quinta-feira

As dívidas à Super-Nação por parte dos Estados (devedores)

Portugal, em resultado de gastar além daquilo que pode, de más políticas públicas e de alguma gestão ruinosa dos recursos do Estado recolhidos por impostos sobre os contribuintes portugueses, ficou nas mãos dos credores que ora ditam as regras não só no Estado, mas em casa de cada um de nós, portugueses.
E quem são esses "novos amigos" de Portugal e dos portugueses: as redes económicas privadas, transnacionais, aquelas que J. Stiglitz, nóbel da economia, criticou no início do ano 2000, pelo teor das políticas neoliberais que, em lugar de os ajudar a sair da recessão e pobreza em que caíram, ainda agravavam mais a sua já débil condição socio-económica.
São essas redes económicas que controlam e manietam os poderes de Estado. Controlam e formam uma espécie de novel "super-nação" que, sem base territorial, mitigada por várias nacionalidades e pelos interesses cruzados que comportam, escapam ao controlo de qualquer instituição governamental, comanda hoje e de forma progressiva as instituições dos diversos países e as suas políticas públicas, ou seja, por intermédio dessas organizações que respondem pelo nome de FMI, BM, BCE - os Estados, ou alguns deles, sobretudo os mais endividados, converteram-se numa mera ficção jurídica, já que perderam toda a soberania económica, fiscal e política sobre as respectivas populações.
E procede assim, na medida em que essa "super-nação emergente", no caso a Troika, constituiu-se num potentado económico em relação ao qual dependemos, já que têm o domínio absoluto das nossas dívidas de Estado (que congregam a nossa dívida privada, quase três vezes superior áquela) e que, por esse facto, nos torna completamente dependentes dessa nova entidade supranacional.
Até porque os Estados não têm aletrnativa a converter as suas dívidas aos seus novos protectores em dívidas públicas, tomando-as a seu cargo. A partir daí, serão liquidadas, sem qualquer compensação, e a um juro brutal, quase "judeu", pelo conjunto do seu rebanho, ou seja, dos seus cidadãos e dóceis contribuintes. Os mesmos que passam também a responder, através dos seus impostos, por todos os erros praticados pelo respectivo Estado, que concebeu mal as suas políticas públicas, tomou decisões de lesa-pátria para proteger interesses particularistas de pessoas, como a que resultou da nacionalização do BPN, em 2008, cabendo hoje a cada contribuinte português cerca de 350 euros para colmatar essa cratera ratificada pelo então Gov, mas com a anuência de Belém e do então Governador do BdP, Constâncio. Trata-se aqui dum caso de polícia, o que revela bem a inércia do nosso sistema de justiça.
Ou seja, a nossa dívida pública mistura-se com a lamentável dívida privada, tudo será reciclado e incumbirá ao Estado pagar a pesada factura, até pelos juros e serviço da dívida, que é brutal. Grande parte do PIB nacional será todo afectado nesse pagamento, mas esse é o preço que hoje todos temos que pagar pela mentira política de sucessivos governos que, nos últimos anos em Portugal, nos prometeram o paraíso na terra.
Razão por que hoje vivemos um naufrágio camuflado, mas que já não é - ou deverá ser - atribuído a crises temporárias ou de tipo conjuntural. A nossa crise é, de facto, profunda e, por isso, é de tipo estrutural, pelo que levará décadas a sairmos dela de forma sustentável.

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