João Rendeiro - um "banqueiro de sucesso". O Estado-vaquinha-cornélia
João Rendeiro é, hoje, uma "sub-espécie de Oliveira e Costa". Explicito: ao saber que dezenas, centenas dos clientes do BPP (de que foi o seu máximo responsável) faziam contratos a prazo e o banco dava-lhes outro destino a fim de gerar mais-valias - incorreu em deslealdade para com os seus depositantes. Isso configura um crime e deve ser sancionado pela lei. Tal como sucede a um cidadão que pediu um empréstimo ao banco e deixou de assegurar a sua prestação. Se não tem dinheiro, devolve a casa (hipotecada ao banco), que depois é vendida em leilão (a um oportunista que fará um bom negócio). Esta tem sido a prática da banca nos últimos anos em Portugal perante os cidadãos faltosos. Só falta perguntar para onde vão morar tais pessoas aos 30 e 40 anos, com mulher e filhos... Presume-se que vão todos de charola para casa dos pais. Enfim, uma grande salganhada. Ora, o dinheiro depositado no BPP não tendo asas próprias, voou para algures, e o "sr. Algures", hoje, não responde perante as centenas de clientes que pretendem desesperadamente recuperar os seus capitais, por vezes poupança duma vida e das quais dependem para sobreviver. Neste quadro dramático de rarefacção do capital talvez não fosse desavisado o sr. Rendeiro, o tal que teve a sagesse de lançar o seu livro no dia da bronca, vir a público dar uma palavrinha a fim de tranquilizar os seus clientes. Afirmando que tem intenções de lhes devolver os capitais, nem que para isso faça o óbvio: alienar o imenso património do BPP e assim honrar as dívidas. Seria o mínimo que o sr. rendeiro poderia - e deveria - fazer. Mas ele não aparece, e não aparecendo - nem com a ajuda de David Copperfield, nenhum leitor lhe poderá pedir um autógrafo. E é pena, porque mesmo quando não se consegue liquidar as dívidas, procura lavar-se a honra, qualidade essencial a quem está na banca, mas que aqui parece também estar em saldo negativo. O Estado, e bem, demarca-se dessa irresponsabilidade grosseira, mas terá meios legais (coercivos) para fazer aplicar a lei caso o BPP não honre as dívidas que tem para com os seus depositantes. O Estado não deve apenas intervir mediante a figura da nacionalização (como no BPN), no caso do BPP o Estado deverá operar mais como o contabilista de serviço a quem incumbe garantir o bem comum, ainda que para o efeito inste o banco privado (e os seus accionistas, novos e velhos) a serem pessoas de bem num estado de direito. Porque também foi à sombra dessas regras que fizeram fortunas. Nada fazer, não aparecer, esconder-se é não apenas sinónimo de falta de carácter como uma grosseira irresponsabilidade que questiona a honra de todos aqueles que operam no sector da alta finança em Portugal. Nada fazer é presumir que o "Estado é a vaquinha-cornélia" que tudo resolve, e isso ninguém perdoará ao sr. Rendeiro e aos seus sócios, ou associados... Presumir isso é inadmissível. Ah, e que paguem os juros... PS: Desconhecendo o teor do livrinho do sr. Rendeiro atrevo-me a dizer que ele terá que fazer mexidas no Índice e, provavelmente, introduzir um Capítulo sobre lisura, carácter e honra no sector da banca em Portugal. Temo que será incapaz de o escrever. Mas alguém terá de o fazer...
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