quinta-feira

Tributo à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica

Sempre que aparece um novo equipamento o homem embevece e pensa logo em duas coisas: adquiri-lo e tirar partido dele a fim de atingir o bem supremo, a felicidade. O aparecimento do iPad apresentado pelo patrão da Apple, Steve Jobs, foi mais uma manifestação desse embevecimento tecnotrónico do nosso tempo, comprimido e ubiquo, onde já não há espaço nem para o tempo nem para o próprio espaço.
Aparentemente, isto é mais bom do que mau, mas não deixa de nos alienar nesta massa avassaladora de Pub. à escala planetária onde todos vêem tudo ao mesmo tempo, e todos, por extensão, ficam com os mesmos desejos por satisfazer: consumir. Daí a lembrança da Escola de Frankfurt - e de T. Adorno, H. Marcuse, Benjamim, depois J. Habermas (e outros) - por ser a plataforma de pensamento que elaborou as críticas a esse consumismo desenfreado que, vistas bem as coisas, não trazem mais felicidade ao bem comum nem melhor qualidade de vida, excepto para as empresas que comercializam esses equipamentos, agora na fronteira do super-telemóvel e do computador portátil.
Não obstante a funcionalidade de tais equipamentos, há aqui a criação artificial de necessidades que impele as massas ao consumo, e essa indução é típicamente um sub-produto do capitalismo. Dinamizado pela natureza das informações (veja-se como Steve Jobs vendeu o seu produto, de jeans e ténis), pela capacidade de produção mediática, pela dimensão pós-industrial da mensagem, pela manipulação dos símbolos, das cores, das formas, dos temas contidas naquele iPad.
É óbvio que será mais um sucesso de vendas, o desejo está criado, a necessidade artificializada, as pessoas já começaram a reservar recursos para adquirir o equipamento, e os portugueses, sempre eles, lá irão fazer fila indiana às portas da Fnac para se enterrarem ainda mais nessa alienação colectiva, muito semelhante aquela que corporizam quando vão ou regressam da "bola" - que é um dos desportos mais interessantes mas, ao mesmo tempo, um dos que mais estupidifica as pessoas.
Eis o que me evocou ver alí Steve Jobs, vendendo a sua banha da cobra, poderia ser uma matrafona a vender lençois e fronhas na Feira Ladra de alto-falante ao pescoço, mas não(!!), era Steve Jobs a vender felicidade e desejos naquela tablete de 700gr neste universo cultural em que vegetamos.
Houve um estímulo e o mundo, de súbito, começou a salivar. Pelo meio apareceu a mensagem nos media que teve como função vulnerabilizar mais as pessoas, perdão, os consumidores, e, desse modo, destruir-lhes as eventuais resistências à adesão ao referido equipamento.
Foi assim que o mundo inteiro levou mais uma injecção dada pela agulha hipodérmica de Steve Jobs - ao alienar boa parte do mundo ao seu novo brinquedo. Daí o sucesso da Apple - que disparou mais uma bala mágica e antecipou o sucesso comercial do equipamento, tal como ocorreu com o iPod.
Mais uma vez, também aqui, o conceito de massa é fundamental para se compreender estas abordagens (comerciais) de efeitos planetárias. Nós, o rebanho destinatário da mensagem, somos as ovelhas isoladas das referências sociais e culturais, e agimos egoísticamente em nome dessa felicidade tecnotrónica que nos faz sonhar com a eternidade e a imortalidade.
Transfomamo-nos assim numa espécie de rebanho feliz de écran nas mãos, que nos deixamos assimilar pelo pasto tecnológico que um norte-americano espertalhão vende à Europa e ao mundo, quebradas as resistências psicológicas e económicas que vão permitir meio mundo comer mais aquele tremoço tecnológico na esperança de contrair mais um milagre.

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