Francisco Louçã: o grande anarquista institucionalizado
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Louçã pensa e fala da economia como se Portugal não estivesse integrado na UE, não tivesse que respeitar indicadores de desenvolvimento e percentagens de défice nas suas contas públicas, que hoje, por toda a Europa, em resultado da recessão, tiveram que ser revistos - e que mereceram as naturais alterações nas rectificações do OE/09.
Em rigor, vejo e ouço Louçã e não posso deixar de lhe reconhecer valor, até porque fala sempre com aquele vigor, esse sim - denunciando uma incrível vontade de "malhar" em quem quer que seja que se lhe atravesse à frente do palanque, nem que seja a interessante Joana Amaral Dias - que até poderia discutir comigo o problema de a taxa de natalidade em Portugal ser tão diminuta senão mesmo negativa. Pois também aqui, pelo facto de Joana ter aceite ser mandatária de Mário Soares nas últimas eleições presidenciais - Loução resolve punir exemplarmente a Joana da direcção - nem que seja para dar um sinal (mais um..!!!) ao poeta Manuel Alegre de que está de facto empenhado nessa "grande esquerda" - que se resume a um partido radical que come votos ao PCP e à inutilidade política a que o poeta Alegre se tem prestado ao longo destes últimos meses: um Alegre que tem um pé no PS e meteu outro no BE - numa duplicidade que revela falta de coragem política, chantagem e insustentabilidade na sua linha de pensamento e acção. Não sei se o silêncio cúmplice e temerato do PS-oficial relativamente a esta chantagem política lhe trará mais benefícios do que prejuízos. O que sei é que aquele que procura trocar liberdade por segurança acaba por ficar sem ambas.
Sendo economista todo o discurso de Loução é montado para subverter a realidade, esfrangalhar o Estado e partir a espinha dorsal à sociedade em 72h - se, por um azar dos Távoras, o BE fosse um dia poder em Portugal. Os pequenos e médios investidores emigrariam todos numa semana para África deixando o país entregue aos campos de pasto das planícies alentejanas. Talvez fosse aqui que veríamos Louçã montado num tractor puxando uma grade-de-disco para lavrar a terra e produzir batatas, nabos e tomates para ele ir vender ao mercado da Cova da Piedade aos domingos de manhã de mão-dada com Luís Fazenda.
A Bolsa de Valores de Lisboa fecharia portas em 12h, e com ela todas as empresas cotadas, o que representaria um abalo na economia real e virtual nacional sem precedentes em Portugal. Deixando de haver empresas cotadas em bolsa - os bancos deixariam também de poder financiar a actividade económica em larga escala e os seus fluxos financeiros diminuiriam substancialmente. Depois nem um modesto funcionário conseguiria crédito para - já não digo comprar casa e carro, mas até para pagar as cotas ao partido de Louçã.
Sem finanças, sem economia, restaria a Louçã o sol e as praias do Allgarve - mais um modicum de anarquismo nas ruas, sem Estado, sem autoridade nem autoridades com a luta de classes ao rubro em greve permanente animada pelos maestros carvalho da Silva e um sacristão comunista, Mário NOgueira.. Todos mandando tomates e nabos uns aos outros numa alegria torpe e improdutiva. Seria nisto em que se transformaria a governação de Louçã caso fosse poder em Portugal. Louçã, Carvalho da Silva, Mário Nogueira... Um festival de greves permanente. Uma verdadeira "tourada" com imensas cornadas na economia. Aí sim, o desemprego duplicaria dos 8 para os 16% em Portugal.
O que é lamentável em Louçã é que sendo ele um "conceituado" economista, não é como Ferreira leite (que não passa duma contabilista) é que ele julgue que a "caixa de velocidades" da economia real obedeceria à sua tábua simplificada de regras, obedeceria aos seus botões - convertendo os seus desejos em realidades de um dia para o outro. E aí teríamos o pleno emprego, as bolsas de valor da Europa a pagar a Segurança Social aos trabalhadores, as exportações a disparar por obra e graça de Trotski e com a taxa Tobin a funcionar. No fundo tirando aos ricos para dar aos pobres. Um verdadeiro Robin dos Bosques - animando o sector da Banda desenhada (BD).
Veríamos até um Louçã a ir viver para uma casa de habitação social da autarquia de Almada - só para dar um exemplo do seu franciscanismo e despojamento de bens materiais, afectando 40% do seu vencimento para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
A isto Louçã chama(ria) de "socialismo". Talvez fosse mais avisado e correcto chamar-lhe anarquismo temperado com uns pósinhos de teoria económica justificados pelo caso BPN, um resquício do cavaquistão - que Sócrates teve de apagar com efeitos em todos nós. Foi uma inevitabilidade ante a ineficiência do Plano Cadilhe. Pergunto-me hoje como estaria o país se a nacionalização não tivesse ocorrido. Quantas falências de empresas teriam ocorrido? Qual teria sido o seu efeito de contágio na economia real portuguesa?
No fundo, já todos percebemos o grande plano do BE, essa "grande esquerda" de Louçã: fazer Governo com o poeta Manuel Alegre. Com sorte a direcção que saneou estalinisticamente Joana Amaral Dias é a mesma que ainda vai colocar o poeta como ministro das Finanças de Portugal. Com um PCP minguado e um PSD reduzido a cinzas porque, em rigor, não estou a ver mais ninguém que hoje, em seu perfeito juízo, possa depositar o seu voto nesse grande anarquista institucionalizado que é Francisco Louçã. O que Louçã não disse foi aquilo que mais e melhor ficou nas entrelinhas: a destruição do Estado e ausência total de impostos. E assim Louçã governaria com base na caridade de todos nós mais a esmola da quermesse arrebanhada todos os domingos pela sacristia da direcção do BE. A mesma que recorre ao expediente do sanemaento só porque um membro apoiou Mário Soares e não o poeta Alegre nas últimas eleições presidenciais. Louçã governaria Portugal no país das maravilhas. Ou, como diria Manuel João Viera dos Ena Pá 2000 - cada português deveria ter um Lamborghini miura e duas casas no Allgarve, em vez de andar a comprar fatos a prestações no Conde Barão.
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