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Alegre «dificilmente» concorrerá às legislativas pelo PS

Alegre «dificilmente» concorrerá às legislativas pelo PS Hoje às 00:31
Manuel Alegre considerou que «dificilmente» integrará as listas do PS nas eleições legislativas. No programa Discurso Directo, o deputado socialista considerou ainda que tem feito mais oposição ao PS do que o PSD.
Manuel Alegre diz que «difilcilmente» concorrerá às próximas legislativas pelo PS
Manuel Alegre diz que «difilcilmente» concorrerá às próximas legislativas pelo PSManuel Alegre fala nos «tiques» das maiorias absolutasManuel Alegre considera que PSD é um partido muito divididoManuel Alegre entende que sindicatos já não representam professores.
Manuel Alegre revelou que «dificilmente» integrará as listas do PS para as próximas eleições legislativas e que está em reflexão ao seu partido que representa no Parlamento há 33 anos.
Em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, o parlamentar socialista frisou que não tem «nenhuma solução milagreira no bolso», mas tem uma «responsabilidade cívica perante os que confiaram» em si.
«Não posso envolver-me numa campanha eleitoral se não estiver de acordo com o programa político nem com as políticas nem posso apoiar pessoas que nada tem a ver comigo no partido e no Governo», explicou no programa Discurso Directo.
Sobre a sua relação com José Sócrates, Alegre classificou de «boa» a nível pessoal, mas admitiu que está a ser «tensa» a nível político, como está a ser agora com a questão da avaliação dos professores.
O deputado, que criticou os «tiques» das maiorias absolutas, assumiu ainda que tem feito mais oposição ao PS do que o próprio PSD e considera mesmo que os dois maiores partidos portugueses não existem politicamente.
Alegre considerou que as maiorias absolutas não são «anti-democráticas», mas lembrou aquilo que aconteceu com as maiorias absolutas do PSD e as críticas feitas então a Cavaco Silva, semelhantes às já feitas ao PS.
O parlamentar socialista entende ainda que o PS se confunde com o Governo e é uma «máquina eleitoral e uma máquina de poder, que deixou de ter uma vida própria e autónoma». Manuel Alegre considerou ainda que o PSD «vive ainda muito do poder e tem tido um problema de liderança, pois não tem uma ideologia clara, que foi a sua fraqueza e força» e que estes «estão muito divididos».
Nesta entrevista, o parlamentar do PS aconselhou o primeiro-ministro a ouvir os professores relativamente à sua contestação ligada à avaliação dos docentes, mas sem os sindicatos.
«Pergunto-me se estes sindicatos representam os professores. Acho que este movimento de professores já ultrapassa largamente os sindicatos», acrescentou.
Quando questionado sobre a forma como o Governo deve negociar directamente com os professores, Alegre lembrou que «esse é o problema da mediação».
«Sem pôr em causa o papel dos sindicatos, tenho dúvidas se há uma sintonia perfeita entre o conjunto dos professores e os sindicatos», concluiu

Obs: Manuel Alegre é a vox do sonho na política, da utopia e do romantismo na política.

Infelizmente, todos esses valores, mercê das alterações societais emergentes, deixam pouco espaço para esse romantismo que tecerem as linhas que cozeram o seu tempo, e o de Mário Soares e o de tantos outros, como Salgado Zenha, S. Mayor Cardia e outros que lançaram as estacas do regime democrático em Portugal.
Contudo, sublinharia algumas notas da entrevista de Alegre que não foram aqui repescadas pela súmula da tsf, mas transcorrem no decurso da entrevista:
1. Alegre é contra o Bloco central - revelando a coerência da sua atitude e pensamento
2. Alegre grita contra uma certa confiscação da democracia por parte de actores que andam por aí, transitando do mundo da política para o meio dos negócios, fazendo aquilo que Alegre designou de "contaminação da democracia". Aqui deveria ter nomeado essas pessoas e não ter ficado apenas pelo princípio geral.
3. Criticou, e bem, a dualidade do comportamento do PR relativamente à Madeira, onde o regular funcionamento das instituições foi posto em causa, e Cavaco apenas se manifestou nos bastidores, o que contrastou com a sua postura agressiva em matéria de Estatuto dos Açores, em que acordou o País a 31 de Julho. Quando o que ele deveria ter feito era enviar o diplomada para o TC.
Por todas estas razões, Alegre diz que não vota em Sócrates por causa dos apoiantes que ele tem, leia-se os "caciques" do partido com os quais ele não se identifica.
No fundo, isto existe em todos os partidos, e quer o PS como o PSD são ambos máquinas de poder, logo que trituram ou podem triturar algumas vozes da diferença. O PSD mais..., porque tem triturado cada um dos seus líderes a uma cadência alucinante. Basta pensarmos que só na última meia dúzia de anos o PSD já teve mais líderes do que nos últimas 30 anos. O que é sintomático da profunda divisão interna em que hoje se encontra o partido da Lapa.
Concorde-se ou não com Alegre é bom haver pessoas assim que representam ainda o tal romantismo perdido na política do séc. XXI. Ainda que Alegre não seja consequente politicamente, vq, já não será candidato a Belém, não será candidato a deputado, não será candidato a PM nem a ministro nem a secretário de Estado - nem a coisa nenhuma.. Só à prosa e à poesia e ao empenhamento cívico.
Então o que fará correr Alegre? Neste contexto, creio que será o seu empenhamento e responsabilidade cívica, e isso é de louvar. Mas essa responsabilidade cívica - regra geral - é ou deveria ser acompanhada de ideias e de projectos coadjuvantes da governação (até pela sua filiação política de valor histórico), nas mais diversas áreas, até ao nível da Educação - que hoje o afasta do PS e do Governo.
Ora, a nosso ver, é aqui, dado o vazio de ideias, que Alegre falha rotundamente na sua intervenção política e cívica, posto que ele representa bem - no plano simbólico - a utopia, o sonho e o romantismo na política, como acima referimos, mas depois falha estrondosamente na racionalização de um conjunto de medidas que essa utopia deveria comportar.
Alegre, ao ficar-se apenas pela representação simbólica duma certa forma de fazer política, acaba por falhar naquilo que é essencial em política: apresentar ideias e projectos que a sociedade possa implementar em benefício do bem comum, como diria Aristóteles.
No fundo, Alegre revela aquilo que sempre foi: um poeta e um escritor. E só muito raramente estas pessoas (sabem) fazer política com êxito.