Francisco Louçã: o grande anarquista institucionalizado
Uma esquerda grande - dizia o tribuno-economista Francisco Louçã... E lá, presume-se, deseja meter o poeta Manuel Alegre e a maioria relativa de Sócrates e do PS. De facto, ambição é o que não falta a Louçã que fala em convergências mas que tem a barreira do PCP - que genéticamente representa uma muralha d'aço. Será a convergência com Alegre & Roseta a que Louçã se reporta?! Creio que sim. É neste jogo de sedução e desgaste que o professor de economia aposta, que é tão só um dos líderes partidários que há mais tempo está na direcção partidária - apesar dos breves 10 anos do BE. Qualquer português bem formado preocupado com o rumo do seu País, com a escala de desenvolvimento e com as dificuldades que hoje atravessamos podería concordar com algumas das coisas que Louçã disse. Sobretudo em matéria financeira, económica e social. Todos queremos um Estado que use os seus recursos de forma racional, invista na economia para gerar crescimento, desenvolvimento e bem-estar para os portugueses e construa uma sociedade mais justa, ou seja, com menos desigualdades sociais que ainda hoje existem. Mas Louçã é um qualificado professor de economia, conhecendo as teorias para descrever os problemas saberá que, na prática, 80 ou 90% daquela parafernália económica não cola com a realidade. Se Louçã fosse poder ele teria de rever as suas posições de 24 em 24h. Na economia, no sector financeiro e por aí fora. Até em matéria de política externa - éramos capaz de ter um Louçã mais pró-Obama e pró-América do que muitos esperariam. Entre uma aula de economia - doméstica e internacional - cruzando a micro com a macroeconomia - e a realidade da governação (que enfrenta o peso das corporações e as vicissitudes do imprevisto) vai um mundo de distância. Loução não pode mexer na economia - seja no sector financeiro ou mesmo no sector do trabalho - com aquela facilidade que enuncia nos discursos, sob pena de os principais investimentos do país zarparem para outro país; Louçã não pode alterar radicalmente a legislação do trabalho a contento dos trabalhadores num ápice - sob pena de gerar uma convulsão popular e deixar o poder na rua - com os empresários espetados num pau no Largo do Pelourinho de cada cidade de Distrito no País. É natural que entre as posições radicais e facilitistas de Louçã e alguma brandura do ministro do Trabalho, só para dar um exemplo, possa existir algum afinamento. Isto significa que no caso dos anunciados despedimentos do grupo Amorim (das cortiças), o Estado teria e deveria ser menos brando, sob pena de abrir aí um precedente grave para alguns empresários oportunistas se aproveitarem da fase da recessão da economia para fazerem os ajustamentos que há muito desejavam - engrossando ainda mais a taxa de desemprego em Portugal e agravando o drama social que isso implica.
Louçã pensa e fala da economia como se Portugal não estivesse integrado na UE, não tivesse que respeitar indicadores de desenvolvimento e percentagens de défice nas suas contas públicas, que hoje, por toda a Europa, em resultado da recessão, tiveram que ser revistos - e que mereceram as naturais alterações nas rectificações do OE/09.
Em rigor, vejo e ouço Louçã e não posso deixar de lhe reconhecer valor, até porque fala sempre com aquele vigor, esse sim - denunciando uma incrível vontade de "malhar" em quem quer que seja que se lhe atravesse à frente do palanque, nem que seja a interessante Joana Amaral Dias - que até poderia discutir comigo o problema de a taxa de natalidade em Portugal ser tão diminuta senão mesmo negativa. Pois também aqui, pelo facto de Joana ter aceite ser mandatária de Mário Soares nas últimas eleições presidenciais - Loução resolve punir exemplarmente a Joana da direcção - nem que seja para dar um sinal (mais um..!!!) ao poeta Manuel Alegre de que está de facto empenhado nessa "grande esquerda" - que se resume a um partido radical que come votos ao PCP e à inutilidade política a que o poeta Alegre se tem prestado ao longo destes últimos meses: um Alegre que tem um pé no PS e meteu outro no BE - numa duplicidade que revela falta de coragem política, chantagem e insustentabilidade na sua linha de pensamento e acção. Não sei se o silêncio cúmplice e temerato do PS-oficial relativamente a esta chantagem política lhe trará mais benefícios do que prejuízos. O que sei é que aquele que procura trocar liberdade por segurança acaba por ficar sem ambas.
Sendo economista todo o discurso de Loução é montado para subverter a realidade, esfrangalhar o Estado e partir a espinha dorsal à sociedade em 72h - se, por um azar dos Távoras, o BE fosse um dia poder em Portugal. Os pequenos e médios investidores emigrariam todos numa semana para África deixando o país entregue aos campos de pasto das planícies alentejanas. Talvez fosse aqui que veríamos Louçã montado num tractor puxando uma grade-de-disco para lavrar a terra e produzir batatas, nabos e tomates para ele ir vender ao mercado da Cova da Piedade aos domingos de manhã de mão-dada com Luís Fazenda.
A Bolsa de Valores de Lisboa fecharia portas em 12h, e com ela todas as empresas cotadas, o que representaria um abalo na economia real e virtual nacional sem precedentes em Portugal. Deixando de haver empresas cotadas em bolsa - os bancos deixariam também de poder financiar a actividade económica em larga escala e os seus fluxos financeiros diminuiriam substancialmente. Depois nem um modesto funcionário conseguiria crédito para - já não digo comprar casa e carro, mas até para pagar as cotas ao partido de Louçã.
Sem finanças, sem economia, restaria a Louçã o sol e as praias do Allgarve - mais um modicum de anarquismo nas ruas, sem Estado, sem autoridade nem autoridades com a luta de classes ao rubro em greve permanente animada pelos maestros carvalho da Silva e um sacristão comunista, Mário NOgueira.. Todos mandando tomates e nabos uns aos outros numa alegria torpe e improdutiva. Seria nisto em que se transformaria a governação de Louçã caso fosse poder em Portugal. Louçã, Carvalho da Silva, Mário Nogueira... Um festival de greves permanente. Uma verdadeira "tourada" com imensas cornadas na economia. Aí sim, o desemprego duplicaria dos 8 para os 16% em Portugal.
O que é lamentável em Louçã é que sendo ele um "conceituado" economista, não é como Ferreira leite (que não passa duma contabilista) é que ele julgue que a "caixa de velocidades" da economia real obedeceria à sua tábua simplificada de regras, obedeceria aos seus botões - convertendo os seus desejos em realidades de um dia para o outro. E aí teríamos o pleno emprego, as bolsas de valor da Europa a pagar a Segurança Social aos trabalhadores, as exportações a disparar por obra e graça de Trotski e com a taxa Tobin a funcionar. No fundo tirando aos ricos para dar aos pobres. Um verdadeiro Robin dos Bosques - animando o sector da Banda desenhada (BD).
Veríamos até um Louçã a ir viver para uma casa de habitação social da autarquia de Almada - só para dar um exemplo do seu franciscanismo e despojamento de bens materiais, afectando 40% do seu vencimento para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
A isto Louçã chama(ria) de "socialismo". Talvez fosse mais avisado e correcto chamar-lhe anarquismo temperado com uns pósinhos de teoria económica justificados pelo caso BPN, um resquício do cavaquistão - que Sócrates teve de apagar com efeitos em todos nós. Foi uma inevitabilidade ante a ineficiência do Plano Cadilhe. Pergunto-me hoje como estaria o país se a nacionalização não tivesse ocorrido. Quantas falências de empresas teriam ocorrido? Qual teria sido o seu efeito de contágio na economia real portuguesa?
No fundo, já todos percebemos o grande plano do BE, essa "grande esquerda" de Louçã: fazer Governo com o poeta Manuel Alegre. Com sorte a direcção que saneou estalinisticamente Joana Amaral Dias é a mesma que ainda vai colocar o poeta como ministro das Finanças de Portugal. Com um PCP minguado e um PSD reduzido a cinzas porque, em rigor, não estou a ver mais ninguém que hoje, em seu perfeito juízo, possa depositar o seu voto nesse grande anarquista institucionalizado que é Francisco Louçã. O que Louçã não disse foi aquilo que mais e melhor ficou nas entrelinhas: a destruição do Estado e ausência total de impostos. E assim Louçã governaria com base na caridade de todos nós mais a esmola da quermesse arrebanhada todos os domingos pela sacristia da direcção do BE. A mesma que recorre ao expediente do sanemaento só porque um membro apoiou Mário Soares e não o poeta Alegre nas últimas eleições presidenciais. Louçã governaria Portugal no país das maravilhas. Ou, como diria Manuel João Viera dos Ena Pá 2000 - cada português deveria ter um Lamborghini miura e duas casas no Allgarve, em vez de andar a comprar fatos a prestações no Conde Barão.
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