sábado

Sindicatos de acordo com sugestão de António Vitorino de avaliação experimental dos professores. As memórias do Sr. Scargil

O ESPELHO RETROVISOR DA HISTÓRIA
Regressemos a Março do corrente. Por vezes é preciso olhar pelo espelho retrovisor da história para progredir com sucesso. Ou, como diria Nicolau Maquiavel, em ordem a conhecermos o futuro temos de conhecer o passado. Daí a necessidade do espelho. E no espelho não se deve apenas reflectir o Governo, mas, e sobretudo, algum radicalismo sindicalista apostado em algo mais que não tem directamente relação com os profes nem com os alunos. Há, portanto, que recentrar e fixar as imagens (do governo, dos sindicatos e da comunidade escolar) em ordem encontrar a melhor imagem 8e conteúdo)para a Educação em Portugal.
Os sindicatos dos professores elogiaram hoje a sugestão do dirigente socialista António Vitorino para que o Governo adopte um modelo experimental de avaliação dos professores, como forma de resolver o impasse entre docentes e o Ministério da Educação.
No seu programa de comentário político Falar Claro na RTP, António Vitorino disse ontem que o Governo deve aceitar que a aplicação do novo modelo de avaliação seja “aferida” ao longo do tempo e não concretizado “instantaneamente”.
Mário Nogueira, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), disse hoje à Lusa que se trata de uma proposta “razoável” e “ponderada” que vai ao encontro do que a Federação tem dito.
“Trata-se de uma proposta de quem sabe e percebe que há coisas que têm de ser graduais, num processo complexo”, como o da avaliação, comentou Mário Nogueira.
João Dias da Silva, dirigente da Federação Nacional da Educação (FNE), considerou a sugestão “sensata” e “contraditória em relação à imposição do Governo em aplicar o modelo de avaliação apressadamente”.
Contactada pela Lusa, fonte do Ministério da Educação disse não haver reacção de momento à proposta de António Vitorino.
“Não são só as oposições” que contestam
De acordo com Mário Nogueira, a entrada em vigor de um modelo de avaliação sem que seja experimentado e corrigido para ser melhorado seria uma posição “aventureira” e “irresponsável”.
Na opinião deste sindicalista, o Governo devia ouvir as posições do próprio partido e “perceber que não são só as oposições” que contestam a forma como o Ministério da Educação quer aplicar o modelo de avaliação.
Também João Dias da Silva, da FNE, considera que a “ideia de fazer a avaliação de forma experimental e simplificada pode ajudar a definir os aspectos negativos e a corrigi-los”.
“Há um conjunto de aspectos que devem ser simplificados” e tal só poderá acontecer quando se começar a testar o modelo de avaliação, adiantou.
fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1322206&idCanal=58 ~
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António Vitorino atento ao trajecto e às lições de vida do Sr. Scargill. E quem é Scargill?!
Valerá a pena saber, sobretudo no actual estado da arte...
by - Michael Crick -
Between 1971 and the present day the NUM changed radically. Prior to that there had not been a single national miners' strike since 1926, and for decades the union had been dominated by the Right. The catalyst was a young face worker from Yorkshire who almost single-handedly masterminded a programme of political awareness and union militancy. One of the bitterest ever, the latest national strike could be said to be a brilliant example of his organisational strategic tactics. Michael Crick has written a clear, sane appraisal of Scargill the man, his background, politics and the objectives, and of the union he has so dramatically brought to the forefront of national life.
O SUBLINHADO É NOSSO.
As memórias do sr. Scargill, por António Vitorino -
DN, 3 Nov. 2006
A conflitualidade social faz parte integrante das sociedades democráticas. Mais ainda quando estão em causa reformas que afectam situações consolidadas ou expectativas geradas ao longo do tempo. Vem isto a propósito das referências feitas por vários comentadores ao relacionamento do actual Governo com o movimento sindical em geral e com os sindicatos dos professores em particular. A crer nesses comentários, um elevado índice de tensão entre o poder político e as estruturas sindicais constituiria apanágio de um "governo de direita", sendo, por definição, menos conflitual a relação que se estabeleceria quando a esquerda está no poder. (link)
Esta tese não tem exactamente uma demonstração histórica irrefutável.
Basta recordar os tempos em que os governos do PS, então liderados por Mário Soares, enfrentaram uma contestação muito acesa por parte dos sindicatos da CGTP.
Tal como basta recordar que durante vários anos as relações do Governo do Partido Socialista Operário Espanhol (para não ir mais longe), então liderado por Felipe González, com as centrais sindicais (inclusive a de inspiração socialista - a UGT) foram particularmente conflituosas, com reflexos mesmo nos alinhamentos internos no respectivo partido.
Esses períodos de conflito muito vivo foram ultrapassados com o decurso do tempo, com a prossecução das reformas (que, no caso espanhol, desembocou mesmo num Pacto da Moncloa assinado por patrões e sindicatos com o Governo) e com a superveniente alteração das circunstâncias políticas.
Mas se quisermos escolher um exemplo de uma estratégia deliberada de afrontamento com os sindicatos, não apenas centrada no plano de uma luta reivindicativa, mas como mais amplo "jogo de poder", então teremos de ir à década de 80, ao Reino Unido, e recordar o conflito que opôs a então primeira-ministra Margareth Tatcher ao sindicato dos mineiros, liderado pelo célebre Arthur Scargill. Aí sim, encontraremos um exemplo de escola de uma estratégia política que visava "partir a espinha aos sindicatos", com base numa leitura ideológica e de uma acção de confinamento do poder sindical. A vitória do Governo inglês sobre a estratégia radicalizante dos sindicatos viria a abrir caminho para as políticas liberais dos sucessivos governos conservadores e viria também a criar as condições para que, dentro do próprio Partido Trabalhista britânico, a Confederação dos Sindicatos (TUC) perdesse terreno e peso político (através da abolição do sindicato de voto de que dispunha no Congresso do Labour que lhe permitia determinar a escolha do próprio líder do partido).
Se analisarmos o discurso do actual Governo e o significado dos sucessivos afrontamentos com o movimento sindical, não será difícil perceber em qual destas duas tradições se insere o tipo de conflitos sociais actuais.
Embora importe reconhecer que a linha que separa o confronto em torno de reformas em concreto de uma demarcação de campos mais profunda, geradora de roturas com efeitos a mais longo prazo, seja por vezes bastante fina.
A transposição dessa linha e a passagem do primeiro para o segundo tipo de confrontação não pode, contudo, ser determinada apenas por um dos campos em presença e, para mim, é evidente que o Governo do PS nunca a ultrapassará.
Mas o risco de o mero confronto sindical em torno de reformas em concreto passar para um plano essencialmente de combate político, de que poderia resultar, como alguns receiam, o desmantelamento do movimento sindical, só se poderia produzir se os sindicatos consentissem na sua instrumentalização partidária, e assim cometessem o erro de optar pela via da radicalização inconsequente.
Por radicalização inconsequente refiro-me à assunção, como postura política, de uma posição intransigente de imobilismo, de rejeição pura e simples da necessidade de reformar o nosso Estado social e de defesa do status quo porque... sim! Um pouco ao estilo "há reforma?... sou contra!".
Assim se coloca o dilema sindical hoje: negar a necessidade de reformas para defender situações adquiridas, ou pretender fazer valer os seus argumentos sobre o conteúdo das reformas, embora aceitando o princípio da sua necessidade. Este dilema só se resolve consoante se dê prevalência apenas à responsabilidade dos sindicatos perante os seus filiados ou à sua responsabilidade perante o conjunto da sociedade enquanto parceiros sociais, que é a melhor forma de defender os interesses legítimos dos seus próprios filiados.
A escolha por um ou outro dos caminhos acabará por ter efeitos muito concretos sobre as suas próprias lutas e reivindicações no curto prazo, mas também sobre o rumo do País e o modelo de relações sociais do futuro.
Se duvidam leiam atentamente as memórias do sr. Scargill.