terça-feira

António Cluny e a medalha do sindicalista zeloso

Para as pessoas que hoje têm 30/40 anos há certas caras que vão enjoando os portugueses, embora por razões distintas: Al berto João Jardim da Madeira, valentim Loureiro de Gondomar, Isaltino Morais de Oeiras, Felgueiras de Felgueiras e, claro, este sindicalista, ou melhor, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), António Cluny. É já uma figura presente na República, como aqueles móveis nas casas antigas. Por vezes a envolvente mudou, a estrada mudou, as pessoas são diferentes, os nomes das ruas e dos jardins e casas de banho públicas foram requalificadosa, mas Cluny é um resiliente, fica sempre. Sem nenhuma contrapartida para a sociedade e para o bem comum. Pois sempre que o Governo, seja PS ou PSD tomas medidas, faz reformas, subtrai privilégios e queima mordomias a uma casta tão estéril quanto improdutiva como é a da magistratura - que nem sequer as fugas de informação e violação ao segredo de justiça da sua própria casa são capazes de identificar e/ou controlar, o que até leva Pinto Monteiro a pedir ajuda ao chefe das Secretas, os écrans de tv são ocupados com aquela seráfica imagem de Cluny, quase sempre ameaçando o Estado das consequências das suas medidas. Portanto, a função-missão deste sindicalista no sistema político nacional é a de aparecer com a espada de damócles sobre a cabeça do Governo sempre que este pretende racionalizar o sistema de justiça em Portugal, que é lento, cego e injusto. Ingredientes que matam a actividade económica e minam qualquer energia nascente nas redes sociais. Cluny é, assim, a face da greve, a moral da greve, o gatilho sempre apontado ao ministro da Justiça, o arrasa-politicos, no fundo aquele que está sempre disposto a pôr os interesses corporativos acima do bem comum. Uma espécie de proto-sacristão-comunista da magistratura, copiando o estilo a Mário Nogueira da fenprof, para obrigar o Governo a recuar sempre que a magistratura espirra ou tem comichão na orelha - porque lhe querem uniformizar os direitos. Numa palavra: a função de Clunyus é instabilizar a área da Justiça ameaçando-a - directa ou indirectamente - com greves e outras formas de luta, como diria Mário Nogueira ou carvalho da Silva, ou Jerónimo de Sousa ou até mesmo Cunhal. Cluny não nasceu para olear a máquina da justiça e torná-la mais rápida e eficiente, mas para emperrar, para meter areia na engrenagem, para paralisar a justiça que em Portugal é o que sabemos: ocorre tarde e a más horas, muitas vezes quando os visados já faleceram. Sob a capa da independência económica e estatutária, o presidente vitalício desta pequena república de magistrados lá vai fazendo prevalecer os interesses corporativos em detrimento da verdadeira justiça. Não gosta de pressões, mas é sempre o primeiro a ameaçar que as vai fazer. Até quando o PM se lamentou de que o Freeport ocorre sempre em anos eleitorais, sua eminência Clunyus, sempre respaldado pela república dos juízes, apareceu logo a proclamar o dever do PM se redimir e fazer um mea culpa públicamente porque, parece, alguns magistrados sentiram-se ofendidos no ventre da sua honra. Lamentavelmente, esses mesmos magistrados já não nutrem semelhante sentimento quando os processos emperram, a justiça não se faz, quando se produzem más sentenças, etc, etc.
Não sei se o PR já pensou no nome deste sindicalista para lhe pendurar uma medalha no dia 10 de Junho, mas poderia, desde já, pensar no seu nome. Talvez para receber a medalha do sindicalista zeloso.