segunda-feira

O futuro dos 8 Objectivos do Milénio e a Utopia da ONU

A ONU, criada em 1945, é a maior e mais representativa organização política à escala global. Todos os países do mundo lá está representados, ainda assim isso não é razão suficiente para que os famosos objectivos do milénio, que se prendem com a redução da pobreza, da fome, da mortalidade materna e infantil, da doença e de lutar por uma habitação condigna de par com o combate às desigualdades de género e à degradação ambiental - estejam a ser atingidos.
Naturalmente, é fácil elencar os objectivos a atingir no papel e nas declarações formais por parte dos respectivos governos e embaixadores que os representam nos fora internacionais, mais difícil é operar a mudança das mentalidades e produzir alterações e reformas efectivas no terreno que combatam aqueles "cancros sociais" que depois acabam por provocar verdadeiras metástases em todo o tecido social nos países do chamado 3 e 4º mundos.
E aqui, pergunta-se como é que se pode sensibilizar uma população inteira para a protecção do ambiente e planear acções para o seu desenvolvimento sustentável quando a maioria da populção vive subnutrida?! É técnicamente e humanamente impossível.
As parcerias ou são coxas ou funcionam mal, ainda que a sua existência seja preferível à sua inexistência. Mas os relatórios do sector concluem que os financiamentos para esse tipo de ajuda foram reduzidos e depois as questões permanentes da gestão do desenvolvimento colocam-se de forma permanente. Na prática, que importa darmos de comer a milhares de pessoas num acampamento se, depois, eles não conseguem assegurar a sua própria sobrevivência. Logo, a ajuda de per si nada resolve a médio e longo prazos. Uma parte do mundo dá a comida, mas não ensina a pescar, como em tempos referiu Deng Xao Ping.
A questão que se pode colocar é saber como sair deste impasse que já tem tantos anos como a idade da própria ONU. Seguramente, terá de ser concebido um novo impulso para este tipo de ajuda ao desenvolvimento, comprometendo mais e melhor os governos que aceitam esse apoio, vinculando-os a medidas de transparência e de vontade genuína de transformação, sem obviamente esquecer as boas práticas da governação, da democracia e da institucionalização do rule of law.
Ora, como sabemos, é tudo isso que tem faltado nos países receptores da ajuda, pois tratam-se de países cujas elites e clics militares são altamente corruptas, impreparadas, népotas e criminosas. É assim nos chamados países dos 3As: África, América Latina e Ásia.
De par com um esforço de democractização efectivo nesses PVD, se não ocorrer um efectivo crescimento económico global - até na Europa e América do Norte - também não se conseguirá restabelecer a recuperação económica e os equilíbrios desejados no interior das sociedades. E até nesta dimensão os PVDs estão com azar, dado que nunca se conheceu uma conjunta tão problemática em matéria de crescimento e desenvolvimento económico - a que se somaram as graves crises financeiras de origem especulativa que contagiaram rapidamente as economias do mundo inteiro (tornando o dinheiro mais caro e o acesso generalizado ao crédito mais dificultado), como nos nossos dias. Razões que tornam a relação de cooperação e da ajuda ao desenvolvimento mais frágil.
Portanto, cumprir as chamadas metas do milénio tornou-se um milagre do nosso tempo, e não será uma Assembleia Geral que irá resolver essa crucial questão do nosso tempo. Que é também uma questão de todos os tempos: saber como prover às condições de crescimento e de desenvolvimento económico nos países com menores recursos materiais e humanos e, onde, por um azar dos távoras, a corrupção e o nepotismo são as regras de gestão do poder tendo, como pressupostos, os golpes de Estado militares que lhes permitiram essa captura do poder.
Se assim é, e se esta realidade política global pouco ou nada muda de nada servirá fazer mais uma mega-Assembleia Geral em N.Y. para produzir mais umas dezenas declarações acerca das condições do desenvolvimento sustentável que nunca chegam a conhecer uma correspondência efectiva no terreno. Daí que a reafirmação do papel nuclear das Nações Unidas no seio da Governação global se possa traduzir em zero resultados.
É como ter um relógio que seria suposto ser-nos útil e dar as horas para melhor nos orientarmos e acabarmos por morrer debaixo dele pelo seu ponteiro. E a ser assim, é pena.

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