segunda-feira

O trabalho

Há uma década podíamos antecipar com algum sucesso o que iria ser o futuro imediato na empresa, o erro de falhar e os custos que isso implicaria eram diminutos comparados com as vantagens dessa previsão e planificação. Isso foi ao tempo da empresa na Revolução Indústrial (RI), substituída depois por milhares de marcas colectivas e individuais, de milhões de consumidores e de empresas que se "comem" umas às outras em busca do seu quinhão de mercado. Isto significa que a produção de bens e de serviços passou a ter uma existência quase oculta, fora da montra donde todos viam o que dantes se passava - ao tempo da RI. Dantes a prioridade da empresa centrava-se na maximização do trabalho, hoje, ao invés, essa energia é concentrada na valorização das acções para os accionistas, pelo que as empresas não poderão ser fiéis aos seus empregados nem sequer garantir-lhes estabilidade. Essa noção de fidelidade morreu há muito na relação da empresa com o trabalhador, v.q., os accionistas não conhecem essa linguagem e porque só as mais-valias centradas nas acções lhes interessa. E isto, evidentemente, degrada a condição do trabalhador e do seu estatuto na empresa. De resto, é esta a ideia defendida por Richard Reich quando teoriza a noção de estabilidade e de emprego. Ora, esta dinâmica de atomização e individualização dos lucros nas empresas faz com que percebamos melhor os "amorins" de Portugal, animados pela ânsia do lucro ávido - por natura incompatível com aquele estatuto digno que o trabalhador justamente reclama. Foi este valor, esta confiança que desapareceu da economia e tem minado as relações entre os vários agentes no imenso mercado global que hoje está ao virar da esquina. Por outro lado, isto também significa que um empresário pode subir muito alto ou cair fundo, sem nunca sabermos onde iremos parar. Hoje apenas sabemos que temos de trabalhar muito para tirar partido de todas essas incertezas. Até nisto o presente perde quando comparado com o passado.