quarta-feira

O regresso de Miguel Sousa Tavares

Estreou na noite de segunda-feira o seu novo programa, Sinais de Fogo, com uma entrevista ao primeiro-ministro. Fez 1,3 milhões de espectadores de audiência média. Como avalia este número?Não sei se é muito se é pouco, não sou especialista em audimetria. E como avalia as respostas do primeiro-ministro. Respondeu a tudo?Acho que responder, respondeu a tudo. Se ele foi convincente ou não isso é uma coisa que só as pessoas em casa podem dizer.
Estava nervoso?
A única coisa que me pôs nervoso foi o desencontro de tempos com a régie. Estive 20 minutos sem saber quanto tempo me restava. Não sabia a cronometragem, só tive a noção de que estava errada. Devia ter recebido um sinal quando faltassem dez minutos e não recebi. Isso distraiu-me bastante. Há anos que não fazia uma coisa assim.
Que lhe parece o resultado?
Parece-me que tive muita coragem, se quer que lhe diga. Foi estar em directo durante 75 minutos, num programa totalmente novo, que nunca tinha sido testado e do qual só se tinha feito um ensaio. Tinha teleponto, mas não usei. Não usei porque não consegui. Nunca consegui. Havia outras coisas que não conhecia. As perguntas foram de improviso, foram muitas coisas de improviso.
As perguntas foram combinadas com o primeiro-ministro?
Não, nada. Foi completamente livre.
Ele conhecia os temas que seriam abordados na entrevista?
Ele perguntou quais seriam os temas, mas isso é normal. A única coisa é que ele fazia questão de falar sobre a matéria económica, mas eu também queria falar sobre a questão económica.
Portanto, a questão de ter de incluir esse tema nem se colocou...
Não, e não pode haver temas tabus. Se ele me dissesse que havia um tema tabu e se esse assunto fosse aquele que interessava, não se podia fazer. Se ele não falasse sobre a história da TVI [caso da alegada tentativa de controlo dos media] não havia entrevista.
O que é que o primeiro-ministro disse depois da entrevista?
No final nem tivemos tempo de nos despedir. Os fotógrafos caíram em cima dele e deixei de ver o primeiro-ministro.
No próximo programa será difícil igualar estes resultados. Não haverá outro entrevistado tão importante.
Pois, é verdade. Agora começa a dor de cabeça destes programas, da qual já não tinha saudades nenhumas, que tem a ver com os convidados.
Quem será o próximo convidado?
Estou à espera de uma resposta.
Obs:
Miguel Sousa Tavares é um jornalista seguro de si e muito versátil, e, essencialmente, é um grande repórter. Está de parabéns, apesar de o achar pouco imaginativo, logo demasiado previsível. Mas o que ele tem a mais, tem o Crespo a menos - que só muito dificilmente distingue uma rolha duma garrafa, e, por isso, designa de jornalismo aquilo que todos sabem ser um misto de ódio, ressentimento e uma terrível impreparação técnica, profissional e intelectual para entrevistar seja quem for. Alguém o enganou quando lhe disse que ele poderia ser jornalista, que reclama uma condição nuclear no metier: ser rigoroso e objectivo.