segunda-feira

Armadilha do crescimento em Portugal

Ontem enquanto ouvia o PR debitar sobre a recessão e a forma de sair dela, lembrei-me da forma inútil como foram empregues e monitorizados os milhões de euros em fundos comunitários na década cavaquista (1985-95). A ausência de orientação estratégica na aplicação desses fundos, que encheu o país se corrupção e de oportunismo explica, em boa medida, o carácter incipiente do nosso tecido económico e da consequente falta de produtividade e competitividade nacional.

Facto que dificulta a nossa internacionalização e a captação de mais mercados externos, porta de salvação actual para a crise estrutural da economia portuguesa.

Ao boom da classe média que, de facto, passou a ter mais poder de compra, acompanhado do aparecimento das grandes superfícies comerciais e de grandes cadeias de distribuição, de que o "Sr. Sonae" foi o mais bem sucedido entre nós nessa época de ouro, não foi acompanhado pelo fortalecimento do tecido económico nacional, agravado com a posterior crise da dívida (sobretudo a privada à banca, fomentada ao tempo de Guterres - em que a banca prometia tudo a todos). As reformas estruturais foram sendo adiadas, sobretudo a da segurança social, cujas pessoas hoje têm uma maior longevidade, secando também durante mais tempo os recursos da segurança social - para a qual contribuíram uma vida.

Entretanto, o desemprego disparou acima dos dois dígitos, novidade em Portugal desde 1974, sobreveio a crise da dívida soberana que humilhou do Estado do socratismo - que se viu forçado a pedir ajudar ao FMI por já não dispôr de liquidez para os salários dos funcionários públicos. E fê-lo tardiamente com custos acrescidos nas taxas de juro com que contraímos empréstimos nos leilões.

Muito simplesmente, os fundos comunitários serviram para algo, mas o mais crítico ficou por fazer: a qualificação dos portugueses. Resultado não crescemos. O colapso financeiro mundial, o contágio à Europa, a ameaça da implosão do euro, a fraca liderança da Europa faz com que sejamos os indigentes do Velho Continente.

Daí a desesperança (fundada) dos portugueses. Justificada no facto de sabermos que estamos a pagar impostos brutais ao mesmo tempo que cavamos a nossa própria sepultura. E isto, convenhamos, não é nada agradável.

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