quinta-feira

Quem vai ser a vítima do Caso Freeport? - pelo Jumento

Num dos meus primeiros comentários a propósito do Caso Freeport vaticinei que um dia destes alguém se lembraria de dizer que toda a trapalhada resultante das fugas planeadas ao segredo de justiça poderá ter sido uma manobra do próprio José Sócrates. Pelos resultados de uma sondagem feita para avaliar os estragos do Freeport começo a achar que tinha razão, o caso não fez muita gente mudar de opinião, há mesmo uma elevada percentagem de inquiridos que o considera uma manobra para tentar derrubar Sócrates. Aliás, a forma desesperada como foram lançadas sucessivas informações guardadas na manga revela que os autores da manobra entraram em desespero, os próprios jornais que alinharam entraram nalguma desorientação e foram em busca de novas informações, vasculhando na vida dos familiares directos de Sócrates.
Se houve uma manobra, como penso desde o princípio, é evidente que não só foi agendada para o ano eleitoral, como coincide com o período que antecede o PS. Só que Sócrates recuperou, nem sequer foi mais afectado do que sucedeu com o caso do professor mal educado, o caso do diploma ou o dos desenhos de construção civil. O eleitorado vai-se habituando e mesmo que um dia alguém prove que Sócrates roubou o cavalo de D. José na estátua equestre do Terreiro do Paço, em Lisboa, o PS arrisca-se a ter a maioria absoluta.
É evidente que a próxima sondagem eleitoral vai apontar para uma descida do PS e, muito provavelmente, o PSD nada ganhará, o que, aliás, tem sucedido em várias sondagens que foram feitas desde que Manuela Ferreira Leite lidera o partido. Mas na hora do voto é muito provável que muitos portugueses prefiram engolir Sócrates a digerir um sapo chamado Manuela Ferreira Leite. Hão-de haver alguns professores que preferiam ser governados pelo Kim Jong-Il, desde que isso resultasse na suspensão do estatuto e da avaliação, mas todos juntos não seriam suficientes para eleger o presidente da junta de algumas freguesias.
A grande vítima do caso Freeport pode muito bem vir a ser Manuela Ferreira Leite, aliás, isso foi evidente na última entrevista de Pedro Passos Coelho, enquanto o país deveria estar a questionar o futuro do primeiro-ministro acabou por ser o PSD a questionar a liderança de Manuela Ferreira Leite. Se alguém tentou dar um empurrão à líder do PSD pode muito bem ter-se enganado e acabou por a prejudicar.
Com a economia a enfrentar a maior crise desde 1975, o país vê um governo a desdobrar-se em acções para limitar os estragos provocado pela crise, enquanto Manuela Ferreira Leite optou por voltar à estratégia de clausura, na esperança de o caso Freeport conseguir os estragos que a sua estratégia não tem provocado. Manuela Ferreira Leite tem-se revelado um enorme erro de casting, e agora acaba por ficar prisioneira do caso Freeport, se optar pelo silêncio na esperança de serem as fugas ao segredo de justiça a fazer o serviço arrisca-se a perder protagonismo e a ser acusada de ter fugido perante a crise. Se sair para conquistar protagonismo pode ser apontada pelos que falam de cabala. Se Sócrates é suspeito porque um conjunto de factos bem conjugados insinuam que alguém ganhou com o negócio, também é verdade que desta manobra poderiam resultar igualmente benefícios indevidos para o PSD. Mesmo sem carta rogatória da polícia inglesa este partido ficou sob suspeita e é isso que justifica a preocupação de muitos dos seus dirigentes em falar de vitimização.
Mais uma vez Manuela Ferreira Leite falhou, o seu recolhimento e silêncio são mais próprios de um político oportunista, não esteve à altura das circunstâncias, se não fosse Morais Sarmento nenhuma personalidade do PSD teria criticado algo que era criticável. Entre beneficiar de uma jogada suja e demarcar-se dela denunciando-a, ganhando espaço de manobra para depois questionar Sócrates, a líder do PSD optou pela estratégia oportunista. Enquanto isso, o guru Pacheo Pereira denunciou o oportunismo da estratégia da liderança do PSD ao lançar insinuações no programa Quadratura do Círculo.
Se Sócrates for inocente o tempo e as investigações jogam a seu favor, Manuela Ferreira Leite arrisca-se a ser a grande vítima do Caso Freeport.
Obs: Divulgue-se por todas as Agências financeiras - nacionais e internacionais. Na esperança de que talvez a Standard & Poors veja aqui uma boa razão para elevar o rating da República. Porque na oposição - a aplicação desse critério - apenas agrava o défice.