terça-feira

Mais recessão é a "obra-prima" da desgraça nacional. O papel da maçonaria

O Portugal profundo está a mergulhar no caos económico, que conduz à pobreza, ao desemprego galopante e à miséria, mas algumas carolas do agenda setting nacional preocupam-se em discutir a importância da maçonaria na vida pública, apesar de todos sabermos que certos membros e algumas lojas maçons apenas procuram aumentar a sua influência na sociedade, na economia e no aparelho de Estado através do cruzamento de interesses sectoriais, estabelecendo entre eles elos de condicionalidade, o que obriga à colocação estratégica de certas pessoas em pontos-chave do processo decisório. É assim a vários níveis, desde a decisão de atribuição dum projecto e seu financiamento à celeridade de concessão de licenças ou à inclusão e/ou nomeação de pessoas em serviços, departamentos - públicos e privados - para depois pagarem favores na volta do correio.
Isto é certo e sabido, e, consoante as conjunturas e a natureza e vulnerabilidade dos actores que ocupam o aparelho de Estado, esta influência perversa e degradada de certos elementos e algumas lojas da maçonaria, é maior ou menor na sociedade, na economia e no Estado. É óbvio que o lado mais sério e construtivo desta problemática, que também existe, e é bom sublinhá-lo, sob pena de sermos sectários, é que os ideais e princípios da maçonaria se mantêem válidos, especialmente na busca universal e fraterna do livre-pensamento, da tolerância, os quais devem conduzir a um desenvolvimento espiritual do homem, bem como à construção duma sociedade mais livre, solidária e justa.
Mas isso são as metas para que apontam tais valores, sabemos que, na prática, a realidade é outra, bem outra, infelizmente. E é aqui que, por causa dum punhado de malfeitores, os demais maçons ficam com o nome manchado, é aqui que se cruzam interesses obscuros entre serviços secretos e vendettas pessoais, interesses públicos com interesses privados e empresariais, lutas de poder entre o grupo empresarial A contra o grupo empresarial B, seja nos media ou noutros sectores de negócio.
É deste conluío e conivências, geradoras de coligações negativas de interesses com poderes de veto em certas decisões, que se cria o caldo facilitador da corrupção e do tráfico de influências que a boa maçonaria se deveria distanciar e marcar a sua diferença intelectual, moral e pragmática na sociedade portuguesa.
Como? Valorizando o mérito e o trabalho intelectual de cada um, e não submergindo esses valores aos tais conluíos e tráfico de influências que tem dominado a vida pública nacional desde a revolução de Abril. Ora, a revolução dos cravos não se fez para violentar os seus ideais, os seus valores e legítimos interesses e direitos sociais adquiridos.
Dito isto, que é muito pouco perante a gigantesca desgraça económica, social e financeira do país, e é bom termos a noção da proporção dos problemas e a forma como eles são colocados na esfera pública, o país real foi hoje confrontado com mais um notícia desgradável do BdP, divulgada através do seu Boletim Económico onde revê em baixa as projecções de crescimento da economia nacional, ou seja, temos pela frente mais recessão, que se traduzirá, inevitavelmente, em mais empresas insolventes, mas desemprego, menos procura interna, etc.
Este agravamento do não crescimento obrigará, seguramente, a mexidas no OGE e de mais medidas de austeridade, ou seja, maior estagnação da economia nacional e, consequentemente, mais conflitualidade social, na medida em que os problemas da economia afectam directa e imediatamente os demais subsistemas da sociedade.
Assim, presumo, não haverá exportações que nos valham e as decisões tomadas ao nível da nomeação de "amigos políticos" para o Conselho Geral de empresas ainda sob alguma influência estatal, como é o caso da EDP, acaba por seguir os piores padrões de ética política republicana a que o PM, Passos coelho, e o seu Gov, parecem ser pouco sensíveis.
Também aqui nada mudou sob os céus e este Gov deixa de ter alguma legitimidade para criticar o Gov anterior em política de nomeações de índole politico-partidária e de puro amiguismo político, ante um país a empobrecer e em chamas. O que contrasta com mais de meio milhão de euros que Eduardo Catroga irá auferir de salário na EDP em 2012.
É neste caldo de problemas estreitamente interligados, nos domínios económico, financeiro e social, que o Gov aparece sem controle dos problemas, sem uma orientação clara e desenvolvimentista que inspire a generalidade dos agentes económicos a sair desta crise estrutural que tem hipotecado Portugal e as novas gerações. Uma hipoteca que poderá ainda agravar-se mais se houver um recrudescimento das tensões internacionais e o eixo/directório franco-alemão continuar a dominar a Europa nesta fase de reconstrução do euro que comporta mais dúvidas, incertezas e riscos do que oportunidades, vantagens e certezas.
Talvez seja por estas razões que ano de 2012 seja o ano do agravamento de todas as desgraças, sejam as que são directamente induzidas do exterior, sejam as que resultam da incompetência e incapacidade (agregada aos problemas herdados) do Gov em funções que não consegue encontrar um ponto de equilíbrio entre as imposições da Troika e um estádio de crescimento verdadeiramente necessário para que a economia portuguesa comece a crescer a fim de aguentar os impactos negativos (inflação, retenção de salários aos func. públicos, aumento draconiano da carga fiscal, que é um esbulho, perda de direitos na saúde, etc) sobre as populações sobre quem se exerce tamanha usura.
Neste quadro negro feito de dificuldades reais, efectivas e imediatas sentidas pelas pessoas, pelas famílias e pelas empresas portuguesas, talvez fosse chegado o momento de os verdadeiros maçons se deixarem de discursos de autojustificação que censuram noutros patriarcas, resultado de egos verdadeiramente histriónicos e duma escola de formação verdadeiramente doentia e começassem a partilhar as suas ideias com a sociedade.
Talvez tenha chegado o momento para que a proclamada ideia de universalidade e fraternidade entre os homens, fazendo deles verdadeiros irmãos, encontre no valioso pensamento e praxis dos verdadeiros e genuinos maçons os projectos de sociedade alternativos capazes de, não implicando mais impostos às populações nem mentiras ou promessas por cumprir e também não discriminando as pessoas com base na distinção de ideologia, origem, raça, sexo, religião ou condição social - prover a uma melhor governação política, financeira, social e económica.
Ao fim e ao cabo, do que Portugal precisa é de ideias e de projectos de sociedade alternativos que possam dar corpo à Nação futura cujo desafio hoje, mais do que nunca, nos interpela a todos.
Se através da especulação conseguirmos colocar as boas questões também obteremos as boas respostas, e essas não residem, certamente, no ultraliberalismo reinante que actualmente em Portugal vende os anéis e os dedos, destruindo uma economia social existente, sem deixar ao povo português uma verdadeira escolha dos rumos que quer e pode seguir para reconstruirmos esta grande Nação - já quase milenar e que tem as fronteiras físicas mais estáveis da Europa.
Embora saibamos que hoje as fronteiras da geo-finança sejam de índole geoespacial, i.é, sejam fronteiras atmosféricas. Daqui resultando a ideia de que o modelo de globalização competitiva terá que ser regulado pelos Estados, e que estes consigam regular os mercados e a generalidade dos agentes e dos operadores económicos e financeiros que hoje actuam como verdadeiros agiotas e especuladores operando onde sabem que existe um Estado, uma economia, uma nação e um povo em default.
É, creio, na consecução deste mega-projecto que consiste o novo e Grande Arquitecto do Universo (GADU), e para esse efeito teremos que ser capazes de refundar o sistema político (incluindo aqui o sistema de partidos, naturalmente) de modo a colocá-lo ao serviço daqueles que lhe concederam a legitimidade popular para tomar as decisões em seu nome e a implementar os projectos de sociedade que foram prometidos e "politicamente contratados" com a sociedade em sede eleitoral e depois sufragado nas urnas pelos cidadãos eleitores. Desvirtual este contrato é matar a democracia representativa.
Seria ao serviço deste bem comum supremo que os bons maçons e a maçonaria mais impoluta se deveria inscrever e, sem medo e sem sofismas, contribuir verdadeiramente para esse grande debate em Portugal. Até pela grande vantagem de separar o trigo do joio que gravita nessas águas turvas em que navegam actores políticos, agentes económicos, operadores financeiros, serviços de intelligence (que de intelligence não revelam nada), académicos, académicos que viraram administradores de empresas privadas que vivem em conúbio com agentes secretos que trabalham à boa maneira dos espiões que vieram do Leste: ou seja, são agentes duplos, e, a soldo de empresas privadas, políticos no poder e doutras facilidades ora vendem serviços e informações à empresa A, ora vendem informações à empresa B, e aplicam o mesmo modus operandi para os decisores do aparelho de Estado que passaram mandar e procuram comprar informações no "mercado político" a fim de ajustar contas com os seus concorrentes políticos por questões e/ou aspectos do passado recente.

Numa palavra: a boa e verdadeira maçonaria tem aqui, como provavelmente nunca teve históricamente em Portugal, uma excepcional oportunidade para intervir.

Tem aqui uma excelente ocasião para revelar o que verdadeiramente é, e do que é capaz de fazer em contexto de recessão que actualmente todos vivemos.

Por isso, este não é o momento da diabolização da maçonaria, do seu fanatismo e superstição, mas a hora H. para estes homens que, de certo modo se consideram tão excepcionais e singulares, e à falta de melhor novidade cultivam o segredo em tudo o que pensam, dizem e fazem, demonstrarem aquilo que verdadeiramente valem e colocarem esse suposto talento ao serviço do bem comum de que falava Aristóteles.

Com sorte e alguma fé, sempre necessária à produção de conhecimento, talvez possamos ganhar todos algo com tanta sabedoria acumulada nos tempos e nos templos...

- Adenda: link picado no DN

Aqui poderá ver um contributo interessante para esta discussão em que o Grão Mestre do GOL, a dado passo, afirma:
(...) o movimento "não aceita ser envolvido em assuntos decorrentes de interesses empresariais".

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- Piadética maçónica

- Desgraça maçónica - que exige responsabilidade - civil e criminal

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