domingo

O romantismo de Manuel Alegre

Manuel Alegre garantiu hoje, no Porto, que não será "candidato [à Presidência da República] em nome de nenhum partido" mas sim "por Portugal e pela necessidade de dar uma nova esperança à democracia portuguesa".
Alegre rejeitado para Belém
Cavaco não comenta candidatura de Alegre
Obs:
O poeta M. Alegre tem um capital simbólico de combate à ditadura salazarista estimável, foi fundador de um partido importante do regime democrático, é um poeta admirado pelos seus amigos e seguidores, tem uma veia romantica e uma voz tonitroante que ainda assusta alguns eleitores, mas isso não faz dele, automaticamente, um candidato credível a Belém. Alegre não tem experiência governativa, não conhece a máquina do Estado, nunca exerceu funções executivas (de ministro ou sequer de secretário de Estado), nem autarca numa câmara de província, não se lhe conhece nenhum projecto infra-estruturante para o país, nem mesmo quando foi um dos deputados mais sedentários da república para garantir a sua reforma dourada.
Alegre só é hoje responsável por um mau precedente na democracia em Portugal: desencadear um processo eleitoral a um ano de distância da sua realização, obrigando os media a dar-lhe atenção e a distrair o país daquilo que é nuclear: a economia e a sociedade. Neste sentido, Alegre é, à priori, um candidato que viola uma das regras formais da democracia, e, desse modo, um mau democrata perante a ânsia de ser o 1º a apresentar-se na pool position.
Alegre, como é caçador, já deveria saber que a política tem regras e procedimentos e timings, como a caça, e violar essas regras é como ir à caça no tempo do defeso. Alguém irá lembrar ao poeta, talvez Cavaco, que é ilegal caçar no defeso, mas, pelos vistos, a vaidade e a gula de poder do poeta é tanta e tamanha que o Alegre anti-salazarista deconhece uma das regras básicas da democracia pluralista: respeitar os prazos próprios da democracia.
Bastaria que Diogo Freitas do Amaral desse à costa - apoiado pelo PS de Sócrates, como aqui defendemos há dias, para que Cavaco encostasse à box e a virtual aventura presidencial de Alegre não passasse duma miragem poética numa noite lírica.