha como contrapartida paradoxal o ressurgimento dos nacionalismos, hoje nem isso se afigura. Pelo menos, entre nós - que vegetamos mais no limbo sebastiónico que se alimenta dum nevoeiro que deixa as coisas "assim-assim", segundo o velho preceito do "mais ou menos".

Meio século de ditadura deixou-nos mansos, obedientes, resignados. O que nos leva a admitir que até neste tipo de costumes temos mais desvantagens do que vantagens, por isso seremos sempre dos últimos países da Europa a recuperar da forte trombada económica que aí vem. Cabendo à imagem reportar o tipo de sensação que estamos prestes a sentir..



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