O nosso Eça e a democracia de opinião
Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções - mesmo as boas.
in A Correspondência de Fradique Mendes.
Obs: A Cimeira da NATO deu projecção global ao PM, ajudando-o a evadir-se da realidade económico-financeira desastrosa em que vegetamos, mas os "sacaninhas" dos juros da dívida pública continuam a subir, operando como o cobrador-do-fraque duma Cimeira global cheia de sucesso. Por contraponto, o líder da oposição, tem que reganhar o élan perdido pelos holofotes da Cimeira da NATO, nem que, para o efeito, tenha de vociferar que a economia nacional demore uma década a recompor-se, e era Coelho quem há semanas criticava o governo por andar a dizer coisas depressivas da economia, que agravavam ainda mais a situação!!?? Ambos, ainda que em pontos diversos do xadrez político, estão no mesmo barco: Socas, está a ser cozido em lume brando pela ditadura das finanças no panelão do Joãoa Ratão, dos juros que esmagam e por uma greve geral que irá humilhar; Coelho, é bom dizer-se, não tem um programa político alternativo e sustentável para Portugal, e o que tem encomendou no Facebook as sugestões aos carolas que mandam bitaites sobre tudo e sobre nada. Creio, na senda de Eça, que só as mentirinhas dos jornais podem salvar ambos: de Sócrates a "prensa" poderá dizer que os juros baixaram, as exportações triplicaram e a meta do défice para 2011 baixará para os 4%, numa versão de canja-de-galinha; de Passos Coelho, os jornais poderiam afirmar que esta jovem promessa da jotinha social-democrata será, um dia, PM, e que isso está escrito nas estrelas, só não se sabe quando, como diria o repolho de Bruxelas - que se safou a toda esta cegada (que, em rigor, acabou por gerar). Num caso e noutro, creio que só as patranhas dos jornais contadas docemente (através das suas mentiras úteis) a fim de sensibilizar os mercados, conseguirão salvar este Portugal da alhada em que a continuação de certas políticas públicas e o descontrole dos gastos do Estado, conduziram a economia nacional. Este será o momento, ratificando o ponto de Eça, de a imprensa começar a fazer o seu trabalhinho de casa, nem que para isso minta um pouco, afinal é o que fazem em períodos de estabilidade social e económica. Talvez assim, com a alavancagem dos jornais, Sócrates consiga deixar o poder sem grande humilhação, e PPCoelho possa aceder a ele em condições menos turbulentas. Isto, claro, se no seio do psd não aparecer outro jovem turco do interior da Lapa que baralhe esta neo-queirosiana equação de poder. Neste momento, tudo será possível em Portugal. Até o "regresso da ditadura" pela mão da ex-chefe do economato do PSD, a srª dona Ferreira leite, disfarçada sargenta do FMI, que foi o pior acidente que aconteceu ao PSD, depois de Santana lopes.
Nota: Dedicada ao imenso legado que EQ nos deixou, mas neste particular por ter partilhado a certeza sociológica de que já no séc. XIX eram os louvores dos jornais que ajudavam a fazer e a desfazer a realidade que hoje cilindra os países da Europa (veja-se a influência corrosiva e desproporcionada das chamadas agências de notação financeira) - que está de gatas perante a Ásia, em particular a RPC.
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