sábado

Manuel Alegre e o expediente: o pretexto em política

  • A verdadeira humildade é a auto-estima inteligente, que nos impede de termos uma ideia excessivamente boa ou má a respeito de nós próprios. Faz-nos modestos ao lembrar-nos o quão longe ficámos daquilo que podemos ser.
R. Sockman.
Quando um Estado quer fazer guerra a outro Estado e não tem razões objectivas para isso arranja um pretexto para o efeito. A história tem testemunhado isso. O paralelo com o poeta Alegre, na contenda com santos Silva, é manifesto: ele já não sabe o que fazer ao seu milhão de votos (hoje em estado gasoso, evidentemente), também não tem coragem para se coligar com o adversário (o BE) - porque parecia traição à sua própria filiação. Falta-lhe coragem, ideias, projecto e ânimo para criar um novo partido, um partido que não fosse absorvido ou manipulado pelo BE, bem entendido.
É neste quadro que resta ao poeta a magna quaestio marxista leninista: Que fazer?
É simples: como foi o Santos Silva que na última semana utilizou uma expressão mais combativa ("malhar"), ainda que num contexto partidário e usando a expressão metafóricamente relativamente à direita, o poeta Alegre (o tal que é muito importante e tem estatuto!!!) armou-se em "virgem ofendida", assumiu as dores de parto dos outros (o que é ridículo) - e toca de desancar no "ministro da propaganda", como injustamente o cunham (com o fito de o apoucar).
Este clima revela bem a má fé de Alegre, que, verdadeiramente, anda a inventar guerrazinhas para justificar a sua existência política no III milénio. Alegre faz-me lembrar aqueles amadores do conflito e da polemologia que fazem as guerras só para ver se as armas funcionam. São as chamadas guerras estúpidas, sem propósito, sem finalidade, sem objectivo. Como, de resto, são todas as guerras.
O ideal é projectar-se no Santos Silva a imagem do caceteiro, do fiel que guarda o dono, do tipo da propaganda - para ver nele um alvo a abater do lado de alguns históricos: Alegre, Henrique Neto. Depois, salpicar com uns pósinhos autoritários de oregãos e salsa Sócrates - para lhe emprestar um ar salazarento.
Com este cenário estão criadas as condições políticas e psicológicas (diria que é o psicodrama em versão poética) para Manuel Alegre irromper à turba com o velho combatente anti-fascista e anti-salazarista que vem trazer a liberdade ao povo português a partir do Norte d´África.
Contudo, Alegre esquece-se de algumas coisinhas: salazar já morreu, há liberdade em Portugal - até para dizer "malhar" - até porque o léxico trauliteiro de Louçã, fazenda & companhia - é bem pior, e aqui a poesia de Alegre nunca se insurgiu a fazer um poema.
Deus nos livre de entregar uma negociação colectiva de trabalho ou a preparação de algum dossier económico ou social a pessoas que na bancada parlamentar se dedicam a uma única coisa: conspirar contra os da sua própria casa. É isto que o deputado-poeta tem feito. Não se lhe conhece uma única iniciativa legislativa para dar corpo às suas proclamações avulsas mitigadas com os radicalismos do BE.
As guerras hoje inventadas pelo poeta não têm razão de ser, não passam de meros pretextos e expedientes para litigar com os seus e, por essa via, ganhar espaço nos media e fazer o seu psicodrama e dizer: eu existo políticamente, olhem beem para mim hãããã!!!!
Alegre anda equivocado com a sua cotação política, para isso muito contribuíu o milhão de votos das últimas eleições presidenciais (nem que para isso tenha humilhado Mário Soares) - que hoje valem cinzas. De resto, as posições políticas do poeta são insustentáveis, cheiram a mofo porque evocam as lutas contra o fascismo de há 30 anos e esquece que Portugal já está no séc. XXI.
A minha grande tristeza é, de facto, não perceber a razão pela qual o poeta não se dedica a fazer aquilo que melhor sabe fazer: poesia.