quinta-feira

Fernando Nobre: exigirá dos portugueses escolher entre o poder (negativo e aparelhístico) e a influência (social positiva). O Obama "branco" entre nós

Fernando Nobre não tem uma dupla face, como é apanágio da maior parte dos políticos, pelo que aquilo que revela ser em privado não é muito distinto daquilo que representa publicamente. Tive oportunidade de o conhecer 1999, então precisava que ele integrasse um projecto editorial sobre a temática das ONG de que era autor, coisa que ele fez de bom grado, sem me conhecer de parte nenhuma, apenas com base no material que lhe apresentei e que foi logo depois objecto de edição. Tudo fair.
Desde aí fiquei com boa impressão do homem, pois se me recebeu a mim sem me conhecer de parte alguma, também seria capaz de receber qualquer outra pessoa em situação similar, isto é apenas um traço de carácter do homem que aqui testemunho. Luta contra a indiferença, de resto tem essa motivação bem patente inscrita numa placa assim que se entra na fundação AMI, e que tem também sido o seu lema de vida por esse mundo fora.
Não tenho qualquer interesse ou contrapartida na sua campanha, apenas reconheço nela algumas potencialidades, além da originalidade que em Portugal representa alguém com influência oriundo da sociedade civil, apesar de não ser a-político, como referiu. Aliás, ninguém é, e a neutralidade absoluta, em matéria de conhecimento, como em tempos Weber explicou, também não existe, tomamos sempre partido. Eis o nosso sentido para a vida.
Mas a razão pela qual entendo que FN é um candidato virtualmente vencedor prende-se com o facto de o trunfo político, nas modernas sociedades complexas que hoje todos vivemos, consiste na acumulação de percepções, que se traduz numa capitalização de atenção pública com um valor positivo que nem Cavaco nem o poeta Alegre comportam. Precisamente, por estão demasiados embrenhados nas tricas partidárias e no mundo subterrâneo que daí decorre.
Nobre será, assim, aquela voz que alcança mais ouvidos, cujos olhos registam o maior número de contactos e cujas mãos os portugueses mais acenos de saudação farão. Disso não tenho dúvida alguma. Ou seja, a proeminência é a nobreza moderna, e Nobre tem essa qualidade de forma inata, nem sequer precisa de trabalhar essa faculdade que, doravante, a própria democracia irá aprimorar.

Por outro lado, Fernando Nobre irá também operar uma outra revolução ao nível das percepções na sociedade portuguesa, pouco habituada a grandes mudanças nos contextos socioeleitorais, e que se liga com o facto de a questão essencial já não saber quem governa, mas quem é governado?

Nobre irá dinamizar os eleitores móveis, sensibilizar os comportamentos de consumo, irá tratar as audiências por "tu", dada a sua experiência, mensagem profundamente humana/humanista e telegenia, tudo isto fará de Nobre uma estrela no firmamento que lhe permitirá ser uma espécie de deus menor, estando em todo o lado ao mesmo tempo.

O tal Obama branco (e multicultural) entre nós...

Nesta medida, Nobre irá dilematizar os portugueses a escolher entre a sociedade anónima - com que outros tratam as massas em busca do votinho cínico, e a sociedade personalizada deste seu novo oráculo que repousa no poder da sociedade civil, na qual se revê e através da qual os seus elementos lhe reconhecem legitimidade neste duplo jogo do "gato e do rato" em que se transformou a democracia de opinião que acaba por influenciar os resultados eleitorais em Portugal.

Uma coisa é certa, com Fernando Nobre a concorrer o risco do ridículo, da hipocrisia, das jogadas de poder diminui radicalmente, não só por questões de carácter, mas também porque Nobre não é mais um elemento parido pelo aparelho partidário que esteve sentado à manjedoura do Estado durante décadas sem dar qualquer contrapartida ao país e aos portugueses.

Este conjunto de razões fazem de Fernando Nobre um virtual vencedor.