quarta-feira

O sentido da História. Evocação de Edward Hallet Carr

História política, económica e social do séc. XX-XXI - aparece neste filme como um dos aspectos mais interessantes nestas mega-narrativas e interpela-nos acerca de saber qual o papel da casualidade na dinâmica histórica. Ou seja, perante a impossibilidade de se equacionar todos os aspectos na equação histórica, o historiador escolhe os que se afiguram mais interessantes, como defendeu Edward Hallet Carr, um dos experts da revolução soviética e também jornalista, historiador e brilhante teórico das RI.
O que significa que tudo aquilo que escapa à investigação mas tem efeitos significativos na dinâmica histórica, integra o acaso. E é aqui, segundo alguns historiadores, que a História converge para o domínio da Filosofia. Este filme acaba por ser um pouco de tudo, deixando, naturalmente, muitos factos relevantes de fora, até porque muitos deles ainda são do nosso desconhecimento. O que confere à História de tendência longa - (mais estrutural do que conjuntural) um certo encanto e fascínio, é que a História é, acima de tudo, futuro. E esse é indeterminável.
- A sagesse de Carr consistiu em compreender que a objectividade em história, como em qualquer ciência social, é uma utopia, daí a subjectividade da história e do historiador, já que não existem factos indepenendentes da interpretação de quem procura investigar e fazer história. Weber antes de Carr tinha concluído isso, e antes deste sociólogo já I. Kant tinha percebido a importância da intersubjectividade na produção do conhecimento humano.
- A essa luz, o passado só pode ser analisado à lupa do presente, e a história é uma ciência interpretativa, e não de relato linear de factos indiscutíveis. Foi o que, na realidade, a sucessão brutal das imagens apresentadas no video me evocaram. Daí ter recordado o legado teórico deste excepcional historiador britânico que deixou uma considerável influência na forma de entender a história do séc. XX, dos seus conflitos mundiais e da própria dinâmica das relações internacionais.
- Desse modo, o estudo da história afigura-se como o estudo das causas e dos porquês, e não tanto a questão do que aconteceu. Na prática, o homem está sujeito a leis e princípios de racionalidade, e qualquer acção da sua parte pressupõe uma causa racional. Carr preocupou-se em estudar e agrupar o estudo dessas causas em função da sua importância relativa.
- De Hegel e Marx recuperou a ideia de progresso da humanidade, feita de teses, antíteses e sínteses. Cabendo ao homem moderno ser capaz de se compreender a si mesmo e ao processo histórico que integra de forma inédita. Eis a sua singularidade. - Por último, ao revisitar todas aquelas imagens, umas por conhecimento histórico mais remoto, outras porque as estudei integradas nos acontecimentos históricos do séc. XX, que foi um século dos conflitos e de duas guerras mundiais, temos a obrigação de compreender que o historiador não se consegue colocar "fora" da história e do tempo, sendo a revolução tecnológica um acelerador desse progresso material e espiritual. Além que de que a história também deixou de ser a narrativa acerca das elites e passou a ser a história dos povos, dos movimentos operários e dos movimentos sociais, nacionais e transnacionais.
- Tudo estando em mudança constante, assim como a própria história. É isso que faz dela uma ciência dinâmica, uma ciência de futuro, em permanente evolução.
- Edward Hallet Carr sabia, para concluir, que a história não vive daquela suposta objectividade, reclamada pelas ciências exactas. E foi essa circunstância que o fez perceber que o seu domínio de investigação converge com os domínios de interesse da Sociologia, da Ciência Política, da Psicologia, da Antropologia e das demais ciências sociais em geral. Carr sabia tudo isto, fez história com base nesse relativismo do conhecimento, e também por isso foi um cientista social de excepção que influenciou a própria história das ideias, dos métodos e processos de fazer história.
Ainda que para isso tivesse que refutar a possibilidade de objectividade da história. Actualmente, ao invés do passado, os factos e os comportamentos económicos, financeiros, políticos, sociais e religiosos, com a generalização do neocapitalismo, ganharam autonomia relativamente às velhas ordens institucionais que os regulavam e orientavam. Hoje a obediência às leis da esquizofrenia do mercado subverteu tudo.

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