quinta-feira

Contabilidade de merceeiro num ponto de não retorno

Acho uma piada do outro mundo constatar que há boa gente a fazer contas acerca da greve geral para tentar demonstrar que os números não batem certo com os números expostos pela atabalhoada titular da pasta na Praça de Londres. Nunca bateram, porque essa é uma conversa tão justa e tão leal como aquelas conversas entre caçadores e pescadores... Pouco importa se a greve geral contou com mais 10 ou 15% do que na realidade se verificou, o que importa são as percepções gerais que o evento deixou na opinião pública nacional e internacional, deixando uma imagem de Portugal ainda mais vulnerável. Sempre achei que a uma alteração de quantidade - neste caso expressa pelas massas populares descontentes com a situação económica e social - se reflecte numa alteração qualitativa, de resto esta é uma lei da física que também encontra projecção no meio político, daí fazer uma certa aflição de esprit ver alguns economistas, gestores e demais pessoal qualificado tentar demonstrar que a greve geral, afinal, foi um fracasso. A coisa evoca-me logo a performance dum ministro da propaganda do Iraque nos tempos do enforcado. O que importa são as percepções gerais, e estas não podem - nem devem - imputar-se apenas a um governo, mas cujas debilidades estruturais devem ser imputadas a empresários, aos tribunais e seus titulares que têm afogado o Portugal-económico num poço de víboras, às corporações que impedem e bloqueiam as reformas necessárias à modernização do país e o mais. Procurar fazer umas contecas para demonstrar que, afinal, a greve foi um fiasco é um tremendo exercício de desonestidade intelectual que remete para uma patologia estudada pela denegação da realidade, e isso ainda é pior do que a própria realidade que se procura, mediante a tal contabilidade de merceeiro, ocultar, esconder ou distorcer. Infelizmente, estes contabilistas mangas de alpaca não estão só no governo, pululam pelas mais diversas instituições da sociedade civil (não confundir com construção civil). E isso ainda é mais pernicioso ao país do que as greves. Pergunto-me porque não estão calados, em vez de dizerem e de escreverem bacuradas... Esta sim, é a pior manifestação da greve de espírito!

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