segunda-feira

O orçamento zero da pós-democracia - por José Adelino Maltez -

O orçamento zero da pós-democracia por JOSÉ ADELINO MALTEZ (Politólogo) in dn 2012 poderá ser horribilis para o portugalório da Ilusitânia, mas será, em contraciclo, um mundo melhor para a maior parte da humanidade, com menos fome, menos peste e menos guerra. Mesmo que não beneficiemos directamente com a ascensão a grandes potências de alguns dos nossos plurisseculares parceiros de história, a que chamaram emergentes, pode chegar uma nova idade, a do poder dos sem poder, com os até agora vencidos da vida a revogarem a velha história dos vencedores. Mesmo que o sonho de um Atlântico crioulo não desemboque no Tejo, porque preferimos o conforto do Bugio à aventura da pororoca, os novos sinais dos tempos prenunciam uma nova idade, de que fomos armilarmente profetas. Por cá, apenas tenderemos a entrar no orçamento zero da pós-democracia. Porque o PS tarda em assumir-se como pós-socrático, e nem sequer é pós-soarista; tal como o PSD não consegue ser pós-cavaquista; enquanto o PCP continua retro-cunhalista; o CDS, amarrado ao pós-moderno reaccionário; e o BE a indignar-se com devoção ao socialismo catedrático. Daí que o verbo Portugal continue a ser substituído pelo nacionalismo patriotorreca, que alguns psicopatas sentenciadores vão conjugando, em pretérito de revisionismo histórico, enquanto a partidocracia persiste na autoclausura reprodutiva, entre uma direita que convém à esquerda, a da mera oposição empírico-analítica ao fantasma do inimigo, para que este, em preconceito, acirre o pensamento RGA, o da nostalgia da revolução por cumprir, onde o Maio 68 continua a algemar a libertação de Abril. Todos com historiografias do caixote de lixo das ideologias, neste país dominado por enjoados manhosos, que sonham instrumentalizar a luta de invejas, pela tradicional subversão a partir do aparelho de Estado.
Obs: retrato hiper-realista da forma como os agentes políticos no poder se governam (desgovernando Portugal), os partidos políticos, máquinas de exploração dos lugares do Estado, se comportam, alguns elementos transitados da ditadura fazem curso nesta democracia por cumprir e na habitual endogamia dos fundos de fundações - que é uma nova (velha) modalidade de corrupção de almas em Portugal, atrasando a modernização da sociedade, do tecido económico e do próprio sistema político. A isto soma-se a recessão que abrirá um ciclo de subdesenvolvimento e empobrecimento estrutural em Portugal para a próxima década.

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