quarta-feira

A democracia pró-activa de Sócrates e de Pedro Passos Coelho no novo "consórcio político" em gestação

Criticamos aqui tantas vezes a forma como a democracia é exercida pelos dirigentes políticos, sempre de modo muito partidário e pouco virada para o bem comum, que exige uma capacidade realista de analisar os problemas das pessoas encontrando para eles propostas de solução que tenham cabimento na nossa sociedade.
Hoje, ao invés desta generalizada prática entre nós, vimos que o PM e o principal líder da oposição (impensável caso Ferreira leite ainda estivesse na direcção do PSD), deram as mãos para concitar esforços e encontrar as melhores ideias para evitar que os mercados e a economia portuguesa sofram mais estragos, em face da onda especulativa que, da Grécia para a Europa, está em curso. Desvalorizando a nossa dívida soberana e a cotação da economia portuguesa perante os mercados internacionais que servem de prestamistas ao país nesta imensa economia de casino parida pela globalização predatória e pelos mecanismos gerados pelo neoliberalismo selvagem que remontam ao Consenso de Washington.
Por isso, no plano dos princípios foi "bonito" ver aqueles dois homens fazendo esforços para reabilitar a economia portuguesa num contexto de hiper-turbulência financeira e especulativa.
Tanto mais que as sociedades complexas em que vivemos não se deixam representar nem mobilizar facilmente, e a democracia directa ou forte também não é praticável entre nós, daí a grande utilidade deste novel "consórcio político" entre PS e PSD para limitar os estragos, mediante a antecipação de medidas no PEC pensadas pelo governo e a introdução de outras medidas equacionadas pelo PSD a fim de reduzir a despesa pública e, assim, expurgar, as ervas daninhas na nossa economia, como défice orçamental, a inflação e o desemprego, já na casa dos dois dígitos, com cerca de 570 mil desempregados entre a nossa população activa.
A esta luz, a entrada de PPCoelho - e do PSD - em jogo é vista como um reforço da democracia e das finanças públicas em Portugal, é como se Portugal, espera-se, passasse a contar com mais um ministro das Finanças, tornando mais presente e mais representada os cidadãos na política portuguesa, como se fossem necessários mais consumidores no mercado para o vigiar e controlar.
Assim, a democracia portuguesa fica mais representada, as decisões são mais pluralistas porque passa a funcionar o compromisso entre os dois grandes partidos do arco da governação, as deliberações ganharm mais força e a possibilidade de errar fica mais circunscrita. Se a receita não funcionar, o recém-líder do PSD também passará a ser corresponsabilizado, naturalmente!!!
Os assuntos públicos ficam, doravante, mais vigiados, a sua complexidade beneficia agora da massa cinzenta do PSD, logo é mais pluralismo social e político que concorre na formulação das decisões ligadas às políticas públicas neste compromisso político emergente da era pós-Ferreira leite.
Veremos, pois, que resultados darão este novo "consórcio político", este bloco central em gestação, na configuração das boas práticas para reduzir o défice, a inflação e o desemprego. Para evitar, por um lado, o agravamento de algum autismo político e da externalização da política (que come à sociedade a sua energia criativa mediante a pesada carga fiscal de que é alvo) e, por outro, atenuar a demoesclerose do nosso regime político em matéria de representação no exercício do poder em Portugal.
Naturalmente, podemos (e até devemos) perguntar que é feito das propostas do CDS, do PCP e do BE para este consórcio político em formação, talvez algumas delas, pudessem contribuir, com realismo, para o reforço do nosso contrato social que também anda em baixa.
Ou seja, chegou o tempo em que a generalidade dos governos minoritários na Europa ser ajudada pelos principais partidos da oposição, não porque isso atalha o caminho para as oposições chegarem ao poder mais cedo, mas porque se reforçam as políticas públicas e as energias que aplacam as devastadoras forças especulativas que do exterior pretendem proceder ao saque em Portugal, como em tempos fizémos no decurso da colonização e da criação dos impérios que deu origem ao chamado Euromundo...
Se isto merecer algum fundamento, concluirmos que, de vez em quando, em Portugal a democracia política entra ao serviço da democracia económica e social, e isso, só por isso, já é um grande activo político, porque revela, entre outras coisas, uma grande maturidade democrática, impensável com a pupila de Cavaco à frente do PSD...
Por vezes, é mesmo necessário colocar a desconfiança e as pequenas traições de lado, e afirmar o valor da confiança política, que também vale para a esfera económica, já que esta se regula pelo jogo de espectativas.

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