terça-feira

António Hespanha e a qualidade dos homens em Portugal

António Hespanha é um jurista e historiador com currículo e com obra feita, por isso não se compara a qualquer editor de jornal ressentido por Balsemão o ter despedido em tempos, para logo se apressar a fundar outro semanário e passar à concorrência. Hespanha, dos escassos minutos que visionei ontem o Prós & Contras - referiu aquilo que muitos de nós já sabem: quando alguém na sociedade civil faz um comentário ou procura fazer uma correcção a algo escrito nem sempre os directores dos jornais dão voz às pessoas. Parece, segundo Hespanha, que o arquitecBlockquoteto saraiva se portou mal, não publicando uma nota correctiva reclamada pelo autor.
Infelizmente, estas condutas discricionárias por parte de alguns directores de órgãos de comunicação social são frequentes. Ou trata-se de vedetas mediáticas com acesso directo aos canais de decisão dos media ou então aqueles que legitimamente pretendem reclamar ficam literalmente pendurados e silenciados. Mas estas reclamações serão, seguramente, questões menores por parte de jornalistas opacos e que têm uma vida completamente oculta, vivendo na penumbra, mas que não abdicam de passar a vida a espiolhar literalmente a vida dos outros, sejam políticos, empresários ou jornalistas da concorrência que importa neutralizar. Quer por questões pessoais, institucionais ou de mercado.
Todavia, não importa perder tempo com estas questões, dado que estão ao arbítrio do director de informação que tem quase todo o poder no jornal que dirige. O arquitecto, o Manoel Fernandes - ex-director do Público - são pessoas que têm uma concepção do jornalismo como alavanca para eliminar políticamente pessoas, seja por vaidade ou porque o governante A, B ou C deixou de fazer Pub. nas suas páginas. Não devemos esquecer que os jornais são empresas cuja motivação é o lucro, mas que, para além disso, têm ainda a faculdade de minar a confiança da opinião pública naqueles de que não gostam, e não hesitam em utilizar o soit-disant jornalismo isento e objectivo para os queimar na praça pública.
Com meias palavras, foi isso que depreendi das palavras do prof. António Hespanha, que daqui felicito, e que não tem papas na língua e deu uma lição de sinceridade ao país que o viu. Até nas questões de falso consenso que hoje se abateu na vontade de Al berto joão da Madeira e o PM, é óbvio que só por oportunismo e conveniência - por via da infeliz catástrofe - é que o presidente vitalício do Governo regional da Madeira teve aquele comportamento. Ou seja, este pequeno "ditador" da ilha comportou-se, talvez pela 1ª vez, como um democrata porque, pura e simplesmente, está aflito. Se bem que o povo madeirense se deva distinguir daquele que autoritáriamente o comanda, e fá-lo sempre com soberba e com desprezo pelas ideias dos outros, sobretudo daqueles que sabem mais do que Al berto jardim, o que também não é difícil. De resto, a lógica dos argumentos do pequeno ditador assume sempre uma postura de força, ofensiva e nunca revelando níveis de racionalidade.
Isto entronca com uma questão maior, que consiste em saber como é que a verdade social é hoje organizada, sendo que ela é demasiado importante e complexa para ser deixada exclusivamente à imprensa, que está repleta de falhas em Portugal, além das motivações políticas e económicas existentes e das vaidades pessoais, que influenciam sobremaneira a objectividade com que os factos deveriam ser relatados, e não são.
Logo, a teoria de que os media podem registar aquelas forças e realidades com isenção e objectividade, é uma ilusão. É falsa. Basta que o director do jornal tenha um ódio de estimação por alguém na sociedade com mais currículo do que ele, o que também não é difícil, referenciando aqui o exemplo de António Hespanha - se comparado com o seu visado que tem um currículo pobrezinho e vive obsecado com a eliminação política do PM e em ser prémio Nóbel da literatura, para que nenhum jornalista do seu jornal se atreva a publicar seja o que for.
É que os jornais são empresas, têm uma hierarquia rígida e muitos dos seus quadros e jornalistas operam sob medo, sob a possibilidade de sofrerem coacções ou retaliações de vária ordem, ou até mesmo, no limite, serem despedidos. Lamentavelmente, este sector socioprofissional vive condições de trabalho altamente precárias, por isso eles desejam integrar os gabinetes ministeriais e, assim, compensarem as falhas de remuneração, estatuto e de poder que desejariam ter no jornalismo e que vão encontrar naqueles gabinetes do poder - que os promove, mas com o custo de alguma promiscuidade. Infelizmente, este ciclo relacional - altamente pornográfico - e que não abona nem a política nem os media - tem-se repetido em Portugal nas últimas décadas.
O que os media podem fazer é relatar alguns factos registados nas instituições, mas a que depois somam argumentos seus mitigados com algumas opiniões (também suas). E estando em causa conflitos de natureza política, a densidade opinativa e a carga dramática que os editores de jornais perpassam às matérias que publicam aumentam exponencialmente. Portanto, a ideia de que os jornalistas são máquinas de transparência, isentas e imparciais, é completamente falsa.
A necessidade e a natureza dos materiais sociais que têm entre mãos obriga-os, não raro, a serem promíscuos e a traficarem informação subvertendo, por vezes, completamente o seu sentido original para deixar um significado diferente na mente do leitor que papa aquelas mestelas no fim da linha. É óbvio que há jornalistas sérios e competentes. Dois exemplos breves de sinal contraposto: Miguel Sousa Tavares é um desses elementos com quem se aprende algo, e que se esforça por respeitar a deontologia da profissão, além de grande repórter; Mário crespo, é uma caixinha de subjectividades, parcial e tendencioso que se deixa absorver pelos seus ódios de estimação e, desse modo, fica tolhido pelas funções e competências de rigor, imparcialidade, objectividade e isenção que o bom jornalismo deve observar, e que crespo manifestamente desconhece.
Salvo, talvez, quando apresenta o "jornalismo de excelência" da CBS - em que o dito crespo só fala 15 segundos para tematizar a entrada da peça e depois desaparece de cena. Aí sim, ele é rigioroso e objectivo. Quando deixa de ler o teleponto transmuta-se num pântano, cheio de salamalques para aqueles que gosta, e repleto de farpas para aqueles por quem não nutre simpatia. É isto o jornalismo faccioso de crespo.
Em suma: aquelas observações pertinentes que ontem o prof. António Hespanha fez relativamente a uma certa casta pouco credível de jornalistas e de jornalismo-pitbull que ainda flutua em Portugal - entronca com uma ideia que explica, precisamente, que é essa mesma imprensa que assume um carácter persecutório e conspirativo relativamente a certos titulares ou órgãos de poder em Portugal, seja à direita seja à esquerda, mas que, em rigor, pouco ou nada se preocupam com as condições lastimáveis em que opera a justiça entre nós nem se preocupa com a defesa e promoção dos direitos dos cidadãos, alguns deles mui qualificados, quando estão em jogo relações com os media. Aí o arqº saraiva e outros como ele que têm agendas-escondidas, comportam-se como o Al berto jardim a assobiar ao cochicho...Já não se preocupam com a (verdadeira) liberdade de expressão dos cidadãos.
A imprensa é muito mais frágil do que a teoria democrática já admitiu. E é, por maioria de razão, demasiado frágil para carregar todo o peso da soberania popular às suas costas, até porque a ser assim tal representaria a maior das perversidades democráticas, sobretudo se nos lembrarmos quem são alguns jornalistas em Portugal, como actuam, como são financiados e quais são, na realidade, as suas verdadeiras motivações pessoais, financeiras e comerciais num quadro de globalização competitiva que é cada vez mais selvagem no mundo (e no mercado editorial) em Portugal.