sexta-feira

Croniquetas da República

Deixamos aqui um traço impressivo da pobreza do pensamento de alguns dos nossos titulares de cargos políticos.
Começo pela srª Ferreira leite, que alí revela satisfação pela Jotinha laranja promover a colocação de cartazes (em Setúbal) de Sócrates com nariz de pinóquio. Revela o índice de criatividade de da srª Ferreira bem como aquilo que na vida lhe dá alegria (um longo e fálico nariz de Sócrates..., em que ela estará a pensar, afinal?!), e assim ela se associa à juventude estéril laranjinha. Além de revelar o grau zero da política - esta miserável satisfação - própria dos pobres de espírito - encerra um considerável grau de ignorância em assuntos económicos em que a sr Leite, em princípio, não deveria denunciar: é que hoje todas as economias europeias enfrentam falências, deslocalizações - algumas oportunistas e um crescente desemprego a que os comandos e os tradicionais controles políticos e administrativos dos Estados já não conseguem regular em tempo real. Leite deve ser daquelas pessoas que julga que Sócrates tem uma caixa de velocidades de baixo da cama na sua residência oficial em S. Bento, e que só por maldade este não carrega nos botões correctos para fazer crescer a economia nacional, estancar o desemprego, aumentar as exportações e o consumo interno e potencial a qualidade de vida dos portugueses. O que me preocupa em Leite nem sequer é ela ter mau gosto ou alinhar na campanha sórdida a Sócrates, mas a sua literal ignorância em assuntos económicos onde aquela se diz conhecedora. É por esse sistemático desconhecimento que aqui temos cunhado a srª Ferreira pela "chefe de divisão do economato" deste PsD. Sem ofensa para as chefes de divisão...
Cavaco Silva teve hoje uma oportunidade para explicitar o sentido da sua expressão: assuntos de Estado - envolvendo o PM. Optou por ser redundante e vazio e nada mais adiantar acerca da sua nebulosa expressão. Ou seja, se os media trouxerem a público mais informações comprometedoras para Sócrates, talvez cavaco clarifique e aperte o garrote à vítima; se, ao invés, as manchetes do semanário radioso - quase falido - nos continuar a inundar com sopas de cavalo cansado - Cavaco talvez um dia diga que se tratava dum assunto "do" Estado - na medida em que a função da Justiça - assim como a vigilância das fronteiras, integra uma das suas funções soberanas. É mais um tabú ao estilo do seu autor. Lamentável. É do golfo...
Alguém dizia que uma das razões que levaria alguém a ir para a política é ser-se claro e objectivo. Cavaco aposta no tabú, ainda julga que isso lhe dá votos ou o prestigia. Está enganado, conheço dezenas de pessoas que votaram nele e hoje jamais o fariam. E vão mais longe, até dizem que entre ele e o poeta Alegre - preferiam este, até apoiado pelo BE.
Como o sr. Prof. Cavaco vê, este tábuzinho não lhe rende nada politicamente. Antes pelo contrário.
Durão Barroso ocupa uma posição cimeira entre os homens mais influentes do mundo. Como cidadão português, confesso, fiquei satisfeito, e por vários motivos: agora já pode ajudar Portugal a sair da crise; ajudar este PSd a não confundir-se com o BE; a meter na cabeça algum tino a Santana Lopes, desde logo convencendo-o de que talvez a Figueira-da Foz seja mais condizente com o seu perfil; e, como bom maoista, também a convencer o intelectual decadente em que se tornou Pacheco Pereira em ser menos faccioso e sectário nas suas charlas televisivas. Se Durão conseguir realizar 1/3 destas tarefas - então eu até direi que ele será o homem mais influente no mundo. E até serei capaz de votar nele para um 2º mandato em Bruxelas... Votarei por correspondência, a partir de Belém.
O poeta Manuel Alegre continua a fazer má "poesia política". Explicito: concordo quando ele critica algum clientelismo em Portugal, quando critica o medo de A, B e C falarem porque - se o fizerem podem não ser promovidos. Isso é assim na academia, na empresa e na política. Conheço académicos corruptos e vingativos, empresários desonestos e políticos-charlatães. Há de tudo. Até blogueiros-mafiosos armados em moralistas. Sempre foi e sempre será, haverá sempre pessoas colocadas por amigos influentes que pouco mérito têm para os cargos que foram empossados. Seria interessante que o deputado Alegre na AR desencadeadasse um projecto-lei para regular e prevenir essas situações, e não ficar-se pela rama. Aqui Alegre faz-me lembrar João Cravinho (toca & foge)... Agora, só porque Santos Silva utilizou a expressão "malhar" - em sentido figurado - Alegre viu aí o pretexto ideal para desencadear as velhas lutinhas históricas, ao estilo do séc. XIX - para daí arrecadar algum capital-simbólico (além do anti-salazarismo - que já lá vai..). Em vão. O que o PS e o país desejariam ouvir de Alegre era que medidas e soluções ele tem ou propõe para melhorar os aspectos sociais e económicos na vida dos portugueses. Será que ele tem uma moção alternativa ao Congresso. Já se percebeu que Alegre só tem uma ideia-obsessão na cabeça: ir chantageando (e desgastando) o PS - até ao Verão - de modo a que este lhe prometa apoio a Belém ou lhe forneça uma coutada de alguns deputados dentro do próprio grupo parlamentar do PS (criando aí uma espécie de facção institucionalizada, um ninho dentro do ninho). Alegre funciona para o PS como uma espécie de deputado-do-queijo-limiano: tornar-se imprescindível e assim ir pedindo cada vez mesadas maiores. Uma coisa é criticar, outra é fazer jogadas lancinantes que só armas dão à oposição. Alegre não faz oposição política leal, dá facadinhas no seu próprio partido - engordando os outros. E a acompanhá-lo tem outro deputado-empresário dos moldes de Leiria - que detesta Sócrates - Henrique Neto - curiosamente da mesma geração, o que explica, em boa medida, o ódio que ambos têm em comum (é, obviamente, de estilo e geracional). Confesso que assim não sei quem é mais Big Brother: se o poeta Alegre se Augusto Santos Silva. Doravante, teremos todos de andar com um diccionário no bolso para o consultar antes de dizer qualquer coisinha. E aqui quem faz o papel de censor do regime é, precisamente, o poeta Alegre - que até parece um gigante ao pé do outro "pigméu" - que o arrumou com esta metáfora. Para sermos sérios, digamos que o problema de Alegre relativamente a Sócrates é exctamente igual ao de Ana Gomes, mais palavras para quê... Nada se aprende com estes aprendizes de políticos. Nem poesia... Este homem talvez me surpreendesse, talvez me ensinasse algo que ainda não sei, e como sei pouco por força de só ouvir banalidades daquelas pessoas alí de cima, talvez fosse fascinante o que este Ser tivesse para dizer ao mundo.
Talvez...
James Ingram & Michael McDonald - Yah Mo B There