Marcelo é o "analista-iceberg" português. O Bairro do Amor
O facto de Marcelo ter cunhado o PM três ou quatro vezes de "chico-esperto" coloca-nos um desafio epistemológico mais fino do que aquele que expendemos na reflexão abaixo. Ninguém está acima da lei, mas por efeito de sugestão e de repetição duma "ideia assassina" (de carácter) consegue-se produzir alguns efeitos na sociedade, foi isso que o comentador pretendeu ao designar como designou o PM em funções. Mas mais: naquele chico-esperto estão muitas sub-categorias sociais escondidas que representam comportamentos e actos ilícitos que são criminalizados pelos códigos vigentes, embora se considere que comprar ao melhor preço de mercado não entre nessa categorização.
Mas o que impressiona em Marcelo é, de facto, a sua grande fluência e articulação, ainda que não apresente nenhuma reflexão que mereça ser meditada ou ostente um pensamento mais elaborado. Tudo aquilo decorre duma maneira ilusória de sistematizar, de expor que, de resto, está em linha com o pensamento moderno das luzes, da racionalidade, da expressividade a que a própria constituição das ciências humanas estão expostas.
Mas o recurso repetitivo de marcelo à figura do chico-esperto teve três grandes objectivos no quadro da sua racionalidade política-analítica. Vejamos sumariamente cada um deles:
- 1. Deslocar o sentido das causas materiais de um facto (aquisição de casa) para um lugar da ilicitude - colando no visado uma aura de corrupto e, por esse expediente discursivo (com elevada sugestão), criar um reflexo falseado na sociedade mediante a fórmula relativamente passiva do "chico-esperto" para animar a intriga social em que Marcelo há muito se especializou;
- 2. Deslocar em direcção às estruturas psíquicas insconscientes dos portugueses a ideia de que têm um PM vigarista, e por essa via antagonizar a vontade do eleitorado com o desejo de Sócrates ser novamente eleito. O psiquismo de Marcelo vai a este ponto: pérfido. O que não conseguiu na política, executa na análise;
- 3. Deslocar em direcção à natureza discursiva do psd de que com Ferreira Leite não existem chico-espertos, mas apenas gente virtuosa, anjos que pairam acima dos homens. E talvez por isso o Bairro da Lapa devesse mudar de nome, para o Bairro dos Anjos - ou mesmo Bairro do Amor, para retomar uma letra e música bonitas de Jorge Palma.
Já se percebeu que Marcelo não sendo um conhecedor do sistema de signos de que a linguagem é portadora, não é parvo e sabe utilizar as palavras para as transformar em calhaus e, assim, partir a espinha e a cabeça a muita gente. É o que o comentador tem feito ao longo de 30 anos de análise. Com virtudes, seguramente, mas também com imensos defeitos, como aqui sinalizamos. Em França Marcelo seria banalisado, mas Portugal ainda é pequeno e paroquial, por isso ocupa um lugar especial neste mundinho da análise e do comentário político.
Só que é um "lugar especial" povoado de enxertos analíticos, travestidos duma linguagem aparentemente neutral e a-política mas cuja finalidade é, de facto, assassinar o carácter dos visados. Trata-se do PM, do ministro da Agricultura ou de qualquer outra personalidade que o comentador, por acção ou omissão, pretenda queimar na praça pública.
No fundo, esta arrumação conceptual, que revela que Marcelo não passa dum mito analítico dos anos 70 e que hoje pouco ou nada diz às gerações emergentes de investigadores, é também a prova provada de que o comentador se serve das suas análises para fazer combate político. O que é desleal na medida em que os visados não se podem defender no momento dos ataques.
Marcelo aparenta ser um sacerdote da análise mas, na realidade, ele é um grande frustrado da política, um guerreiro da análise cujos comentários dizem mais acerca da sua personalidade do que esclarecem a dos visados. E nesse sentido, o comentador é um "analista-iceberg" digno dum study-case pela psicanálise.
Ao esconder as suas verdadeiras motivações políticas (disfarçadas de análise objectiva e isenta) deixa entrever que o comentador tem um sério conflito de personalidade entre a sua dimensão de académico (sucedido) com a sua dimensão de político (frustrado). E isto não se resolve fazendo análise na tv, resolve-se no divã do psicanalista.
Resta saber é quem está disponível para...
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