DOM HELDER CÂMARA - Centenário
"...quando dou pão aos pobres,
chamam-me de santo, quando
pergunto pelas causas da pobreza,
me chamam de comunista."...
Dom Hélder Câmara
"O DOM da paz"
DOM HELDER CÂMARA
Hélder Pessoa Câmara, nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, no dia 7 de fevereiro de 1909. Filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, maçom, jornalista, crítico teatral e funcionário de uma firma comercial. Sua mãe D. Adelaide Pessoa Câmara, era professora primária. Formaram uma família simples e tiveram treze filhos, dos quais somente oito conseguiram sobreviver, os demais morreram vítimas de uma epidemia de gripe, que assolou a região no ano de 1905.
O décimo primeiro filho do casal recebeu o nome de Hélder, por escolha do pai, que é a denominação de um pequeno porto, situado na Holanda.
A sua tendência religiosa veio a florescer a partir dos quatro anos de idade, devido a influência dos padres lazaristas, que atuavam na Arquidiocese de Fortaleza, conhecido por Seminário da Prainha.
Recebeu sua primeira eucaristia aos oito anos de idade e aos quatorze entrou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza, onde fez os cursos preparatórios, e depois cursou filosofia e teologia. Durante os estudos sempre demonstrou desenvoltura nos debates filosóficos e teológicos.
Na festa da assunção de Nossa Senhora, comemorada no dia 15 de agosto de 1931, o seminarista Hélder, foi ordenado sacerdote, por especial autorização da Santa Sé, em virtude de ainda não ter completado a idade mínima exigida para ordenação, que era a de 24 anos.
Sua primeira missa foi celebrada no dia seguinte a sua ordenação aos 22 anos de idade.
Em seguida foi nomeado diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará, cargo que exerceu por cinco anos.
Depois foi transferido para o Rio de Janeiro, onde morou e trabalhou por 28 anos. Colaborou com revistas católicas, organizou o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, exerceu funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação, fundou a Cruzada São Sebastião, para atender favelados e o Banco da Providência, destinado a ajudar famílias pobres.
O Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no dia 20 de abril de 1952, o elegeu Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. No período em que permaneceu lá, exerceu o cargo de Secretário Geral da CNBB, implantou os ideais da Organização, promovendo interação entre os bispos do Brasil, participou de congressos para atualização e adaptação da Igreja Católica aos tempos modernos, sobretudo integrando a Igreja na luta em defesa da justiça e cidadania.
Aos 55 anos, Dom Hélder Câmara, foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife. Assumiu a Arquidiocese, em 12 de março de 1964, permanecendo neste cargo durante vinte anos. Na época em que tomou posse como Arcebispo em Pernambuco, o Brasil encontrava-se em pleno domínio da ditadura militar. Momento político este, que o tornou um líder contra o autoritarismo e os abusos aos direitos humanos, praticado pelos militares.
Desempenhou inúmeras funções, principalmente em Organizações não Governamentais, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria.
Como sacerdote representante da Igreja Católica, Dom Helder pôde levantar a sua voz em defesa da comunidade sem vez e sem voz na escala social. Teve como ideário nas suas pregações a luta pela fé cristã e a caridade aos pobres e oprimidos.
Paralelamente às atividades religiosas, Dom Helder criou projetos e organizações pastorais, destinadas a atender às comunidades do Nordeste, que viviam em situação de miséria.
Devido a sua atuação política e social, sua pregação libertadora em defesa dos mais pobres, seja pela denúncia da exploração dos países subdesenvolvidos, ou pela sua pastoral religiosa em prol da valorização dos pobres e leigos, foi chamado de comunista, e passou a sofrer retaliações e perseguições por parte das autoridades militares. Foi impedido de ter acesso aos meios de comunicação de massa e de divulgar suas mensagens durante todo o período ditatorial.
Apesar de tudo, a personalidade de Dom Hélder ganhava, cada vez mais, dimensão no Brasil e no exterior. Recebia, constantemente, convites para proferir palestras e presidir solenidades nas universidades brasileiras e em instituições internacionais.
No final da década de 90, com o apoio de outras instituições filantrópicas, lançou oficialmente, na Fundação Joaquim Nabuco, a campanha Ano 2000 Sem Miséria. Para ele era grande o constrangimento em saber que, às vésperas do segundo milênio do nascimento de Jesus Cristo, milhares de pessoas ainda vivessem na miséria.
Dom Hélder escreveu diversos livros que foram traduzidos em vários idiomas, entre os quais, japonês, inglês, alemão, francês, espanhol, italiano, norueguês, sueco, dinamarquês, holandês, finlandês.
Recebeu cerca de seiscentas condecorações, entre placas, diplomas, medalhas, certificados, troféus e comendas.
Foi orador de massas no Brasil e no exterior, onde expressou, com densidade e força, seus ideais, posicionamentos, questionamentos religiosos, políticos e sociais. Foi distinguido com 32 títulos de Doutor Honoris Causa, vinte e quatro prêmios dos mais diversos órgãos internacionais. Diversas cidades brasileiras concederam-lhe cerca de 30 títulos de cidadão honorário.
O Arcebispo D. Hélder Câmara é lembrado na história da Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil e no mundo, como um Apóstolo, que soube honrar o Brasil e usar o carisma de defensor da paz e da justiça para os filhos de Deus.
No dia 27 de agosto de 1999, a figura do grande peregrino do povo, com sua aparência frágil e a palavra forte, vitimada por uma parada cárdio-respiratória, calou a voz, para dar início a infinita caminhada para a verdadeira vida, que era assim como ele via morte.
"...quando dou pão aos pobres,
chamam-me de santo, quando
pergunto pelas causas da pobreza,
me chamam de comunista."...
Dom Hélder Câmara
"O DOM da paz"
Recife, 22 de julho de 2003
FONTES CONSULTADAS:
DOM Hélder - 90 anos: o dom dos pobres. O Povo, Fortaleza, 7 fev. 1999. Caderno Especial.
JORGE, José. Homenagens: Dom Hélder Câmara. Joaquim Nabuco. João Cabral de Melo Neto. Vicente do Rego Monteiro. Brasília: Senado Federal. 1999. 64p.
ROCHA, Zildo. Hélder, o Dom. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2000. 224p.
DOM Hélder: ele é tão bonito que na certa ressucitará. Jornal do Commercio, Recife, 29 ago. 1999. JC Especial.
(Texto atualizado em 22 de novembro de 2007)
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